Wander é gerente de hortifrúti que aumentou a loja,
contratou e ampliou os serviços com acrise
Enquanto micro e pequenas empresas do DF reduzem em
número e tamanho, outros empresários apostam no momento difícil para expandir
os negócios e encontrar novos caminhos de ganhar dinheiro
*Por: Flávia Maia,
Sylvana mudou de ramo quando o primeiro
empreendimento não deu certo
Por dia, 13 micro e pequenas empresas fecham as
portas no Distrito Federal. Entre 2016 e 2017, 5.153 encerraram as atividades,
despediram os trabalhadores e pararam de girar a economia local. Responsável
por 92,9% dos negócios da capital do país, a situação preocupa o setor
produtivo e o governo. Sem a força dos pequenos, a circulação de dinheiro
estanca, a arrecadação tributária cai e, principalmente, o número de
desempregados não para de crescer — já são 302 mil, o que corresponde a cerca
18,5% da mão de obra. Os setores de papelaria e livraria, ótica, eventos,
ferragens e ferramentas, autopeças e cosméticos são os mais atingidos, segundo
dados do Sebrae do DF e da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
A crise financeira e política vivida pelo país impactou diretamente o
Distrito Federal. A inflação alta, o superendividamento das famílias e a falta
de crédito pessoal reduziram a confiança do consumidor, que se afastou das
compras. A crise dos estados também contribuiu, ainda mais pelo fato de o DF
ser uma unidade federativa onde a administração pública tem um importante peso.
Sem dinheiro em caixa, medidas de austeridade, como aumento de impostos e
cortes nos gastos públicos, tiveram que ser tomadas. “A suspensão dos reajustes
dos servidores, de contratos e de pagamento de fornecedores tiveram um papel
decisivo para agravar a situação”, alerta Adelmir Santana, presidente da
Federação do Comércio do DF (Fecomércio).
Na
opinião de Antônio Valdir Oliveira Filho, superintendente do Sebrae-DF, a crise
no período de 2015 e 2016 está mais grave por aqui do que a de 2008, já que a
mais recente atingiu o bolso do servidor público. “A economia local sempre
contou com esse consumidor diferenciado, que é o funcionário público, que tem
estabilidade. Entretanto, em 2016, a crise também atingiu esse cliente”,
acredita.
Oportunidade x necessidade
Oportunidade x necessidade
O desaquecimento da economia, somado ao desemprego, está mudando a curva
positiva do empreendedorismo na capital do país. Até 2014, os chamados
empreendedores por oportunidade — aqueles que veem um diferencial de mercado e
optam por abrir um negócio — cresciam e chegaram a somar 71% dos potenciais
empresários locais. Em 2015, porém, com o agravamento da crise, eles reduziram para
56%. Em contrapartida, o conhecido empreendedorismo por necessidade aumentou de
29% para 44%, em apenas 12 meses. Por definição, esse negócio está relacionado
mais à sobrevivência do que a uma aposta em um produto ou serviço diferencial.
Para Valdir, essa inversão do tipo de empreendedorismo é natural em períodos de
crise. “Primeiro vem o desemprego, depois, a necessidade; por fim, o empreender
por causa dessa realidade.”
Na
análise de Kleber Pina, consultor e professor de gestão de marketing do Ibmec,
a mudança de perfil no empreendedorismo preocupa e mostra a extensão da crise
nos pequenos negócios. “O empreendedorismo por oportunidade é saudável. O
empresário vê uma chance de mercado e vai atendê-la. Já o por necessidade age,
muitas vezes, pela obrigação de ter que sobreviver e nem sempre essa pessoa tem
perfil empresarial. Com isso, ele vai chegar ao mercado com lacunas e até com
decisões erradas, o que pode contribuir para a empresa ter um curto período de
existência”, analisa.
Sem medo de arriscar
Os especialistas são unânimes ao apontar que a crise pode se transformar
em um cenário desafiador. Essa foi a aposta do Horti-Mais, localizado na Asa
Sul. Enquanto vários estabelecimentos optavam por reduzir espaço, gastos e
funcionários, o hortifrúti resolveu crescer. Em uma folha de papel, o
gerente-geral do estabelecimento, Wander Ferreira, 58 anos, explica a opção:
primeiro, ele escreveu “crise”, em seguida, riscou o “s”, para evidenciar que a
inovação é essencial para se manter no mercado. “Muita gente me chamou de doido
porque nós praticamente dobramos a loja. Mas era preciso ter novos clientes,
novas plataformas, novos consumidores”, comenta.
De 2015 para 2016, a loja aumentou de 350 m² para 890 m². A equipe foi reforçada e passou de 50 funcionários para mais de 100. A parte de mercearia, assim como a quantidade de serviços oferecidos cresceu, e a loja, que antes era focada em frutas e verduras, passou a servir refeições como pizzas, sushis, caldos e panificação. A entrada no e-commerce e a aposta em produtos diferenciados, como os para intolerantes a determinados tipos de alimentação, também ajudaram no bom desempenho. “Nosso faturamento nunca caiu, tanto que estou adiantado no tempo que eu tinha previsto para o retorno do investimento”, comemora Wander.
De 2015 para 2016, a loja aumentou de 350 m² para 890 m². A equipe foi reforçada e passou de 50 funcionários para mais de 100. A parte de mercearia, assim como a quantidade de serviços oferecidos cresceu, e a loja, que antes era focada em frutas e verduras, passou a servir refeições como pizzas, sushis, caldos e panificação. A entrada no e-commerce e a aposta em produtos diferenciados, como os para intolerantes a determinados tipos de alimentação, também ajudaram no bom desempenho. “Nosso faturamento nunca caiu, tanto que estou adiantado no tempo que eu tinha previsto para o retorno do investimento”, comemora Wander.
(*) Flávia Maia – Fotos: Luis Nova-Esp/CB/D.A.Press – Carlos
Vieira/CB/D.A.Press - Correio Braziliense