O presidente local do PSDB, deputado federal
Izalci Lucas, tem o hábito de empregar parentes e contratar empresas da própria
família na estrutura do partido que comanda. Uma prática que não é
ilegal — porque as legendas são entidades de natureza privada —, mas
frontalmente contestada por integrantes da própria agremiação. A conduta,
mantida desde sempre na gestão Izalci, ultimamente inflamou o grupo que disputa
poder com o presidente tucano.
Izalci Lucas mantém em cargo estratégico
da direção partidária Nair Lelis de Sousa, a irmã de sua mulher, Ivone
Fernandes Ferreira. A cunhada do presidente recebe salário de R$ 7.413,53 para
ser uma espécie de braço direito do político na administração da sigla. Além do
valor que consta em contracheque, o Metrópoles teve
acesso a uma série de cheques de R$ 2 mil nominais a Nair e assinados por
Izalci. Os pagamentos nesse valor, em geral, ocorrem segundo demonstram as
cópias dos cheques, uma vez ao mês.
Outro
irmão da mulher de Izalci também mantém laços com o PSDB presidido pelo
cunhado. Francisco Pedro Fernandes é dono da empresa que alugou, durante vários
meses de 2016, van para o partido. Uma série de recibos referentes à
contratação dá conta de que a legenda alugou o veículo para servir ao PSDB por
diária de R$ 600. As notas são no valor de R$ 6 mil e cobrem, supostamente,
períodos de 10 dias de locação. O endereço que consta nos documentos,
inclusive, é o da residência de Francisco, em Águas Claras.
Além
de alugar a van de familiares, o parlamentar, na condição de presidente do
PSDB, negociou com os próprios parentes o aluguel de um trio elétrico e de um
utilitário. O trio elétrico chegou a pertencer ao deputado, mas ele acabou
colocando o veículo sob o guarda-chuva da empresa do cunhado. E um dos
utilitários, o Mercedes-Benz Sprinter de placa JHP 8145-DF, está em nome de
Renato Fernandes Ferreira, um dos filhos do parlamentar.
Toyota
Hilux - Entre os itens contratados pelo presidente do partido, também há uma Toyota
Hilux (JIA 3181). O aluguel, acertado logo após a alçada de Izalci à
presidência da agremiação, data de outubro de 2015. E o pagamento de R$
7.250,00 foi feito, na época, à vista. O endereço da nota fiscal é o da
residência de Izalci: na QL 12 do Lago Sul.
A contabilidade do PSDB local fica a
cargo da Consulthabil Contadores, empresa fundada por Izalci e hoje
administrada por irmãos e filhos do parlamentar. Entre as notas que comprovam
despesas realizadas pelo partido ao longo de 2016, há recibos no valor de R$
1.880 referentes a serviços contábeis contratados pela sigla e prestados pela
firma pertencente aos familiares do deputado. A Consulthabil funciona, aliás, no
mesmo bloco e edifício da sede do PSDB no DF: “D” do Eldorado, no Conic. A
legenda recebe, em média, entre R$ 70 mil e R$ 80 mil do fundo partidário.
Gastos das mais diversas naturezas se
cruzam com negócios mantidos por parentes de Izalci. O PSDB-DF contratou, em
abril do ano passado, a Tendas Park Way Locações para o fornecimento de duas
coberturas no valor de R$ 800. A firma também pertence a pessoas próximas de
Izalci. No perfil que a empresa mantém no Facebook, o contato para o aluguel
dos itens é o de Newton Fernandes, mais um dos irmãos da mulher do deputado. Na
página, há várias fotos dos familiares de Izalci em meio a postagens de
divulgação da marca.
No dia 17 de abril de
2016, data em que a Câmara dos Deputados aprovou o pedido de abertura do processo
de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff, Izalci Lucas ofereceu
uma paella para receber integrantes de seu partido, que, na ocasião,
comemoravam a vitória política. O bufê foi servido pela Pacheco Paella e custou
R$ 4.845. Uma despesa colocada na conta do PSDB, como mostram os comprovantes
fiscais.
Críticas tucanas
Os gastos promovidos pelo deputado federal despertaram a antipatia dos próprios pares. Deputado distrital pelo PSDB, Robério Negreiros disparou contra as práticas do presidente de seu partido. “Considero esses atos ilegais, imorais e ímprobos. Como é que você, sendo o presidente de uma instituição, vai contratar familiares e empresas da qual faz parte do quadro societário para prestar serviços?”, questionou.
