Com uma população cada vez mais velha, o governo precisará traçar
políticas públicas de saúde e mobilidade, mas também de emprego e de segurança
*Por Otávio Augusto
A cidade chega à marca de 3 milhões de habitantes, segundo estimativa do
IBGE, e se consolida entre as maiores do país, atrás apenas de São Paulo e do
Rio de Janeiro. Crescimento populacional impõe desafios para os próximos anos
Miguel, filho de Fernanda e Murilo , faz parte da geração 3 milhões
Fazendo uma regressão na história da capital federal, seria
inimaginável, no começo da década de 1960, uma população de 3.039.444 de
habitantes. Cada vez mais desgarrada do cenário bucólico criado por Lucio
Costa, a cidade cresceu, ganhou traços de metrópole e ainda vai expandir nos
próximos anos. Essas são as conclusões de um levantamento do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calculou o índice
populacional mais recente, divulgado ontem. São 469 mil pessoas a mais, em
relação ao último Censo Demográfico, em 2010.
Brasília apresentou um crescimento vigoroso. Entre as capitais, a cidade
teve o segundo maior: 2,09%. Perdendo apenas para Palmas, que registrou 2,48%.
Somos a terceira maior capital do Brasil, atrás de São Paulo (12.106.920) e do
Rio de Janeiro (6.520.266). A marca é emblemática. Ultrapassamos Salvador e
somamos mais habitantes que a capital baiana (leia Os destaques da capital).
Diferentemente de outras capitais, o DF está expandindo internamente,
explica o técnico do IBGE responsável pela pesquisa, Marcio Minamiguchi. “As
outras cidades não têm áreas disponíveis. Brasília ganha mais população do que
perde. Ou seja, a soma dos nascimentos, dos migrantes, das mortes e do êxodo é
positiva para o crescimento populacional”, detalha.
O crescimento da cidade é acelerado, mas, ainda assim, está dentro do
esperado pelos especialistas. Brasília deu sinais de que sua população estava
aumentando já no começo da década de 1980, quando o IBGE registrou o primeiro
milhão de habitantes. Mais de 20 anos depois, o segundo milhão estava completo,
no ano 2000. Levaram outros 16 anos para a cidade contabilizar o terceiro
milhão (veja Linha do tempo).
“Essa é uma marca histórica para a cidade, da mesma forma que ocorreu
quando o Rio de Janeiro passou de seis milhões de habitantes e São Paulo, de 10
milhões de habitantes. Esse é um momento em que os gestores públicos têm que
refletir sobre o planejamento e o funcionamento da cidade. Estabelecer as
principais demandas e quais os serviços precisam de investimentos. Com recursos
escassos, é preciso conhecer a sua população para melhorar o uso do dinheiro”,
avalia Minamiguchi.
A projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é
que, em 2030, a capital federal tenha 3.773.409 habitantes. Mas quais são os
atrativos do DF? Por que ele é endereço de pouso para tanta gente? Os
especialistas elencam a renda per capita alta, a qualidade de vida e o acesso a
serviços públicos como os principais fatores. “Aumento populacional é
intimamente ligado a economia e a questões sociais”, destaca o professor da
Universidade de Brasília (UnB), Frederico Rosa, especialista em evolução e
histórico de Brasília.
Raízes
Buscando ascensão econômica, assim como explica o professor Frederico,
os pais da publicitária Fernanda Sterquino, 23, deixaram Minas Gerais e
ancoraram em Brasília há 24 anos. Ela é a primeira integrante da família a
nascer aqui e fincou raízes. Miguel, 7 meses, faz parte desta geração: nasceu
em fevereiro. O leitor conhece a história de Fernanda. Ela foi personagem de
uma reportagem sobre aumento populacional na edição de 1º de janeiro de 2017,
anunciado como o ano do bebê 3 milhões. À época, ainda estava grávida. Ontem,
foi a primeira vez que Miguel desceu para o pilotis. “Lembrei de mim quando era
criança”, conta a moradora da 203 Sul.
Fernanda sonha com uma cidade melhor para Miguel viver. “Amo viver em
Brasília, mas quero uma cidade mais segura para o Miguel. Dessa forma, ele
poderá aproveitar os espaços públicos da cidade e os traços que seus moradores
preservaram, como descer para o pilotis”, destaca. Ele pretende ter mais
filhos. “Lá pelos 28 anos, planejo o próximo bebê, talvez me liguem para contar
se ele fará parte da geração quatro milhões”, brinca.
