Guilherme Reis, secretário de Cultura do DF
Um dos maiores blocos de rua do DF, o Babydoll de
Nylon, não vai desfilar neste ano. Como avalia os argumentos da agremiação para
o cancelamento?
Eu fiquei triste com o anúncio do bloco, e separo
os argumentos por dois prismas. O primeiro é de o que bloco cresceu
excessivamente, mais do que os organizadores esperavam, e teriam dificuldade
para garantir a segurança dos foliões. Essa já era uma preocupação dos
organizadores desde o ano passado, e eu entendo. O outro, de que faltou diálogo
e há burocracia, não posso concordar. Um exemplo concreto é a centralização do
cadastro e a criação do Ciac (Centro Integrado de Atendimento ao Carnavalesco),
que permitiu que os organizadores dos blocos tratassem com todos os órgãos num
só local. Entendemos que o papel do governo é fornecer estrutura, e nunca houve
dificuldade no diálogo com relação às estruturas e logística necessárias. Este
ano, estamos garantindo quase R$ 5 milhões para atender cerca de 136 blocos de
rua, e o Babydoll seria um deles. É um investimento muito alto, que demonstra o
quanto o governo valoriza o carnaval.
As decisões sobre o carnaval foram tomadas em
conjunto?
Esse diálogo vem desde 2016, sendo amadurecido ano
após ano. Coincide com o período em que o carnaval de Brasília mudou
radicalmente. Essa mudança ocorreu no Brasil inteiro, mas fortemente em
Brasília. Isso resultou no momento em que enxergamos a necessidade de implantação
de uma nova política para o carnaval, que envolve, entre outros aspectos, o
financiamento, com foco em estrutura e chamamentos democráticos e editais
públicos. Além disso, atendendo demanda dos blocos apresentada num desses
encontros com a comunidade, já está na rua um edital inédito de R$ 500 mil para
cachês de grupos artísticos locais. Para blocos que têm interesse em outros
tipos de gasto, e isso é legítimo, há outras formas de captação de recursos.
O maior número de foliões foi usado como justificativa
para priorizar os blocos de rua em detrimento das escolas de samba desde 2015,
devido ao orçamento enxuto. O governo vai manter essa posição?
Essa não é uma decisão de governo, foi uma decisão
da população. Vamos chegar a quase 2 milhões de pessoas saindo em blocos de rua
este ano. As escolas de samba têm uma tradição em Brasília, e isso não se pode
negar. Pelo contrário. Mas, para que elas desfilem no formato tradicional, como
as escolas de samba cariocas, custa caro. De 2015 para cá, ninguém tem dúvidas
sobre as dificuldades orçamentárias que estamos passando. No ano passado,
criamos um grupo de trabalho envolvendo governo e a liga das escolas de samba,
buscando soluções para o problema. Acreditamos em duas saídas a serem
discutidas. A primeira é financiar as escolas buscando diversificar as fontes
de investimento. A segunda, é que o desfile durante o carnaval não precisa ser
a única forma de as escolas atuarem. Elas têm uma vinculação comunitária muito
forte. O que nós estamos propondo no governo é que esses grupos comunitários
pensem as agremiações como “escolas de samba” mesmo, funcionando durante o ano
todo, formando jovens e novos instrumentistas, artistas, criadores, cenógrafos.
É aí que eu acho que entra o papel do governo, de incentivo a essa comunidade.
O governo pretende ouvir as demandas e adotar
iniciativas diferentes em 2019?
Claro que sim. Em fevereiro de 2017, editamos o
Decreto nº 38.019/2017, em que se determinou o modelo de financiamento do
carnaval que está valendo hoje, e que trata o carnaval como política pública de
Estado, e não de governo. Foi elaborado com ampla participação social:
audiências públicas, debates, consultas on-line, seminário. Vamos continuar
esse processo, sim. Várias sugestões já nos chegaram e deverão ser objeto de
estudo assim que passar o carnaval. É um legado que a Secretaria de Cultura
quer deixar: uma política pública moderna, que envolva não somente aspectos do
financiamento do carnaval, mas também da relação do folião e do carnavalesco e
do seu direito à cidade, de realizar uma festa cultural tão linda.
Mariana Niederauer- (Interina) - com Ana Viriato e Bruno Lima
(especial para o Correio Braziliense - Foto: Helio Montferre/CB/D.A.Press