Os gastos promovidos pelo deputado federal despertaram a antipatia dos próprios pares. Deputado distrital pelo PSDB, Robério Negreiros disparou contra as práticas do presidente de seu partido. “Considero esses atos ilegais, imorais e ímprobos. Como é que você, sendo o presidente de uma instituição, vai contratar familiares e empresas da qual faz parte do quadro societário para prestar serviços?”, questionou.
O ex-secretário-geral
da legenda Virgílio Neto defendeu a apuração das denúncias: “Tem que ser
verificado se há algum crime e, caso haja ilegalidades, onde é que estão”.
Uma das representantes mais tradicionais
do PSDB no DF, a ex-governadora Maria de Lourdes Abadia também se posicionou
contra o estilo de Izalci de tocar a legenda. “A partir do que se tem falado
nas conversas internas do partido, pelo menos sete pessoas que trabalham ou no
PSDB ou no gabinete de Izalci seriam parentes dele. Essa é mais uma evidência
da forma autoritária como o deputado conduz a legenda no DF”, disse.
Abadia atribuiu a divisão de
posicionamento de integrantes da sigla a um desejo “incontrolável” do deputado
pela tomada de decisões
Ele
quer disputar o governo, mas não entende que primeiro tem de ser o candidato do
partido, não basta ser o candidato de si próprio"
(Maria
de Lourdes Abadia)
Outro lado
Izalci Lucas admitiu que o PSDB local se vale dos serviços prestados por empresas de seus familiares em diversas frentes. O deputado, no entanto, afirmou que não cometeu nenhuma ilegalidade e que as contratações sempre beneficiaram o partido porque os preços, segundo afirmou, são mais baixos do que os praticados no mercado.
Izalci Lucas admitiu que o PSDB local se vale dos serviços prestados por empresas de seus familiares em diversas frentes. O deputado, no entanto, afirmou que não cometeu nenhuma ilegalidade e que as contratações sempre beneficiaram o partido porque os preços, segundo afirmou, são mais baixos do que os praticados no mercado.
O
parlamentar citou, por exemplo, o aluguel de van que foi colocada à
disposição da legenda durante o processo de impeachment da então presidente
Dilma Rousseff, no ano passado. “Pode pesquisar no mercado e vocês vão ver que
o valor cobrado foi muito mais em conta do que o pago pelo partido”. No caso,
R$ 600 por dia em 2016. O Metrópoles apurou
que há empresas oferecendo o mesmo serviço, em veículo compatível, com aluguel
a R$ 350/dia.
O deputado ainda defendeu a atuação de
sua cunhada na presidência do partido. “Ela é uma máquina, trabalha muito,
cuida de tudo o que é importante. Numa posição dessas, precisamos de uma pessoa
de confiança. Afinal de contas, o partido terminou a gestão passada com um
rombo absurdo aberto pelo então candidato ao governo”.
Ele afirmou que o salário de sua cunhada
Nair é o mesmo pago antes mesmo de ela integrar a equipe. E explicou que os
cheques emitidos também para ela no valor de R$ 2 mil são referentes a suprimentos
de fundos, “um expediente muito comum em qualquer empresa que lida com pequenas
despesas todos os dias”.
Quanto ao trio elétrico, o deputado
confirmou que era o dono do veículo, mas que há cerca de dois anos passou o
automóvel para a empresa do cunhado, o mesmo que manteve em 2016 contratos com
o PSDB local. Sobre a contratação da firma de contabilidade tocada por filhos e
irmãos, ele expôs que o serviço vem sendo prestado ao partido, inclusive em
âmbito nacional, desde a década de 1990. Atividades que, segundo salientou,
estão devidamente comprovadas por meio de notas e cujo balanço foi objeto de
órgãos internos de controle.
O parlamentar disse que
está sendo alvo de correligionários alinhados com o governo de Rodrigo
Rollemberg (PSB) e ávidos por exercer o poder dentro do partido. “Não vou
ceder a essas pressões, não aceito aliança. O que meus críticos querem é
mamata, boquinha no governo, mesmo pertencendo a um partido que se colocou na
oposição”, afirmou Izalci. Em sua opinião, se há dívidas, são do partido com
ele: “Eu sirvo muito mais ao PSDB, do que o PSDB
a mim”.