Maurício Bastos deixa viúva, nove filhos, 23 netos e três bisnetos - “Morar em Brasília é de encher a
alma e o coração.” Apaixonado pela capital federal, o professor, advogado e
jornalista Maurício Campos Bastos dedicou mais de quatro décadas de sua vida à
cidade. Foi protagonista de uma história irretocável e de uma família de
prestígio. Os números impressionam: nove filhos, 23 netos e três bisnetos.
Ontem, aos 87 anos, a falência múltipla dos órgãos, causada por um câncer,
silenciou a voz do contador de histórias nato. Morreu em um hospital particular.
Campos Bastos repetiu diversas vezes que o direito
significa comprometer-se com a “vida plena”, no sentido de que o advogado atua
para defender a vida das pessoas. Ele foi vice-presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB/DF), de 1990 a 1992, e conselheiro, de 1993 a 1996. A
tolerância era uma das suas características mais marcantes. O zodíaco explica:
nascido em 21 de fevereiro de 1930, ele era do signo de peixes.
Natural de Juiz de Fora (MG), o magistrado veio
para o planalto central para consolidar a Justiça Trabalhista no Distrito
Federal. Desde 1962, trabalhava na antiga Junta de Conciliação e Julgamento,
depois chamada Vara do Trabalho. Quem assinou o decreto de nomeação foi o
ex-presidente João Goulart, em novembro de 1972. No mesmo mês, a família se
mudou para Brasília. O endereço? Um apartamento na 104 Norte.
Casado com Cléa Caputo Bastos havia 63 anos,
Maurício construiu a credibilidade de uma família de juristas. Cinco dos
nove filhos seguiram a profissão do pai no direito. Ao analisar a passagem do
tempo, ele se dizia um homem de sorte. “Eu a vejo com humildade. Recebi a sorte
com naturalidade, talvez por isso ela sempre me tenha aparecido”, destacou, em
entrevista ao Correio, em 2013.
Ele realmente tinha sorte. Em 1950, aos 19 anos,
transmitiu a Copa do Mundo pela Rádio Industrial de Juiz de Fora. Contava o
feito, mas sem a alegria do título de campeão. A taça escorreu das mãos da
Seleção Brasileira, em pleno Maracanã. Conteve as emoções no apito final que
consagrou o Uruguai campeão do mundo. “Vi como era a concentração dos jogadores
na véspera, em São Januário. A quantidade de gente, de jogador trançando de um
lado para o outro, recebendo presente. Aquele time não tinha pernas para ganhar
o jogo”, resumiu, certa vez.
Cidadão honorário
Campos Bastos morreu cinco meses após receber uma
das mais importantes condecorações da cidade: o título de cidadão honorário de
Brasília. A sessão solene ocorreu em junho e foi bastante festejada. “É uma
enorme honra saber que ainda foi por unanimidade. Quero repartir tudo isso com
minha esposa, que é mais credora que eu, um exemplo de mulher”, ressaltou.
Na cerimônia, autoridades, como o vice-presidente
do STF, José Antônio Dias Toffoli, o vice-presidente do STJ, Humberto Martins,
o ministro da Justiça, Torquato Jardim, o corregedor do Tribunal de Justiça do
DF, José Cruz Macedo, e o presidente da OAB no DF, Juliano Costa Couto,
comemoraram a iniciativa da Câmara Legislativa. “Foi uma noite gloriosa”,
destacou Campos Bastos.
Por Otávio
Augusto – Foto: Monique Renne/CB/D.A.Press – Correio Braziliense