Um
modelo para o mundo
*Por
Jane Godoy
Desde
sempre, quando a gente traça em nossa mente e em nosso coração um plano de
ação, um objetivo e uma finalidade de vida, renovamos as esperanças. Quando a
gente assiste ao desenvolvimento, desde a fase embrionária, vencendo
obstáculos, nos digladiando contra os fantasmas do pessimismo e do negativismo,
tropeçando, caindo e nos levantando a cada vitória, por menor que seja, nos
abastecemos de muita energia para continuar a caminhada, afastando as pedras
com fé, perseverança e alegria.
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde Tedros Adhanom
Ghebreyesus, ao lado do governador Rodrigo Rollemberg
Para
resumir, é a mesma situação que enfrentamos ao gerar um filho. O ideal, a meta
a cumprir, nos faz passar pelos mesmos percalços e dificuldades. E um dia, para
alegria e euforia de todos, a criança nasce. Robusta, forte, saudável e do
jeitinho que a gente sonhou.
Para
descrever aqui o que vivenciamos, ao longo dos anos, desde que a ideia de
edificar um hospital que fosse inteirinho idealizado e construído para as
crianças — o que a capital da República ainda não tinha —, é o mesmo que
descrever as várias etapas de uma gestação. O corpo médico e a comunidade
brasiliense geraram esse hospital, passando por todas a fases comparáveis à
espera e à chegada de uma criança.
A mãe,
que tem um nome sugestivo, fruto da união de uma associação que cuida, desde
sempre, das famílias de crianças portadoras de câncer e hemopatias, a Abrace,
fundada por mães e pais sofridos que sentiram na pele o que é ter um filho
doente, assumiu essa “briga” que durou anos e anos, até contar com o apoio de
milhares de pessoas. Eles estavam conscientes da necessidade de termos no
Distrito Federal um hospital infantil, que se transformou num gigante
poderoso e destemido, enfrentou tudo para transformar em realidade o sonho de
uma cidade, do Brasil central.
E o
objetivo transformado em luta e depois em um duelo de titãs ganhou, mais tarde,
o titã dos titãs: um casal que, com o poder maior nas mãos, fez desse, que,
para muitos, não passa de status e glamour, um motivo de procurar vencer todas
as dificuldades e obstáculos. Até hoje não sabemos se foi a Abrace que
encontrou Mariza e o então vice-presidente da República José Alencar ou se
foram eles dois que encontraram a Abrace.
O que
importa é que o Hospital da Criança de Brasília José Alencar lá está, para quem
quiser ver, com seu Bloco I em pleno funcionamento, fruto de um trabalho
hercúleo através dos anos, que contou e conta com as doações mensais da
comunidade, com os eventos e festas beneficentes programadas para angariar
fundos para a construção do hospital, muitas delas encabeçadas e organizadas
por aquela que se tornou a madrinha da instituição, Mariza Campos Gomes da
Silva.
Depois,
com a World Family Organization (WFO) que assumiu a construção do
Bloco II, por meio de um contrato com o governo do DF, também vencendo muitos
obstáculos e conceitos errôneos sobre todo aquele complexo, viabiliza agora a
conclusão do hospital, de arquitetura de vanguarda e tecnologia avançada, onde
estarão, dentro de pouco tempo, todas as áreas que faltavam, totalizando 203
leitos de internação.
O HCB
recebeu, em 21 de março, a honrosa visita do diretor-geral da Organização
Mundial da Saúde ( OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que lá esteve
acompanhado do governador Rodrigo Rollemberg, pelo secretário de Saúde do DF,
Humberto Fonseca; pelo representante da Opas no Brasil, Joaquín Molina; e pela
diretora-geral assistente para medicamentos, vacinas e produtos farmacêuticos
da OMS, Mariângela Batista. Apesar de não estar em sua agenda oficial, Tedros
Adhanom Ghebreyesus fez questão de voltar ao HCB, o qual conheceu, pela
primeira vez, em 2017, antes de ser eleito para o cargo que ocupa hoje. Ghebreyesus
voltou a elogiar o trabalho realizado pelo Instituto do Câncer Infantil e
Pediatria Especializada (Icipe) gestor do hospital.
O ilustre
visitante enfatizou, com entusiasmo, depois de visitar todo o hospital e mais o
Bloco II, que está em fase de finalização, com 92% concluído: “Sem qualquer
exagero, este hospital poderia facilmente servir de modelo para outros países.
Hoje, como diretor-geral da OMS, eu examinarei as formas de usar o modelo que
existe aqui para influenciar outros hospitais”, explicou Ghebreyesus.
A visita a uma das pacientes
Seu parecer e o elogio feitos, partido da maior
autoridade do mundo em saúde, depois da visita, além de conversar com usuários
e voluntários, foram de grande importância para todos aqueles que, desde a fase
embrionária, passaram a gestar tamanho sonho, fruto da parceria entre a
sociedade do Distrito Federal e o governo. “Um dos princípios que ajudei a
moldar é justamente este: deve haver uma parceria entre o governo e a
comunidade; ela também deveria contribuir com a sua parte. Valorizo muito esse
princípio de parceria. É preciso consolidá-lo mais ainda”, disse Ghebreyesus.
Um dos fatores que mais impressionou o visitante
foi a interação da equipe com as crianças e adolescentes atendidos. “Percebe-se
claramente o vínculo de apego humano, entre os profissionais e as crianças que
eles tratam. Isso, para mim, foi emocionante”, afirmou. Ele fez questão de
parar em uma das brinquedotecas para jogar cartas com Maria Esther Modesto,
três anos, que se encantou com a simpatia do diretor-geral.
Voltamos, aqui, à imagem inicial deste texto, em
que comparamos o nascimento do Hospital da Criança de Brasília José Alencar com
a doce espera de uma criança. E hoje, como se estivéssemos com ela nos braços,
pensamos em agradecer a Deus pela dádiva de ver um sonho se materializando de
forma tão bonita e tão emocionante.
Agora, é esperar ansiosamente pelo “batizado” desse
“bebê”, para que ele continue crescendo e servindo a toda essa comunidade que,
através da Abrace, tanto colaborou e contribuiu para sua chegada.
É uma paternidade que a história não haverá de
permitir que seja reivindicada por ninguém, a não ser por aqueles que passaram
noites insones, durante anos a fio, cuidando de sua integridade e crescimento.
(*) Jane Godoy – Coluna 360 Graus – Fotos: Juceli
Cavalcante – Divulgação – Correio Braziliense