Em 15 de abril de 1955, a área onde seria
construída a nova capital era, finalmente, definida. O Sítio Castanho, uma
imensa vastidão de cerrado, seria desapropriado para dar lugar a uma cidade
O Sítio Castanho foi definido pela Comissão de Localização da Nova
Capital Federal como o local ideal para receber Brasília. A Fazenda do Bananal
(D) abrigaria o Plano Piloto
O mês de abril guarda outras datas importantes para
a preservação da memória de Brasília, além do aniversário da cidade. Há 63 anos, era escolhido o sítio onde seria erguida a capital. A Comissão de
Localização da Nova Capital Federal foi a responsável pelo estudo que resultou
na escolha do Sítio Castanho, em 15 de abril de 1955. A definição da área
permitiu as primeiras desapropriações de terra para erguer Brasília em meio ao
Planalto Central. A data é desconhecida por muitos brasileiros, mas historiadores
da capital tentam resgatá-la.
A escolha do Sítio Castanho, onde Brasília foi
erguida, só foi possível devido a um decreto assinado pelo então presidente,
Getúlio Vargas, em 1953. O documento criava a Comissão de Localização da Nova
Capital Federal, responsável por fazer estudos e escolher a área para a
construção da cidade. O grupo, presidido pelo então chefe do gabinete militar
da Presidência da República, o general Agnaldo Caiado de Castro, contratou uma
empresa para fazer um levantamento aerofotogramétrico — reunião de dados
topográficos por meio de fotografias aéreas.
Concluída essa etapa, uma empresa americana foi
contratada para analisar as informações e propor os melhores lugares para a
construção de Brasília. O trabalho ficou conhecido como Relatório Belcher.
Caberia aos integrantes da comissão escolher o local exato para erguer a
cidade. Definido o Sítio Castanho, o grupo levou a demanda até o presidente da
República. “Getúlio Vargas suicidou-se em 1954 e o presidente que assumiu, Café
Filho, não quis assinar o decreto que autorizava a desapropriação da área para
a construção de Brasília”, contou o professor e historiador Jarbas Silva
Marques.
Segundo ele, foi o governo de Goiás que deu início à desapropriação de
terras, por meio de uma lei estadual. O historiador lembra o esforço do grupo
para conseguir tirar do papel a ideia de construir Brasília. “O marechal
Pessoa, presidente da comissão, solicitou um avião ao ministro da Aeronáutica
e, acompanhado de Ernesto Silva, dirigiu-se a Goiânia para expor o impasse,
além de fazer um apelo ao governador.”
Marques reforça a necessidade de lembrar a data, importante para a
cidade e para o Brasil. “É preciso fazer justiça a Getúlio Vargas, que assinou
o decreto criando a comissão. As pessoas ficam nessa visão ‘juscelinesca’, mas,
se não fossem Vargas; o marechal Pessoa, que presidiu a comissão; e o governo
de Goiás, que desapropriou as terras, Juscelino não conseguiria fazer
Brasília”, comentou.
O próximo passo coube ao então governador de Goiás, José Ludovico. Ele
buscou apoio de procuradores e desembargadores favoráveis à mudança para
encontrar uma solução. Eles decidiram pela criação da Comissão de Cooperação
para a Mudança da Capital Federal. A primeira fazenda a ser desapropriada foi a
do Bananal, em 30 de dezembro de 1955, onde estão a Asa Norte, o Eixo
Monumental e a Asa Sul. Ela fazia parte da área do Sítio Castanho.
Arquivo - Partes do Relatório Belcher, que está disponível à
população no Arquivo Público
A documentação sobre o Relatório Belcher pertencia
à Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e chegou ao Arquivo Público
do Distrito Federal em 1987. São fotos aéreas, mapas e o relatório elaborado
pela comissão. “É mais um documento importante da história de Brasília que
chamamos de antecedentes, como as Missões Cruls e a excursão do General Poli
Coelho. Uma peça rara que compõe o conjunto documental que proporciona as
ligações sobre a história da cidade”, comentou a superintende do Arquivo Público,
Marta Célia Vale. Segundo ela, a documentação está quase toda digitalizada e
qualquer cidadão tem acesso a ela.
Linha do tempo
8 de junho de 1953 - O presidente Getúlio Vargas assina o Decreto nº
32.976, que cria a Comissão de Localização da Nova Capital Federal
Janeiro de 1954 - A empresa contratada pela comissão conclui os trabalhos de
aerofotogrometria
25 de fevereiro de 1954 - A empresa americana Donald J. Belcher and Associates Incorporated é
contratada para analisar a documentação e selecionar os sítios mais favoráveis
para a construção de Brasília
24 de agosto de 1954 - Getúlio Vargas se suicida
5 de fevereiro de 1955 - Representantes do governo de Goiás e da comissão se
encontram no ponto mais alto do Sítio Castanho, onde hoje é o Cruzeiro, no
Eixo Monumental
15 de abril de 1955 - É realizada a reunião que decidiu oficialmente pelo
Sítio Castanho
30 de dezembro de 1955 - Em solenidade no Palácio das Esmeraldas, em
Goiânia, é assinada a desapropriação da Fazenda Bananal, onde seria
construído o Plano Piloto
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Fonte: Thaís Paranhos – Correio
Braziliense