Imagem mostra o
percurso feito pela aeronave após atingir o pássaro e retornar ao terminal
aéreo de Brasília
Por Luiz Calcagno,
Uma aeronave da Latam Airlines que
seguia ontem de Brasília para São Paulo teve de retornar ao Aeroporto
Internacional Juscelino Kubitschek após atingir um carcará. O incidente
aconteceu com o Voo JJ3101, que decolou por volta das 8h10 em direção a
Congonhas, em São Paulo. Às 8h32, pousou novamente no terminal brasiliense.
Ninguém se feriu, mas alguns passageiros se assustaram quando o piloto disse
que precisaria retornar à capital. De acordo com a nota divulgada pela
assessoria de Comunicação da empresa aérea, a colisão com a ave ocorreu nas
proximidades do aeroporto. O avião foi trocado para passar por uma vistoria, e
os passageiros seguiram viagem em outro voo, às 9h54. “A companhia reitera que
a segurança é um valor imprescindível e, sobretudo, todas as suas decisões
visam garantir uma operação segura”, informou.
Na visão
do tenente-coronel Henrique Rubens Balta de Oliveira, assessor de Risco de
Fauna do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa),
o procedimento adotado pelo piloto foi correto. Ele destacou que a colisão com
aves é o incidente mais repetitivo da aviação mundial, mas “grande parte das
colisões não termina em acidentes”. “O piloto bateu no carcará quando estava no
que chamamos de velocidade de rotação. Já tinha passado da velocidade de
decisão. Se ele tentasse parar, poderia sair da pista, causar algum acidente.
Ele percebeu que a ave atingiu o motor por conta da vibração. Preferiu decolar
e retornar, pois não poderia arriscar perder um motor no meio do caminho para
Congonhas. Além disso, a pista aqui é maior”, detalhou.
A Latam
reforçou que o choque não representou riscos. Acrescentou que atualiza as
estatísticas de colisões com pássaros nos terminais em que atua e “emite
boletins com orientações específicas aos comandantes antes de cada decolagem”.
A finalidade é orientar o piloto sobre as incidências em cada localidade e
mantê-lo alerta para aglomerados de aves, interrompendo a decolagem caso
necessário. Técnicos da companhia também enviam ao Centro de Investigação e
Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) vestígios de animais colhidos em
aeronaves.
Em 2016,
a Latam registrou cerca de 240 ocorrências de colisões com pássaros. Segundo a
empresa, a quantidade representa menos de um caso a cada mil decolagens. “Todo
tráfego aéreo está sujeito a ocorrências de colisão com aves”, resumiu,
concluindo que as aeronaves modernas têm tecnologia para prever ao menos parte
dos impactos e a capacidade de resistir à maioria dos incidentes.
Em 2015,
mais de três aeronaves colidiram com aves nos céus da capital federal. Os dados
são do Anuário de Risco de Fauna do Cenipa. No total, foram 42 registros. O
órgão contabilizou outras cinco quase-colisões no DF, em que a tripulação
precisou desviar para não bater no animal, além de, pelo menos, 20 avistamentos
próximos.
Espécies
As decolagens
e os pousos concentram o total de impactos. Foram, respectivamente, 508 e 666
há dois anos. O aeroporto campeão em colisões no país é o Salgado Filho, em
Porto Alegre. Segundo o levantamento do Cenipa, houve 145 ocorrências em 2015.
O maior número de avistamentos fica com São Paulo, com um total de 240
situações. As espécies de aves mais atingidas por aeronaves são quero-quero,
carcará e urubu-de-cabeça-preta.
(*) Luiz Calcagno – Correio Beaziliense