Parque da
Cidade é um dos principais espaços públicos usados para eventos culturais, como
shows, festivais e encontro de foodtrucks
*Por » Adriana Izel
Cada vez mais, espaços públicos do Distrito Federal são ocupados por
ações culturais realizadas pelos brasilienses
Piqueniques e festivais no Parque da Cidade, na Ermida Dom Bosco e na
área externa do Museu Nacional da República, festas no Setor Comercial Sul,
encontro de food trucks na Praça do Cruzeiro e shows na Torre de TV se tornaram
parte da rotina da capital federal. Há alguns anos, movimentos e produtoras
locais começaram a investir no uso do espaço público para o lazer da população.
Dentre os objetivos está a criação de um aquecimento do centro de Brasília, uma
mudança cultural.
“Acho que
é uma coisa necessária (a ocupação da rua), além de ser um direito do cidadão.
Hoje se discute bastante o direito à cidade e da população de utilizar os
espaços públicos. Essa questão de ocupar a cidade é uma mudança de mentalidade,
que, em Brasília, é forte porque é uma cidade voltada para o carro e para o
privado”, analisa Caio Dutra, um dos integrantes do Coletivo Labirinto. O
coletivo, que também é formado por Raphael Sebba e Phillipe Daher, surgiu em
maio do ano passado para movimentar e revitalizar o Setor Comercial Sul, uma
área que sempre foi considerada marginalizada por boa parte da população.
O coletivo MOB surgiu como um manual de ocupação de Brasília e hoje
promove ações na cidade
Para a arquiteta Júlia Solléro, uma das idealizadoras do Coletivo MOB —
Movimente e ocupe seu bairro, ocupar os espaços públicos da cidade é uma forma
de gerar um pensamento de coletividade nos brasilienses e trazer uma
movimentação existente em diversas cidades brasileiras e internacionais. “O DF,
como um todo, é muito espalhado e as dimensões muito grandes. Isso não valoriza
o uso do espaço público, que é valiosíssimo. Colocar ações na rua faz com que
as pessoas se identifiquem e criem apreço (e cuidado) com a rua, com a cidade”,
afirma. Uma questão de pertencimento.
O
primeiro passo do coletivo foi há dois anos, quando a arquiteta criou um Manual
de Ocupação de Brasília como produto de seu trabalho de conclusão de curso. O
material, que continua disponível na internet, dá dicas à população de como
ocupar o espaço público da cidade, que passam pela legislação e roteiro de
pedido de autorização junto ao governo do DF, até sugestões de ações para fazer
em locais de Brasília. “O manual reúne ideias práticas e eficazes de ocupar a
rua e ter uma conexão. Depois, decidi me juntar com outras amigas (Natália
Bontempo, Ana Gama Dias, Manuella Botelho e Eduarda Aun) para tocar o projeto
colocando ações na rua. Assim virou MOB, movimente e ocupe seu bairro”, conta Julia.
Coletivo
Labirinto é responsável pela revitalização do Setor Comercial Sul
A vez da rua
Mas por que durante muito tempo os espaços públicos da capital federal
ficaram inutilizados? Há diversas razões. A primeira delas está ligada à
mobilidade urbana na opinião dos dois coletivos. “É muito diferente a relação
que se estabelece com a cidade quando se tem moradias espaçadas e falta uma
mobilidade urbana de qualidade”, afirma Júlia. Caio Dutra segue na mesma
análise: “Brasília é uma cidade muito voltada para o privado. Cada um entra em
seu carro e vai para o trabalho. Não há um contato com a cidade, com as pessoas
e com o público”.
A outra situação é um desconhecimento da população em relação à
possibilidade de ocupação. Caio Dutra, do Coletivo Labirinto, lembra que quando
começou a fazer eventos culturais no Setor Comercial Sul utilizava as garagens
dos prédios. No entanto, um dia a garagem não abriu e o evento foi para um dos
becos do SCS. “Descobri que era possível usar aquela região tirando uma
autorização do espaço público e buscando a comunidade do SCS”, diz. “Mas foi
uma coisa que nem a gente nem o governo sabia o que viria se a transformar.
Temos, inclusive, ajudado a própria administração de Brasília a entender como é
a melhor forma dessa movimentação ser benéfica para todos — governo, pessoas da
cidade e produtores”, acrescenta.
“Têm
ações que a gente faz que não precisam de autorização da administração, porque
a dimensão é muito pequena. Mas mesmo assim, a gente investe para que o poder
público esteja ciente, para que aconteça essa troca e abertura. O que tem sido
evidente é, até pelos novos movimentos que têm surgido e pelo apoio do próprio
governo, o engajamento cidadão. As pessoas querem se envolver mais. Claro que
isso ainda é muito novo e é algo a ser construído”, completa Júlia Solléro.
Faça a festa!
Para se fazer um evento em um espaço público do DF, é preciso entrar em contato
com a administração da cidade e também do espaço, no caso de locais como a
Funarte, Torre de TV, Setor Comercial Sul e Torre Digital, que possuem suas
próprias associações e administrações. De acordo com a Administração Regional
do Plano Piloto, responsável pela área central da cidade, a autorização de cada
espaço difere de acordo com a particularidade de cada evento, não existindo uma
única regra para cada local e para cada movimentação cultural. É necessário
analisar pontos como a quantidade de público, o impacto sonoro e no trânsito, a
anuência da comunidade daquela região e a possibilidade de uso do espaço, já
que existem locais onde não é permitido o acesso.
(*) » Adriana Izel – Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press –
Angela Raymundo-Divulgação – Correio Braziliense