Cristina Del'sola lamenta a
possibilidade de um dos assassinos da filha ser beneficiado pela progressão de
regime, do fechado para o semiaberto. Para ela, caso serve de exemplo para que
"outras Marias não se tornem vítimas nas mãos dele"
“Eu não quero vingança, eu apenas não
quero que nenhuma outra mãe seja alvejada como a minha família foi”. Assim
reagiu Cristina Del’Isola, mãe da jovem Maria Cláudia Del’Isola, ao avaliar a
possibilidade de concessão de um benefício àquele que assassinou a filha dela,
em 2004. No último dia 12, o ex-caseiro da família da vítima Bernardino do
Espírito Santo Filho obteve a progressão de pena em regime fechado para
semiaberto. Ele ainda não saiu às ruas porque aguarda exames psicológicos que
possam atestar a condição de reintegração. “O perfil dele é de psicopata. A
minha necessidade é sensibilizar as autoridades à frente dessa decisão para que
outras Marias não se tornem vítimas nas mãos dele”, argumenta Cristina (leia
Depoimento).
Ao tomar conhecimento da decisão na
segunda-feira, Cristina, presidente do Movimento Maria Cláudia, preferiu silenciar.
Mas a situação fez com que a mãe relembrasse toda a tristeza provocada por um
dos crimes mais bárbaros da história de Brasília. Em 9 de dezembro,
completaram-se 12 anos do homicídio. Bernardino e a então namorada, a empregada
doméstica da casa, Adriana de Jesus Santos, foram condenados pelo assassinato.
Segundo a investigação, eles abordaram a garota quando ela saía de casa, no
Lago Sul, para a faculdade. A dupla imobilizou e agrediu Maria Cláudia, e,
depois, o homem a estuprou. O corpo dela foi encontrado três dias depois,
enterrado debaixo da escada da residência dos Del’Isola.
“Foram quase três anos de convivência
dele (Bernardino) com a família, e ele se mostrou dissimulado com todos. O que
quero lembrar neste momento é que perdi a minha filha de uma forma brutal e
monstruosa. O fato é que estamos diante de um assassino inescrupuloso. A minha
preocupação é saber que alguém com esse perfil pode, daqui a alguns dias, estar
empregado, convivendo com outras pessoas sem elas saberem o que aguardam ao
lado. O medo é da possibilidade de um novo crime”, afirma a mãe.
Dor
A Justiça sentenciou Bernardino a 65
anos de prisão em 2007. Mas, assim como Adriana, ele conseguiu reduzir a pena
para 52 anos. Contra o ex-caseiro também há uma condenação por tentativa de
homicídio e estupro contra uma adolescente de 13 anos, crime que ocorreu meses
antes da morte de Maria Cláudia. “Diante de tantos crimes, nunca imaginei que
ele poderia ser beneficiado pela Justiça”, lamenta Cristina.
Adriana também tenta o mesmo benefício
de Bernardino. Em novembro de 2015, ela apresentou proposta de emprego à
Justiça, mas ela foi vetada após exames atestarem transtornos psicológicos. A
possibilidade de progressão de regime do ex-caseiro só foi possível pelo fato
de que, à época do crime, a Lei de Execuções Penais previa que os presos com
bom comportamento poderiam ser beneficiados depois de cumprirem um sexto da
pena. No caso dele, no dia da decisão, ele havia cumprido aproximadamente 12
anos de reclusão. “A minha filha não voltará. Essa é a minha realidade, e eu
tenho de conviver com essa dor. Mas o que não quero para mim, eu não quero para
o próximo; por isso, peço que as autoridades sejam sensíveis e analisem bem o
que isso pode representar”, conclui a mãe de Maria Cláudia.
Depoimento - “Não posso me calar”
“Eu tomei conhecimento da decisão
(progressão de regime de pena para semiaberto) na segunda-feira, e foi por
acaso. Até então, eu não sabia e jamais passaria na minha cabeça que ele
pudesse ganhar algum benefício. Ainda mais que ele (Bernardino) também responde
por outro crime. Eu resolvi, primeiramente, me silenciar e respeitar o meu
próprio deserto. Estou ainda impactada com a decisão e um pouco decepcionada.
Eu não quero vingança. Quero lembrar que perdi a minha filha de uma forma
brutal e monstruosa. Não é vingança, eu apenas não quero que nenhuma outra mãe
seja alvejada como a minha família foi. O meu anseio é de responsabilidade de
cidadão. É meu dever lembrar que, com a soltura dele, há toda uma possibilidade
de expor outras mulheres, jovens e até crianças. Eu não posso me calar diante
disso e esperar que ele faça uma nova vítima.” - - (Cristina Del’Isola, mãe
de Maria Cláudia Del’Isola)
Por Thiago Soares – Correio Braziliense - Foto: Daniel Ferreira/CB/D.A.Press.