*Por Joe Valle
Na virada dos anos 1970/1980, quando o Brasil
buscava se redemocratizar, nós, brasilienses, fazíamos a nossa parte: além da
campanha nacional, cujo ponto máximo enunciou-se no grito Diretas, Já!, aqui a
luta contemplava outra exigência, a de autonomia política do Distrito Federal.
Se votar para presidente era aspiração nacional, queríamos em Brasília eleger
Executivo e Legislativo que nos representassem diretamente.
Lembro daqueles tempos e suas lutas para enfatizar que essa
representação tem um significado especial: é emblema da autonomia política e do
pleno exercício democrático em nosso quadrilátero. Por isso, no primeiro
pronunciamento como chefe do Poder Legislativo do Distrito Federal, enfatizei a
necessidade de uma ressignificação de nossa Câmara, resgatando sua histórica e
legítima condição de casa do povo. É a exata compreensão dos signos que
presidiram aquelas lutas que nos ensina como ressignificar a instituição e
nosso papel no processo.
Não podemos tapar o sol com a peneira — o dito popular serve bem a esta
peculiar conjuntura. Seria um erro ignorar as antigas e recentes ocorrências
pouco republicanas, mas a constatação não nos induz à autopenitência, antes
ajuda a superar a adversidade e seguir em frente. Esse projeto requer apreender
que nos compete, aqui e agora, considerar as várias dimensões da democracia e
exercitá-las plenamente enquanto purgamos nossos pecados. Para isso, é vital
acentuar o componente participativo. A abertura à atuação dos diversos
segmentos e correntes de opinião, além de servir à democracia em si mesma, é
também requisito de desempenho eficaz.
Nossas primeiras ações à frente da Câmara Legislativa do DF priorizam
processo participativo que se consubstancia em três vertentes. A primeira,
denominada Câmara em Movimento, consiste em realizar sessões plenárias em todas
as regiões administrativas, a começar, ainda neste mês, na Cidade Estrutural.
Serão encontros que propiciarão profícuo diálogo entre representados e
representantes, a acrescer eficiência à ação parlamentar.
Noutra vertente, Câmara com Vida, além da intensificação das audiências
e reuniões públicas, estamos abrindo as portas ao público em eventos musicais
(Temporadas Populares e Quartas Clássicas) e eventos institucionais, como os
Circuitos Cívicos, que são visitas guiadas à Praça do Buriti e às sedes dos
poderes distritais, e os Diálogos Inspiradores, nos quais líderes e expoentes
de vários setores se encontram conosco e com nossos convidados para debater
ideias e soluções para Brasília.
O processo se potencializa numa terceira vertente, também de grande
alcance e abrangência, o Laboratório Hacker de Inovação da Câmara Legislativa
do DF (Labhinova). Com o recurso a tecnologias da informação, conhecimento e
disseminação de dados, queremos intensificar o intercâmbio estado–sociedade e
multiplicar-lhe as interseções. A ideia é oferecer novos acessos às informações
produzidas na Casa. Buscamos um novo olhar sobre nosso trabalho, mais
intuitivo, pois, melhor informado e realimentado pelo permanente acesso à
informação, espera-se desse processo maior aproximação com a juventude, afeita
ao emprego de mídias que tais. Julgo cumprir, neste relato, duas das mais
importantes obrigações de meu cargo. A primeira é explicitar as intenções que
me movem e como pretendo levá-las a bom termo. A outra é prestar contas do que
fiz e faço, a meus pares e a todos os cidadãos, eleitores e contribuintes do
DF.
A convocação e a abertura de espaços à participação popular têm
correspondente, no intercâmbio interinstitucional, na disposição de trabalhar
melhor as relações entre os Poderes, dividir autorias, propor coautorias. Os
que interagimos na gestão do Estado temos que passar da expectativa – da
condição dos que esperam, uns dos outros — para a de quem age, toma iniciativa,
protagoniza e dispõe-se a partilhar o proscênio. No entrechoque de contrários,
inerente à democracia, em vez de constranger e punir a priori, há que negociar,
buscar entendimento e atrair, envolver em vez de excluir. É assim que avalio
meus primeiros atos na missão que me atribuíram os colegas da Câmara
Legislativa do Distrito Federal. O povo dirá se foi muito ou pouco, mais certo
que errado ou vice-versa.
(*) Joe Valle - Deputado distrital, presidente da
Câmara Legislativa do Distrito Federal – Fonte Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog - Google