Destaques - Veja a comparação de Brasília com outras capitais
na pesquisa do IBGE - Teve o segundo maior crescimento entre as capitais:
2,09%. - Perde apenas para Palmas, que registrou 2,48%.
Brasília é a 3ª maior capital do Brasil, atrás de São Paulo
(12.106.920) e Rio de Janeiro (6.520.266). Atualmente,
são 3.039.444 habitantes. Acidade ultrapassou Salvador, que tem 2.953.986
moradores.
O DF tem mais moradores que
sete estados: Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima, Sergipe
e Tocantins. A previsão é de que, em 2030, o DF tenha 3.773.409
habitantes.
Futuro exige planejamento
Os especialistas em urbanismo acreditam que ainda há espaço para a
cidade crescer, mas destacam a necessidade de planejamento. O especialista em
evolução e histórico de Brasília Frederico Rosa explica que ainda existem
muitos espaços vagos e que a verticalização dos empreendimentos favorece o
inchaço populacional. “Há muito espaço para urbanizar, diferentemente de
Fortaleza e de Recife, que são completamente ocupadas”, avalia Rosa, que é
professor da Universidade de Brasília (UnB).
Antônio Carlos Cabral Carpintero, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, alerta para a necessidade de se planejar o futuro da cidade. Para ele, as diferenças socioeconômicas entre o Entorno e o DF, por exemplo, precisam ser atenuadas. “Criou-se uma polarização, e isso não era o pensado. O governo tem que se organizar para encarar essa nova realidade. Caso o crescimento continue ocorrendo sem nenhum tipo de controle, haverá uma imensidão de cidade, mas muito pobre e sem serviços básicos”, avalia.
A diretora de Estudos e Políticas Sociais da Companhia de Planejamento (Codeplan), Ana Maria Nogales, alerta para outro aspecto do morador do DF: a população está cada vez mais velha. “Não estamos no momento da explosão demográfica”, ressalta. Ela explica que o governo precisa se balizar pela estatística do IBGE para traçar políticas públicas de saúde, mobilidade, emprego e segurança. “Dados mais recentes mostram uma queda de migração, mas temos uma região metropolitana grande e não podemos esquecer disso. Vamos ter um aumento de demanda por serviços públicos.” (OA)
Antônio Carlos Cabral Carpintero, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, alerta para a necessidade de se planejar o futuro da cidade. Para ele, as diferenças socioeconômicas entre o Entorno e o DF, por exemplo, precisam ser atenuadas. “Criou-se uma polarização, e isso não era o pensado. O governo tem que se organizar para encarar essa nova realidade. Caso o crescimento continue ocorrendo sem nenhum tipo de controle, haverá uma imensidão de cidade, mas muito pobre e sem serviços básicos”, avalia.
A diretora de Estudos e Políticas Sociais da Companhia de Planejamento (Codeplan), Ana Maria Nogales, alerta para outro aspecto do morador do DF: a população está cada vez mais velha. “Não estamos no momento da explosão demográfica”, ressalta. Ela explica que o governo precisa se balizar pela estatística do IBGE para traçar políticas públicas de saúde, mobilidade, emprego e segurança. “Dados mais recentes mostram uma queda de migração, mas temos uma região metropolitana grande e não podemos esquecer disso. Vamos ter um aumento de demanda por serviços públicos.” (OA)
Entorno cresceu
O IBGE atualizou o número de pessoas que vivem no Entorno. As cidades
goianas e mineiras próximas ao DF têm 1,4 milhão de habitantes, ante 1,2 milhão
em 2016. Eles fazem parte dos 22 municípios, além de Brasília, que compõem a
Região Integrada de Desenvolvimento (Ride), a quarta mais populosa, com 4,4
milhões de pessoas. Fica atrás das regiões metropolitanas de São Paulo (21,4
milhões); do Rio de Janeiro (12,4 milhões); e de Belo Horizonte (5,9 milhões).
(*) Otávio Augusto – Foto: Luis Nova/CB/D.A.Press – Arquivo
Pessoal – Correio Braziliense