De todos os elementos que, de
alguma forma, concorreram para o surgimento da crise hídrica que agora assola o
Distrito Federal, o mais importante foi, sem dúvida, a falta de planejamento e
de estudos prévios e detalhados, capazes de estabelecer estratégias confiáveis
de longo prazo, de modo a minimizar seus efeitos para a população. Como o
próprio dicionário orienta, o planejamento é a ferramenta racional de que
dispõe a área administrativa para antever questões futuras, de modo a antecipar
soluções. Aliás, esse é um dos atributos que diferem os seres racionais dos
irracionais.
Não fosse pela capacidade de se projetar no tempo, antecipando problemas
futuros, possivelmente a raça humana não teria sobrevivido ao meio ambiente
hostil à sua volta. A movimentação atrapalhada a que os brasilienses assistem
agora nas ações do governo se assemelha ao que ocorre num formigueiro,
surpreendido com a investida abrupta de um tamanduá faminto. Apanhado de calças
curtas com as proporções adquiridas pela crise, o GDF se vê agora completamente
absorvido pelos efeitos da escassez de água potável.
Trata-se, obviamente, de problema que demanda soluções estruturais
complexas e de longo prazo e só teria bom termo se fossem seguidas à risca e
sem interrupções por diversas administrações. E é aqui que mora a questão. Cada
novo governo quer ter uma agenda totalmente singular e própria e não são raros
os que engavetam obras deixadas por administrações passadas, mesmo as
consideradas vitais para a cidade.
Falar em captar as águas do Lago Paranoá, sabidamente poluído e com
outra função no contexto da capital, é se ater apenas às consequências da crise
pelo lado mais urgente. Aliados à carência no planejamento, os governos do DF,
ao longo dos anos, por motivos que fogem à razão e à ética, vêm
sistematicamente elegendo como prioridade obras e programas reconhecidamente
desnecessários e dispendiosos.
De outra forma, como explicar a construção de um gigantesco estádio de
futebol, verdadeiro elefante branco, onde foi enterrado R$ 1,8 bilhão do
dinheiro suado dos contribuintes? Como explicar também que o GDF tenha se
lançado na aventura mal-explicada de um inoperante e imenso centro
administrativo, onde outros bilhões de reais foram irresponsavelmente
sepultados para sempre?
De irracionalidade em irracionalidade, vamos construindo uma escada
descendente rumo ao abismo. Ao eleger gastos astronômicos que não acenam para
as reais necessidades futuras da sociedade, o que os governantes daqui e de
todo o Brasil têm conseguido de fato é comprometer a qualidade de vida das
novas gerações, conduzindo as cidades para o beco sem saída da decadência e do
caos.
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A frase que foi pronunciada
“Reafirmo meu compromisso constante de luta pelos
ideais democráticos. Minha atuação será com imparcialidade, coragem, dedicação
e sincero amor à causa pública.”
(Alexandre de Moraes, durante sabatina no Senado)
Por Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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