Muito reveladora a entrevista que Eike
Batista concedeu em Nova York, pouco antes de embarcar de volta ao Brasil,
falando com exclusividade ao repórter Henrique Gomes Batista, de O Globo, que
estava acompanhado pelo repórter cinematográfico Sherman Costa, do Fantástico.
Foram frases curtas e pausadas, mas de grande profundidade e clareza, que
indicam com precisão o caminho que Eike decidiu percorrer e que vai destruir o
que ainda resta dos ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, incriminando
também outros importantes agentes de corrupção, como o ex-governador Sérgio
Cabral e o economista Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES.
Eike estava aparentemente calmo,
parecia meio sedado, certamente estava sob efeito de algum tranquilizante,
porque na longa viagem até o Rio de Janeiro ele conseguiu dormir quase o tempo
inteiro, apesar dos gravíssimos problemas que enfrenta.
O repórter Henrique Gomes Batista se
preparou bastante para a entrevista, fez questionamentos importantes e
necessários, mas sempre respeitando o entrevistado, o cinegrafista do
Fantástico participou de forma ativa, também fazendo perguntas. E o resultado
foi retumbante, porque não deixou margem a dúvidas.
QUER FAZER DELAÇÃO – Ficou absolutamente
claro que o empresário pretende reivindicar o direito à delação premiada. E vai
conseguir, porque sua situação se enquadra perfeitamente nos pré-requisitos que
o juiz Moro exige: “Faz-se um acordo com um criminoso pequeno para
obter prova contra o grande criminoso ou com um grande criminoso para lograr
prova contra vários outros grandes criminosos”, diz o magistrado.
Como Eike só vai
entregar peixes graúdos, é claro que seu pedido de acordo com a força-tarefa
será facilmente aceito, e ele começou se posicionando de uma forma muito hábil.
“A Lava Jato está passando o Brasil a limpo de uma maneira
fantástica. Eu digo que o Brasil que está nascendo agora vai ser diferente, tá
certo? Porque você vai pedir suas licenças (para obras), vai passar pelos procedimentos normais, transparentes, e se você
for melhor, você ganhou e acabou a história, né?”
VÍTIMAS DA CORRUPÇÃO – Sua
estratégia de defesa, orientada pelos advogados Sérgio Bermudes e Alexandre
Sigmaringa Seixas, é inteiramente adequada à situação, ao defender a tese de
que os empresários são vítimas do sistema de corrupção montado no país:
“As regras têm que ser claras e
transparentes, e o que está acontecendo vai permitir que o Brasil seja um país
em que todo mundo vai querer investir. Por isso está passando essa fase
difícil, mas na frente todo mundo vai dar uma nota diferente para o Brasil em
termos de transparência”, disse Eike, que acha a Operação
Lava-Jato “espetacular” e quer colaborar: “Eu estou à disposição da
Justiça, como um brasileiro cumprindo o meu dever. Estou voltando, essa é a
minha obrigação.”
A tese é interessante. Na verdade,
todos os envolvidos se beneficiam com os esquemas, porém é óbvio que as
negociatas só existem porque os políticos são corruptos. Se não fossem, não
haveria maracutaias, como Lula gosta (ou gostava) de dizer.
DOIS ESQUEMAS – Em seus
depoimentos, Eike vai desmontar dois esquemas de corrupção – o estadual,
comandado por Sérgio Cabral, e o federal, institucionalizado por José Dirceu e
Lula da Silva, com prosseguimento nas gestões de Dilma Rousseff. E desta vez
não vai adiantar Dilma dizer que não sabia de nada, porque se trata de ação
governamental que envolvia diversos protagonistas nos dois governos do PT –
Ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, BNDES, Banco do Brasil, Caixa
Econômica, Petrobras e outros órgãos públicos.
Detalhe importante: a prisão de
Eike foi festejada no Planalto. O ministro Eliseu Padilha e sua entourage
comemoraram para valer. Como se sabe, a assessoria foi toda nomeada por
Padilha. Na realidade, Temer só conta com Moreira Franco, que não tem status de
ministro, e com o falso porta-voz Alexandre Parola, que não sabe se impor e foi
facilmente subjugado por Padilha.
De toda forma, apesar da terrível
disputa interna que está ocorrendo entre os grupos de Temer e Padilha, não há
dúvida de que, com a manutenção do sigilo na delação da Odebrecht, garantido
equivocadamente pela ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo, o Planalto
ganhou tempo para tocar o barco enquanto for possível, porque la nave va, cada
vez mais fellinianamente.
***
NOTA
DA REDAÇÃO DO BLOG – Eike Batista é um dos personagens mais interessantes do Brasil
contemporâneo. A autobiografia que lançou há alguns anos foi uma grande
conversa fiada. É preciso que se escreva um livro de verdade sobre ele, que
teve e tem uma vida que mais parece um roteiro de Hollywood. (C.N.)
Por Carlos Newton – Tribuna da Internet