Procuram-se vices - Sete dos oito pré-candidatos ao
GDF ainda não escolheram os políticos para compor a chapa majoritária. O tempo
de televisão é um dos grandes diferenciais na negociação, mas especialistas
apontam a importância do perfil ficha-limpa
*Por Helena Mader
Apenas um dos oito pré-candidatos ao Palácio do
Buriti definiu o vice na aliança para as eleições de outubro. A dificuldade em
eleger um parceiro de chapa para a disputa eleitoral é hoje um dos grandes
desafios na formação de coligações. Diante dos obstáculos impostos pelo
financiamento público, há quem busque um empresário com capacidade de injetar
recursos próprios para turbinar a chapa. Outros políticos investem nos
evangélicos, um dos segmentos hoje com maior potencial de atrair votos. Jovens
e candidatos ficha-limpa também são valorizados nesse mercado. Mas o fator de
maior peso nas negociações ainda é uma commodity antiga e valiosa: o tempo de
televisão.
De acordo com a Lei Orgânica do DF, o papel do vice
é substituir o titular em casos de ausência ou auxiliá-lo, sempre que convocado
para missões especiais (leia O que diz a lei). Como a Constituição do Distrito
Federal não detalha com minúcias o trabalho do número dois do Palácio do
Buriti, a atuação varia muito de acordo com o perfil de quem ocupa o posto. Na
época do governo de Joaquim Roriz, por exemplo, a vice, Maria de Lourdes
Abadia, tocava projetos na área social. Na gestão de Agnelo Queiroz, o vice do
petista, Tadeu Filippelli, comandou toda a área de obras do Executivo, com
ingerência em empresas como a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).
O atual número dois, Renato Santana, antes de romper com o governador Rodrigo
Rollemberg, acumulou o cargo com a gestão de várias administrações regionais.
"O vice tem de representar boas alianças partidárias, mas,
sobretudo, agregar credibilidade e legitimidade" - (Emerson Masullo,
professor de ciência política e especialista em políticas públicas pela
Universidade de Brasília (UnB)
Potencial
Se na
gestão o papel do vice é indefinido, na campanha, a missão do companheiro de
chapa é só um: agregar votos. O consultor político e professor da Universidade
Católica de Brasília Creomar Souza afirma que, na construção da chapa
majoritária, são levados em conta, prioritariamente, fatores como o tempo de
televisão e o potencial de alavancar os candidatos proporcionais, tanto no
âmbito da Câmara Legislativa quanto no da Câmara dos Deputados. “O suporte
partidário é um dos principais elementos. A escolha do vice passa por uma
questão mais pragmática. Tão importante quanto ser competitivo e ganhar eleição
é ter uma coalizão que permita governar depois”, acrescenta Creomar.
O
especialista cita como exemplo a preocupação do deputado federal Jair Bolsonaro
(PSL-RJ), pré-candidato ao Palácio do Planalto, em encontrar um vice que
agregue tempo de propaganda eleitoral. “O partido dele tem apenas 40 segundos,
e a gente sabe que a tevê decide a eleição”, exemplifica Creomar Souza. O
cientista político diz que, além do tempo de televisão, a estrutura partidária
é uma preocupação relevante na formação das chapas. “Uma campanha precisa de
voluntários, de estrutura, de recursos do fundo partidário. É só a partir disso
que os partidos buscam alguém que eventualmente possa criar empatia com algum
grupo eleitoral ou que tenha determinado perfil”, conclui.
No PSB, a
preocupação com a escolha do vice é ainda maior depois do ruidoso rompimento
entre o governador Rollemberg e Renato Santana. Os atritos começaram em janeiro
de 2016, quando uma cunhada do vice morreu de dengue hemorrágica. Santana usou
as redes sociais para criticar a política econômica da administração e os
cortes realizados em vários setores. Um ano depois, após o reajuste das tarifas
de ônibus, Renato criticou a medida e, em retaliação, Rollemberg exonerou o
vice do cargo de administrador regional de Vicente Pires.
