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Documentário enaltece amor por Brasília

Alguns dos primeiros trabalhadores e moradores da cidade prestigiaram a obra de Pedro Daldegan e Nubia Santana

Entre a decisão de construir a nova capital e o projeto ser concluído, a obra recebeu críticas de todos os tipos, tanto da imprensa quanto de políticos e da população. Essa foi a inspiração dos criadores do filme exibido ontem. Na plateia, ilustres convidados, os pioneiros

*Por » Walder Galvão  

Durante a construção de Brasília, população, imprensa e políticos criaram diversas teorias do que seria a nova capital do país. Histórias sobre a cidade abandonada, desvios de dinheiro e interiorização cercavam o projeto de Lúcio Costa. Esses contos e outras diversas profecias serviram de inspiração para o documentário Mudança Capital — Os Pioneiros. Pessoas que trabalharam na construção da cidade e vídeos da década de 60 integram o filme e conseguem contar como a cidade surgiu em meio a polêmicas e especulações. A estreia ocorreu ontem, no Cine Brasília.

Antes de a película ser exibida, pioneiros da cidade e brasilienses natos se reuniam na expectativa do que poderiam descobrir. Com cerca de 50 minutos de duração, o documentário conseguiu prender a atenção de todos. Por ele, foi possível saciar a curiosidade de alguns ou refrescar a memória de outros. O filme mostra imagens do surgimento do Distrito Federal, misturado a depoimentos de pessoas que participaram da construção da cidade e a expectativa do restante do Brasil sobre a transferência da capital.

O projeto do documentário nasceu quando começaram os preparativos para o cinquentenário de Brasília, em 2009. Um dos diretores da obra, Pedro Daldegan conta que, por causa dos escândalos políticos da época, precisou repensar o roteiro do filme. “Inicialmente, queríamos fazer o documentário somente em tom de homenagem à cidade. Porém, com o balde de água gelada que foi o cenário político em 2009, mudamos de ideia e decidimos falar sobre as profecias da cidade”, afirma. Pedro explica que as previsões negativas fizeram com que JK vivesse um martírio e isso serviu de inspiração para ele.

“Não queríamos fazer mais um filme sobre Brasília. Queríamos algo original”, ressalta a outra diretora do documentário, Nubia Santana. Para ela, as histórias e o pessimismo em relação à dificuldade de locomoção para capital e às edificações inimagináveis também serviram de gatilho para a produção do filme. “Os pioneiros tiveram sonhos e muita garra. Essas pessoas estavam em busca do desenvolvimento próprio e fizeram uma cidade em três anos”, diz. Nascida em Pernambuco, Nubia destaca que está radicada em Brasília. “Fui acolhida com muito amor e sempre quis fazer uma homenagem”, comenta.

Presente na estreia, Carlos Antônio Leal, diretor-geral da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), comenta que “a história da Terracap se mistura com a de Brasília. Quem assistir ao documentário terá a noção real de como a cidade começou”, destaca. Ainda não há previsão para mais exibições do documentário, no entanto, os diretores da obra afirmam que a expectativa é de que seja exibido em escolas e em sessões futuras.
Brasileiros de todos os cantos
Mineiros, cariocas, baianos, piauienses, maranhenses, enfim brasileiros de todos estados fizeram parte da composição do Distrito Federal. Mesmo nascendo fora da capital, o amor dessas pessoas pela cidade que construíram Brasília permanece até hoje. A história de José Daldegan Neto, 88 anos, e Maria Caldera Daldegan, 85, começou em Minas Gerais, mas foi construída em Brasília, com a inauguração da cidade. Em 1957, os dois ficaram noivos e três anos depois decidiram vir para a capital construir o seu futuro.

“Ela veio primeiro, concursada como professora. Poucos meses depois, cheguei.Também sou professor, mas não tinha vaga para mim. Fiquei trabalhando em uma empresa de cascalho durante alguns anos”, lembra José. Quando o casal chegou, foram morar nos alojamentos da Candangolândia. Eles relatam que o amor deles se estendeu para a cidade e decidiram ficar. Ao verem o filme, aflorou a emoção  do que foi participar dos primeiros anos da capital. “Foi uma grande surpresa para nós e acabou nos levando de volta ao passado. São tantas lembranças”, ressalta Maria.

O pioneiro Abrão Costa Vale, 71, só teve um emprego até a aposentadoria. Ele chegou a Brasília, em 1960, como topógrafo da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e, em seguida, foi transferido para a Terracap, com a mesma função. O aposentado foi responsável por demarcar diversas áreas do Plano Piloto e sabe até hoje todos os pontos e procedimentos que precisou desenvolver para a construção dos locais centrais da cidade. “Além de ajudar no surgimento da nova capital, também construí minha família aqui. Participar desse documentário é algo muito importante, até mesmo para contar nossa história, a minha e a de Brasília”, relata.


(*) Walder Galvão  - * Estagiário sob a supervisão de Margareth Lourenço  - (Especial para o Correio) -  Fotos: Ed Alves/CB/D.A.Press – Correio Braziliense

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