Deputado distrital Chico Leite (Rede) - “O que
Rollemberg fez comigo toda a cidade sabe”
Depois de 16 anos exercendo mandato de deputado distrital, qual é o seu
sentimento ao deixar a política?
Tenho um sentimento de gratidão pela oportunidade de servir à sociedade,
em geral, e aos que acreditaram em mim e me confiaram os mandatos,
especialmente. Mas me sinto ainda mais devedor dos que ficaram comigo até o
fim, enfrentando, corajosamente, a tentação da política como forma de ascensão
econômica e social ou como balcão de negócios, ou espaço para a realização de
vaidades e desejos inconfessáveis.
Sai magoado com Rodrigo Rollemberg, a quem seu partido, a Rede, apoiou
na disputa ao GDF?
Saio com o coração sereno e a consciência tranquila que só podem ter
aqueles que honram os compromissos e não abandonam a causa nem mesmo quando já
não têm certeza de que podem contar com a reciprocidade da honradez
alheia.
Houve traição?
O que Rollemberg fez comigo, toda a cidade sabe.
Qual vai ser a marca de seus mandatos?
Gostaria que fosse a demonstração de que nem todos os políticos são
iguais, e que é possível fazer da política um lugar de gente honesta,
sonhadora, desprendida de interesses particulares ou meramente corporativos,
com espírito público e disposição para se dedicar ao bem comum, como é a imensa
maioria do nosso povo, em Brasília e no Brasil.
Há um pedido de intervenção na Rede no DF. Qual é a sua avaliação sobre
esse movimento?
Não é próprio da nova política, que a Rede se propõe representar, tomar
decisões sem respeito à democracia interna. Penso que o esforço, nesse momento,
deveria ser pela união em torno da manutenção da Rede, disposta a trabalhar por
causas, não por cargos.
Onde Rollemberg errou na gestão?
Alardeava princípios da nova política ao mesmo tempo em que mantinha um
núcleo de decisões distante da formação da opinião e da sociedade civil. Houve
quem atribuísse à inexperiência e quem preferisse chamar de soberba. Expus essa
crítica várias vezes, na esperança de ser ouvido, porque não sabia que esse
comportamento expressava um estilo do próprio governador.
Você votou em Ibaneis?
Votei conforme minhas convicções, com o que considerava melhor para
Brasília, como sempre fiz.
Qual é a sua expectativa em relação ao governo dele?
Espero coragem, para enfrentar os desafios, entre eles, equilibrar a
responsabilidade fiscal com a retomada do desenvolvimento; ética e
transparência, para não deixar nossa capital voltar às páginas policiais dos
noticiosos; humildade, para aprender com as diferenças; e trabalho, muito
trabalho. Estou otimista.
É possível voltar ao MP com entusiamo e isenção?
Fui um promotor de justiça na Câmara Legislativa, combatendo a
corrupção, fiscalizando, investigando, representando as autoridades
persecutórias sobre desvios e abusos, propondo inquéritos parlamentares e
relatando cassação de deputados e o impedimento de um governador, com o
entusiasmo e a responsabilidade de quem sabe que deve cumprir o dever mesmo
diante das missões mais espinhosas, e sempre com a isenção e a equidistância
necessárias à defesa da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis, que estão além e acima dos interesses dos políticos e dos
partidos.
Vai tentar um novo mandato em 2022?
Dia 7 de janeiro agora, volto à minha Casa, o MPDFT, e reassumo a 11ª
Procuradoria de Justiça Criminal. Minha prioridade hoje é dar o melhor de mim
para exercer mais essa missão que a vida me confiou.
Nova função
O vice-governador Paco Britto (Avante) vai exercer uma função na
estrutura de poder do governo Ibaneis Rocha (MDB) bem mais ativa do que Renato
Santana (PSD) vinha desempenhando nos últimos anos, no governo Rollemberg. De
político do baixo clero, presidente de um partido minúsculo, o PTdoB que se
transformou em Avante, que sempre negociava, em todas as eleições, coligações
para deputados distritais, Paco agora é o número dois na hierarquia de poder do
Distrito Federal. Na fase de transição, ele se firmou como articulador político
e institucional.
Advocacia mais uma vez representada
Mais uma advogada vai assumir cargo estratégico no governo Ibaneis. O
novo governador anunciou ontem Kaline Gonzaga Costa como chefe de gabinete
da governadoria. Nos últimos cinco anos, ela exerceu o cargo de chefe de
gabinete da Presidência do Conselho Federal da OAB.
Com segurança, todo cuidado é pouco
Depois da facada no candidato Jair Bolsonaro (PSL), em plena campanha,
as equipes de segurança pública do Distrito Federal, da Polícia Federal e das
Forças Armadas estão trabalhando em detalhes para que tudo dê certo na posse do
novo presidente da República. Nessa onda, grupos radiciais têm se apresentado
como terroristas para tumultuar ainda mais o trabalho de inteligência. Mas
todos os detalhes têm sido checados, como uma maleta abandonada ontem perto do
Ministério do Planejamento, que poderia conter explosivos. A Polícia Civil e a
Polícia Militar estão atentas, acionadas pelo atual secretário de Segurança
Pública, Alessandro Moretti. Tudo tem sido acompanhado também pelo próximo
titular da pasta, Anderson Torres. Os dois têm afinidade, identidade e vão trabalhar
juntos na próxima gestão. Este é o primeiro teste do funcionamento da segurança
na capital do país, que deverá provocar muitas tensões com Bolsonaro no comando
do Palácio do Planalto, pelos radicalismos e intolerâncias que se acirraram na
campanha.
Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital” – Fotos: Minervino
Junior/CB/D.A.Press - Ana Rayssa/CB/D.A.Press - Ed Alves/CB/D.A.Press
- Correio Braziliense
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