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#LEGISLATIVO » O curral eleitoral do senador Hélio José

Gabinete do parlamentar do PMDB está loteado com integrantes do PSC. É uma tentativa de viabilizar a candidatura dele para reeleição ao Senado. O presidente regional e o secretário-geral do partido estão entre os que receberam cargos

*Por Helena Mader - Natália Lambert

Sem eleitorado fiel, mas com o sonho de conquistar a reeleição, o senador Hélio José (PMDB-DF) começou a atrair outros partidos para tentar viabilizar a candidatura dele em 2018. A primeira parceria firmada pelo parlamentar foi com o PSC.  Hélio José loteou parte dos cargos de seu inchado gabinete com integrantes da legenda. Entre os que ganharam postos de trabalho no Congresso Nacional, estão o presidente regional da sigla, pastor Daniel de Castro, e o secretário-geral do PSC no Distrito Federal, Zenóbio Rocha. Ele abrigou, ainda, o recém-filiado Dedé Roriz, que sonha herdar o espólio eleitoral de Joaquim Roriz para chegar à Câmara Legislativa. Esse movimento não é o único agrado a políticos. No total, 11 ex-candidatos a deputado distrital e federal estão empregados no gabinete de Hélio José.

A aproximação com o PSC não tem o aval do PMDB do DF e pode representar uma alternativa ao senador, caso ele não consiga autorização do partido para se candidatar à reeleição. O presidente regional do PMDB, Tadeu Filippelli, articula a própria candidatura ao Governo do Distrito Federal e, para atrair potenciais aliados à empreitada, é provável que tenha de oferecer outras vagas majoritárias, como vice-governador e senador, a outros partidos. Assim, o flerte entre o senador e o PSC pode ser uma saída para Hélio José, que migraria para a legenda com o objetivo de concorrer ao Senado Federal.

Os integrantes do PSC têm salários que variam entre R$ 3,8 mil e R$ 6,2 mil. O Correio tentou localizar o pastor Daniel de Castro no gabinete do senador, e secretárias informaram que ele dá expediente no escritório de Hélio José. Na representação política do parlamentar, uma atendente explicou que Daniel é lotado no gabinete, e não no escritório. Mais fácil seria encontrá-lo na sede do PSC.

Na manhã da última terça-feira, dia importante para o mandato do senador Hélio José, pois ele disputava a Presidência da Comissão de Meio Ambiente (CMA), o servidor não estava na Casa. Em uma derrota política do líder do PMDB, Renan Calheiros (PMDB-AL), Hélio teve de retirar a candidatura, e o cargo ficou com o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Questionada, uma funcionária do gabinete limitou-se a dizer que “ele (Daniel) não fica muito aqui”.

Voto religioso
Funcionários de salas vizinhas afirmaram nunca ter visto Daniel. “Na verdade, essa turma do PSC está no gabinete do senador em troca de apoio político combinado com o bispo, já que o Hélio não tem sustentação. Se tentar, não se elege nem para distrital no ano que vem. Eles não trabalham lá, só recebem”, assegura uma pessoa ligada ao PSC, que prefere não se identificar. “O Daniel não representa a união da igreja, os pastores estão muito decepcionados com ele, porque está vendendo o partido para qualquer um que possa dar a mínima chance de ele se eleger”, acrescenta o integrante do partido, insatisfeito com os rumos da legenda.

Outro elemento importante nessa negociação é o papel que as legendas evangélicas terão nos acordos políticos de 2018. O deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF), que sonha em disputar o Palácio do Buriti, anunciou a intenção de lançar um vice do segmento evangélico para afinar o discurso de direita. O pastor Daniel de Castro é apontado como um possível aliado na composição da chapa encabeçada pelo tucano.

Izalci confirma a intenção de ter um nome da igreja ao seu lado, mas afirma que não há definições ainda. “O ideal é que seja alguém que una as igrejas evangélicas, que converse e represente todas elas. Há vários nomes citados na cidade, e o de Daniel é um deles. Mas essa decisão não caberá a mim”, comenta.

No mês passado, durante um evento da Convenção Nacional das Assembleias de Deus, Daniel foi lançado como pré-candidato a deputado federal no Distrito Federal. Ele conta com o apoio do bispo Manoel Ferreira, principal líder do segmento religioso. A movimentação pode atrapalhar os planos de outro representante da Assembleia de Deus, o deputado federal do Distrito Federal Ronaldo Fonseca (Pros).

Ele evita expor o clima de racha dentro do grupo evangélico e diz que faz parte da democracia disputar votos. “Além disso, é preciso ficar bem claro que não faço, nem nunca fiz uso político da igreja. Na democracia, disputa voto quem quiser”, ressalta Ronaldo Fonseca. Ele ainda não decidiu se será candidato à reeleição ou se disputará o governo ou o Senado. “Distrital ou vice, isso eu descarto. Posso até não ser candidato a nada”, diz o parlamentar.

