Desmatamento compromete futuro do Centro-Oeste
*Por Circe Cunha
Há uma unanimidade corrente entre os antigos
moradores da Região Centro-Oeste: o clima em toda essa imensa área tem mudado
bastante nos últimos anos. Entre as alterações observáveis, o que chama a atenção
dos moradores é o aumento significativo das temperaturas médias, com o
prolongamento acentuado dos períodos de seca e, consequente, redução das
estações chuvosas, que passaram a ficar mais condensadas e muito mais violentas
e imprevisíveis.
Para os que habitam as áreas rurais dessa região,
as modificações climáticas são mais sentidas. Não são poucos os que acreditam
que as mudanças bruscas do clima trazem maus presságios de que, a prosseguir no
processo de erradicação do cerrado para dar lugar aos grandes latifúndios de
monocultura, em breve toda a parte central do país pode vir a se transformar
numa gigantesca caatinga, última etapa de vegetação antes de se tornar um
deserto árido e inóspito.
Por anos, os mais renomados ambientalistas vêm
alertando para essa catástrofe. O que hoje é visto com orgulho como o grande
celeiro do Brasil e do mundo, pode, em breve, virar uma planície coberta de
areias escaldantes, semelhantes as que existem no norte do Continente Africano.
O delicado equilíbrio ecológico da região e as
intrincadas cadeias que permeiam esse imenso ecossistema, que ainda hoje são
incompreendidos na sua inteireza, poderão desaparecer por completo, trazendo
prejuízos incalculáveis não só para os habitantes dessa região, onde está
situada hoje a capital Brasília, mas também para todo o país indistintamente.
Reportagem trazida pelo CB, na quinta-feira (21/6),
mostra que apenas entre 2016 e 2017, o cerrado perdeu 14.185km² de vegetação nativa
devido ao desmatamento incontrolável. Os técnicos do governo, no entanto,
comemoram esses números afirmando que, com relação ao período de 2015 a 2017,
foi constatada diminuição do desflorestamento da ordem de 53%. Para tanto, o
governo aposta numa “intensificação do diálogo”, ou seja lá o que isso
significa. O fato é que o pato manco em que se transformou o governo em fim de
expediente, com 90% de índices de rejeição, pouco ou nada pode fazer para
contornar o poderoso lobby da bancada do agronegócio com assento no Congresso.
Na realidade, o que se tem é uma ligação direta
entre desmatamento e os preços das commodities no mercado internacional. À
medida que os preços sobem, aumentam também as áreas para o plantio e a
formação de pastos. O desflorestamento do cerrado é, pois, uma questão apenas
de preços de mercado e de demanda por proteínas. De objetivo, o que se observa
é que 50% da cobertura original do cerrado já não existe mais.
Calcula-se que tenha desaparecido também metade ou
mais da fauna que habitava essas regiões. Com a devastação sem precedentes,
muitos rios e riachos simplesmente secaram, se transformando em caminhos
naturais de areia e pedras. Do ponto de vista do bioma e da imensa população
marginalizada pela intensa mecanização da lavoura, diferenciar desmatamento
legal de ilegal não faz sentido algum, já que ambos concorrem para a degradação
ambiental dessa imensa região que permeia 12 estados.
Somente a constatação de que metade desse precioso
bioma simplesmente virou poeira e pasto demonstra, de forma cabal, que os
prejuízos causados ao meio ambiente da região são infinitamente superiores a
todo e qualquer lucro gerado pelo agronegócio.
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A frase que foi pronunciada
“Assim como os jogadores devem buscar o gol com
boas jogadas, os locutores devem descrever o jogo com entusiasmo no lugar de
bater papo durante a transmissão da Copa do Mundo.”
(Dona Dita na cadeira de balanço enquanto tricota o
seu cachecol)
(*) Circe Cunha - Coluna "Visto, lido e
ouvido" - Ari Cunha - Correio Braziliense - Foto/Ilustração: Blog - Google