*Por Severino Francisco,
Enquanto o mundo explode, esta coluna conseguiu uma
entrevista mediúnica exclusiva com o sociólogo e escritor Gilberto Freyre. Ele
sempre manteve com Brasília uma relação de amor, que não excluía a crítica
contundente. Fiat lux, mestre! (Em tradução livre: dá uma, luz mestre!).
O senhor é favor ou contra Brasília?
Brasília representa uma nova perspectiva para o Brasil inteiro: a perspectiva de um Brasil verdadeiramente interregional no seu modo de ser nação una e, ao mesmo tempo, plural: um Brasil feito de Brasis. Brasília é a possibilidade de se promover o rebrasileiramento do Brasil.
Poderia explicar melhor?
Os brasileiros que vêm nascendo sob essa perspectiva vêm nascendo mais completamente brasileiros que sob o regime antigo.
Mas e as reclamações e os ressentimentos contra Brasília?
Foi preciso um homem com coragem e visão para fazer o que JK fez. Além de edificar uma obra de grande beleza, ele criou uma fronteira econômica para o país e estabeleceu uma relação mais íntima e dinâmica entre suas regiões populosas e despovoadas.
O senhor acha que Juscelino teve tanta importância assim para Brasília?
Ele era um Dom Quixote, quase um santo, para os homens necessitados do ânimo poético de pensar acima da banalidade e da mediocridade. Era um arrojado estadista — e, no caso, mal assessorado: sem bons Sanchos Panças ao lado do Quixote empreendedor. Deveria ter ouvido cientistas sociais, humanistas, educadores, Villa-Lobos, Anísio Teixeira, Burle Marx, sobre aspectos não arquitetônicos da capital do Brasil.
No que Oscar Niemeyer e Lucio Costa são passíveis de crítica?
São dois dos maiores artistas não só das Américas, mas também do mundo, criaram obras-primas de beleza em escala monumental. Mas não levaram em consideração o fato, e eu sinto dizê-lo, de que estamos vivendo um período de rápida transição social e tecnológica.
Mas o senhor também falhou: previu que o avanço tecnológico deixaria muito tempo para o lazer e isso não aconteceu...
Não importa, essa poderia ser uma das missões de Brasília: ser uma cidade ultramoderna, onde o lazer seria a nota dominante da atmosfera social. Seu povo teria espaço suficiente para se expressar criativamente nas artes, na religião, nos esportes e até na arte de cozinhar e comer.
Então, o senhor entende que as suas ideias continuam atuais?
Como bem disse Darcy Ribeiro, caberia aos governantes e educadores abrir à população de Brasília amplas perspectivas culturais que a livrasse do grave risco de fazer-se medíocre e provinciana no cenário urbanístico e arquitetônico mais moderno do mundo.
O senhor não é um pouco cruel na crítica a Brasília?
Por ter costas largas — largas costas sertanejas —, Brasília pode receber críticas severas sem se abater nem se contrair em fracassos. A verdade é que as críticas das chamadas construtivas, mesmo custando, a esta altura, retificações onerosas, fazem muito mais bem do que mal a Brasília.
O senhor é favor ou contra Brasília?
Brasília representa uma nova perspectiva para o Brasil inteiro: a perspectiva de um Brasil verdadeiramente interregional no seu modo de ser nação una e, ao mesmo tempo, plural: um Brasil feito de Brasis. Brasília é a possibilidade de se promover o rebrasileiramento do Brasil.
Poderia explicar melhor?
Os brasileiros que vêm nascendo sob essa perspectiva vêm nascendo mais completamente brasileiros que sob o regime antigo.
Mas e as reclamações e os ressentimentos contra Brasília?
Foi preciso um homem com coragem e visão para fazer o que JK fez. Além de edificar uma obra de grande beleza, ele criou uma fronteira econômica para o país e estabeleceu uma relação mais íntima e dinâmica entre suas regiões populosas e despovoadas.
O senhor acha que Juscelino teve tanta importância assim para Brasília?
Ele era um Dom Quixote, quase um santo, para os homens necessitados do ânimo poético de pensar acima da banalidade e da mediocridade. Era um arrojado estadista — e, no caso, mal assessorado: sem bons Sanchos Panças ao lado do Quixote empreendedor. Deveria ter ouvido cientistas sociais, humanistas, educadores, Villa-Lobos, Anísio Teixeira, Burle Marx, sobre aspectos não arquitetônicos da capital do Brasil.
No que Oscar Niemeyer e Lucio Costa são passíveis de crítica?
São dois dos maiores artistas não só das Américas, mas também do mundo, criaram obras-primas de beleza em escala monumental. Mas não levaram em consideração o fato, e eu sinto dizê-lo, de que estamos vivendo um período de rápida transição social e tecnológica.
Mas o senhor também falhou: previu que o avanço tecnológico deixaria muito tempo para o lazer e isso não aconteceu...
Não importa, essa poderia ser uma das missões de Brasília: ser uma cidade ultramoderna, onde o lazer seria a nota dominante da atmosfera social. Seu povo teria espaço suficiente para se expressar criativamente nas artes, na religião, nos esportes e até na arte de cozinhar e comer.
Então, o senhor entende que as suas ideias continuam atuais?
Como bem disse Darcy Ribeiro, caberia aos governantes e educadores abrir à população de Brasília amplas perspectivas culturais que a livrasse do grave risco de fazer-se medíocre e provinciana no cenário urbanístico e arquitetônico mais moderno do mundo.
O senhor não é um pouco cruel na crítica a Brasília?
Por ter costas largas — largas costas sertanejas —, Brasília pode receber críticas severas sem se abater nem se contrair em fracassos. A verdade é que as críticas das chamadas construtivas, mesmo custando, a esta altura, retificações onerosas, fazem muito mais bem do que mal a Brasília.
(*) Severino Francisco – Jornalista, colunista do Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog - Google