O pastor Daniel de Castro, ex-assessor especial de Agnelo Queiroz (PT), admite que o nome dele foi lançado como pré-candidato a deputado federal, entretanto defende que não há nada confirmado. Na opinião do presidente do PSC-DF, Brasília está pronta para comportar um candidato ao governo das igrejas evangélicas, e o projeto está sendo conversado em uma aliança entre PSC, PHC, PRB, Podemos e Pros. “São cinco segmentos comandados sob a orientação de cinco pessoas cristãs. É preciso chegar a um ponto de convergência para irmos a uma candidatura majoritária. Vamos nos apresentar como governo ou como vice”, revela.

Base de apoio
Sobre a composição de uma chapa com o deputado Izalci, Daniel afirma ter sido convidado, mas acredita que há outros representantes da igreja tão fortes quanto o dele. Dentro da combinação, Daniel explica o trabalho que tem feito no gabinete do senador Hélio José. Segundo ele, o bispo assumiu compromisso de que o apoio de uma das duas vagas ao Senado seria para o peemedebista; por isso, ele contribuía, principalmente, na assessoria jurídica, pois é advogado. “Mas pedi exoneração na quinta-feira. Conversei com o senador e expliquei que não dá para continuar, porque quero ficar livre para fazer o meu trabalho. É muito difícil para um presidente de partido ficar ligado à estrutura de um gabinete”, afirma.

O senador confirma o acerto com o PSC e admite que constrói uma base de apoio para ser candidato à reeleição. “Fui para o partido em um acordo nacional referendado pelo presidente Michel Temer, pelos senadores Renan (Calheiros) e Eunício (de Oliveira), pelo (Romero) Jucá, pelo (Eliseu) Padilha e pelo Moreira (Franco). Eles me garantiram que eu serei candidato ao Senado pelo PMDB.”

Sobre as divergências com o PMDB local, o parlamentar acredita que prevalecerá o acerto nacional. “O Filippelli é um cara difícil, mas deu sua palavra e não deve haver confusão.” Ainda sobre o acordo com o PSC, ele explica que a eleição ao Senado exige coalizões. “Fechei com o bispo (Manoel Ferreira) e terei o apoio do PSC. Também estou negociando com vários outros partidos”, afirma Hélio José, sem detalhar os nomes das legendas. “Poderia gerar ciúmes.” Segundo ele, o pastor Daniel de Castro trabalhava sem seu gabinete e no seu escritório.

Reduto
Confira a quantidade de servidores lotados no gabinete do senador: Local    Total de pessoas - Gabinete    59* - Escritório de apoio    22

* 49 comissionados, 6 efetivos e 4 terceirizados

Filiados ao PSC-DF**    Função    Data de nomeação    Salário mensal (bruto mais auxílios) - Daniel de Castro Sousa (presidente)    Auxiliar parlamentar júnior    23/5/16    R$ 6.219,83 - Luiz André Roriz Solano (vice-presidente)     Ajudante parlamentar intermediário    8/11/16    R$ 3.834,77 - Zenobio Oliveira Rocha (secretário)    Ajudante parlamentar pleno    8/4/16    R$ 4.460,01

** Todos eles estão sob regime especial de frequência e não precisam bater o ponto diariamente

Memória - De Gambiarra a Melancia
Até o ano passado, Hélio José era conhecido como Hélio Gambiarra. O apelido surgiu em 1995, quando ele desviou energia da Companhia Energética de Brasília (CEB) para realizar um churrasco. À época, ele ainda era filiado ao PT. Hélio era suplente de Rodrigo Rollemberg e assumiu o mandato depois que o socialista chegou ao Palácio do Buriti. Em agosto do ano passado, um novo escândalo trouxe ao hoje senador uma nova alcunha: Hélio Melancia. Na ocasião, ele foi flagrado em gravações divulgadas na internet dizendo que consegue nomear “a melancia que quiser” no governo federal e que quem “não estiver com ele” pode “cair fora”.

O político se referia ao cargo de superintendente da Secretaria de Patrimônio da União e tentava emplacar Francisco Nilo Gonsalves Júnior, ex-assessor do seu gabinete, para exercer a função. “Isso aqui é nosso. Nisso aqui, eu ponho quem eu quiser, a melancia que eu quiser aqui, eu vou colocar”, avisa o senador. Na gravação, realizada nas dependências da SPU, o senador tenta mostrar o seu poder em relação à nomeação de cargos no órgão. “Ele (o assessor em questão) tem lado. O lado dele é o senador Hélio José, que é o responsável pela SPU a partir de hoje. A partir de hoje, a SPU é responsabilidade minha, do senador Hélio José, gabinete 19 da Teotônio Vilela”, declara o parlamentar, sem saber que estava sendo gravado.


(*) Helena Mader - Natália Lambert - Correio Braziliense

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