Aprendizados
O
presidente regional do PSB/DF, Tiago Coelho, conta que “ficaram aprendizados”
com relação aos atritos de Rollemberg e o número dois do governo. Segundo o
líder partidário, a busca de um vice para o governador na campanha à reeleição
envolve a identificação de um “político comprometido com a cidade”. “É preciso
que seja representativo de várias causas, e não um corporativista. Não abrimos
mão de que seja alguém comprometido com esse governo e com o que ele tem feito,
desde o saneamento fiscal até a questão da ética e da transparência. Uma pessoa
ficha-limpa e que trabalhe fazendo críticas construtivas e propositivas”,
ressalta Tiago.
No PR,
também seguem sem desfecho as buscas de um candidato a vice-governador para a
chapa de Jofran Frejat. O grupo teve negociações com o PDT, de Joe Valle; com o
MDB, de Tadeu Filippelli; com o PSDB, de Izalci Lucas; e com o DEM, de Alberto
Fraga. As tratativas, entretanto, seguem sem conclusão, especialmente por causa
da dificuldade de decisão no PDT: o partido não sabe se fará coligação com o PR
ou com o PSB, de Rollemberg.
O
presidente regional do PR, Alexandre Bispo, diz que, apesar da falta de recursos
para as campanhas, não está no horizonte buscar um vice do setor produtivo, que
contribua financeiramente com a chapa. “O nosso objetivo é ter um vice que
tenha identidade com o nosso candidato, o Jofran Frejat. É preciso que seja uma
pessoa com interesse em colaborar e em sintonia com o governo para que não haja
riscos de ruptura, como a que houve nessa gestão”, diz Alexandre, em menção às
brigas entre o governador e Renato Santana.
Só o PSol definiu a chapa majoritária. Fátima Sousa é a pré-candidata ao
Executivo local pelo partido, tendo como vice a assistente social e conselheira
tutelar Keka Bagno.
"O suporte partidário é um dos principais elementos. A escolha do
vice passa por uma questão mais pragmática" - (Creomar Souza,
consultor político e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB)
O que diz a lei
O artigo 92 da Lei Orgânica estabelece que “cabe ao vice-governador substituir
o governador em sua ausência ou impedimento e lhe suceder no caso de vaga”.
Ainda de acordo com o texto, o vice, entre outras obrigações que lhe forem
atribuídas por leis complementares, “auxiliará o governador, sempre que por ele
convocado para missões especiais”. A Lei Orgânica define ainda que, em caso de
impedimento do governador e do vice, ou de vacância dos respectivos cargos,
serão, sucessivamente, chamados ao exercício da chefia do Executivo o
presidente da Câmara Legislativa e o presidente do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios. O dispositivo traz outras regras que devem
ser seguidas pelo vice: residir no Distrito Federal e não poder se ausentar do
DF por mais de 15 dias sem autorização da Câmara Legislativa — sob pena de
perda do cargo. No ato da posse e no término do mandato, o governador e o vice
devem apresentar uma declaração pública de bens.
Ficha limpa e legitimidade
Emerson
Masullo, professor de ciência política e especialista em políticas públicas
pela Universidade de Brasília (UnB), reforça que o vice ideal deve ter
identidade com a sociedade civil, especialmente entre o eleitorado de jovens e
adultos de até 35 anos. “Um perfil como esse daria muita solidez ao cabeça de
chapa”, garante Masullo. “O vice tem de representar boas alianças partidárias,
mas, sobretudo, agregar credibilidade e legitimidade. No Brasil, os políticos
sempre privilegiaram mais a aliança partidária com o objetivo de conquistar
tempo de televisão e estrutura das legendas, mas, hoje, as coisas mudaram. Um
vice com boa imagem social pode fomentar uma enxurrada de doações individuais”,
exemplifica.
“O Brasil tem uma população cada vez mais velha e
enfrenta questões sociais latentes, relacionadas à saúde, à segurança pública e
à representatividade da classe política perante a sociedade”, acrescenta
Masullo. “Para agregar, um vice deve representar uma terceira via, precisa ser
alguém que tenha um passado idôneo e que venha de uma categoria profissional
com identidade e legitimidade perante a sociedade, pessoas ligadas à classe
médica, à docência, à segurança, por exemplo. Ou que tenham carreira e
trajetória consolidadas em áreas que hoje estão socialmente colapsadas”, diz o especialista.
(*) Helena Mader – Fotos: Breno Fortes/CB/D.A.Press –Minervino
Junior/CB/D.A.Press – Manoel Lira - Correio Braziliense