Luiz
Inácio Rosa Ribeiro é o tratador mais antigo na Fundação Jardim Zoológico de
Brasília. Foto: Andre Borges/Agência Brasília
Dedicados funcionários são responsáveis diretos pelo cuidado dos bichos,
que, segundo eles, retribuem todo o carinho recebido
Com uma frase emblemática — “Eles cuidam de mim, e eu cuido deles”—,
Luiz Inácio Rosa Ribeiro, de 57 anos, o tratador mais antigo na Fundação Jardim Zoológico de
Brasília, resume seu trabalho. São 40 anos dedicados a criar animais, que
— ele garante — retribuem todo o afeto recebido.
A rotina
agitada envolve dar comida, fazer a limpeza do recinto e garantir aos bichos
uma vida saudável, com momentos de descontração e prazer. “Eles são
praticamente minha vida”, diz.
Para o
tratador, o mais importante é cuidar dos animais com respeito e entender o
hábito de cada um. Hoje lotado no micário (recinto dos macacos), Luiz só ainda
não cuidou das borboletas. Ele conta que faz de tudo para agradar os
companheiros.
Há apenas
dois meses cuidando dos primatas, o brasiliense já aprendeu, inclusive, a
entender os momentos de irritabilidade tanto dos machos quanto das fêmeas.
“Eles ficam um pouco agressivos quando estão no cio e elas quando estão
prenhas.”
"Eles cuidam de mim, e eu cuido deles. Quando
tratados com amor, eles são mais sinceros que os humanos"Luiz Inácio Rosa
Ribeiro, tratador do Zoológico de Brasília
Mesmo há
pouco tempo lá, o responsável pelo cuidado direto dos macacos é recebido com
festa. “Chego aqui de manhã, e eles já vêm todos para a grade. Isso é muito
gratificante.”
A
história preferida, que Luiz conta guardar sempre com carinho, mostra bem essa
troca entre bichos e funcionários. Há alguns anos, ele e alguns colegas ajudaram
uma lhama resgatada de um circo, que já não conseguia andar, a recuperar os
movimentos.
Eram
horas durante o dia segurando o animal pela barriga para que ele reaprendesse a
caminhar. Tempo depois, quando a lhama já estava recuperada, Luiz teve uma grata
surpresa quando foi alimentá-la.
Ele ficou
de costas para um veado catingueiro que tentou acertá-lo. “A lhama entrou na
minha frente para me defender. Consegui colocar a comida e sair,
tranquilamente”, conta, emocionado, ao ressaltar que leva lembranças de vários
animais dos quais cuidou.
O
tratador já virou noites cuidando da saúde dos bichos. Ele diz que sente
saudade quando precisa tirar férias. “Quando eu me aposentar, vou sentir muita
falta deles. Quando criados com amor, assim, eles são mais sinceros que o ser
humano”, avalia.
Uma das
perdas que precisou superar, nesses 40 anos de profissão, foi a do leão Dudu,
nascido e criado no zoo de Brasília. O felino morreu aos 22 anos, em junho
de 2016. “Eu o criei até nascer juba. Ele lambia meu rosto com aquela língua
áspera e me deixava fazer carinho.”
De acordo
com os veterinários do zoo, Dudu não poderia ser levado para a natureza
exatamente por conta do contato com tratadores. A convivência acostuma o bicho
e o torna dependente de humanos para sobreviver.
Cuidado inclui comida na boca e
cafuné
Xodó dos tratadores, a zebra Tucha é mimada com
rapadura, cenoura e bananas - O
cardápio de quem faz por merecer o título de mais simpática entre os tratadores
inclui itens como rapadura, cenoura e banana. Tucha é uma zebra de 20 anos que
está no zoo desde 1998 e coleciona elogios.
Com duas
refeições diárias, ambas antes das 11 horas, ela pega alimentos das mãos de
Diego Souza, de 31 anos, e Demétrio Pereira Júnior, de 37. “Ela, sem dúvida, é
a mais carinhosa”, constata o mais velho.
A zebra
costuma ser mansa com outros cuidadores, mas tem uma intimidade diferente com
os dois, que a acompanham diariamente. “Eles chegam e ela já vai até eles,
atende quando chamam, pede carinho”, conta Juraci da Rocha, também cuidador na
Galeria África.
Diego
Souza, tratador de 31 anos, acaricia hipopótamo. Foto: Renato Araújo/Agência
Brasília
Juraci é um
dos responsáveis pelas hipopótamos fêmeas. É só encostar na cerca que elas se
aproximam para receber cafuné. “Gostam de carinho”, revela.
Chumbinho,
Bárbara, Catarina e Yuli, como são chamadas, gostam da regalia de receber
comida na boca. O cardápio inclui, principalmente, frutas, às 9 horas, e feno
ou capim triturado, uma hora e meia depois.
São sete
cuidadores no grupo do qual Juraci, Diego e Demétrio fazem parte. Eles são
responsáveis ainda pelos elefantes, o rinoceronte e as girafas.
No caso
das girafas, o grupo percebeu que gostam de algo semelhante à acupuntura, e
amarram galhos com alguns pequenos espinhos na cerca, onde elas ficam passando
o corpo. “É bom para tirar o estresse”, explica Demétrio.
Filhotes de grandes felinos
passeavam de coleira
O que não
faltam a Antônio Paulo Soares, de 54 anos, são histórias. Atualmente chefe da
área que cuida do paisagismo no Zoológico de Brasília, ele veio de Minas Gerais
aos 18 anos, quando conseguiu seu primeiro emprego: tratador de animais.
Em 30 anos como tratador, Antônio Soares criou
cerca de 140 filhotes de grandes felinos e não perdeu nenhum
Ao lado
de quatro companheiros, era responsável pelo cuidado dos grandes felinos e dos
grandes primatas, que hoje não habitam mais o zoo. “Eu criei uns 140 filhotes
entre tigres, onças e leões”, conta orgulhoso. Foram mais de 30 anos na função,
antes de assumir o novo cargo, em 2012.
O
tratador Demétrio Pereira Júnior, de 37 anos, alimentando uma das girafas do
zoo. Foto: Renato Araújo/Agência Brasília
O tempo
rendeu um histórico que, ele garante, qualquer pessoa apaixonada por bichos
gostaria de ter. “Poucas pessoas no mundo viveram o que eu vivi aqui.” O
cuidado atencioso do antigo tratador permitiu que o Zoológico, na época em que
ele estava na ativa, não perdesse nenhum filhote dos felinos.
Ele sabia
quando as fêmeas estavam prestes a entrar no cio e quando iriam parir. “Já as
deixava na área de retenção para não ter o risco de nenhum acidente”, conta.
Entender hábitos dos animais é essencial para evitar que eles caiam nas
piscinas ou até sejam mortos pelos adultos, por exemplo.
A
dedicação com que cuidava dos filhotes é evidente no olhar do experiente
tratador, que diz ter passado mais tempo no zoológico do que em casa. Na rotina
que estabeleceu com os animais, ele conta que tinha até passeios de coleira
para que tomassem banho de sol, isso quando os bichos tinham até seis meses de
vida.
Mesmo na
fase adulta, os felinos costumavam reconhecer os comandos de Antônio. “Eu
passava por fora do recinto chamando o nome deles e eles acompanhavam.”
Para ele,
todo esse carinho que os bichos lhe demonstram é uma forma de agradecer o
cuidado regado de muito amor.
O
Zoológico tem 40 tratadores, responsáveis pelos 807 animais que vivem no local.
Galeria
de Fotos: - ( goo.gl/Yqj7xL )
Agência
Brasilia