O texto com as modificações feitas pelo governador Ibaneis Rocha deve
chegar hoje à Câmara Legislativa: distritais, ainda em recesso, exigem do
governo detalhes da proposta
*Por Ana Viriato » Cézar Feitoza
Por aprovação, GDF muda projeto da saúde - O texto a ser encaminhado
para a Câmara Legislativa prevê expansão do modelo de gestão do Instituto
Hospital de Base limitado aos hospitais regionais de Taguatinga e de Santa
Maria, ao Hmib e às UPAs. Dessa forma, não alcançaria toda a rede
Para assegurar a aprovação do projeto de lei que prevê a expansão do modelo de gestão do Instituto Hospital de Base (IHBDF), o governador Ibaneis Rocha (MDB) fez modificações no texto original. O chefe do Buriti acatou parcialmente a sugestão dos distritais de, a princípio, não estender o novo formato a todo o sistema de saúde, limitando-o ao Hospital Regional de Santa Maria e às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Ibaneis, no entanto, incluiu o Hospital Materno-Infantil de Brasília (Hmib) e o Hospital Regional de Taguatinga na proposta que deve chegar hoje à Câmara Legislativa. “Com essa contraproposta, quero avançar nessa questão. Acredito que os resultados vão aparecer e, depois, nós expandiremos o instituto para toda a rede pública de saúde”, afirmou o chefe do Buriti.
A alteração ocorreu após reunião do secretário de Saúde, Osnei Okumoto,
com parlamentares. Outros pedidos dos deputados passam pelo aperfeiçoamento do
texto para evidenciar que benefícios ou cargos do funcionalismo não sejam
extintos e pela exigência de que a administração dos centros de saúde ocorrerá
pelo serviço social autônomo e, não, por Organização Social (OS). “Vamos ser
claros: para aprovar um projeto desses, o governo precisa ter 13 votos. Assim,
ele terá de construir as alterações que os deputados sugeriram”, explicou o
presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente, também do MDB.
O pacotão do Palácio do Buriti inclui também a criação de um programa de
renegociação de dívidas contraídas por pessoas físicas e jurídicas com a
Fazenda; a criação de três regiões administrativas; a implementação de
gratificação pelo serviço voluntário de servidores da Secretaria de Segurança;
e outras medidas. “Temos de votar dois projetos importantes para justificar uma
sessão extraordinária: o da saúde e o da segurança”, indicou Prudente.
"Haverá apenas uma realocação. As pessoas poderão fazer a opção de
trabalhar dentro da Organização Hospitalar ou em outra localidade da Secretaria
de Saúde" - (Osnei Okumoto, secretário de Saúde)
Críticas
O texto original da saúde previa a expansão, de forma gradativa, do
formato de gestão do IHBDF para hospitais regionais, UPAs, Samu e Unidades de
Referência Distrital (URDs) — o modelo permite compras sem licitação e
contratações pelo regime celetista. Por administrar o núcleo da rede, o
Instituto passaria a se chamar Organização Hospitalar do DF (OHDF).
Na visão dos parlamentares, além de debate e relatórios sobre os
resultados do IHBDF no último ano, faltam esclarecimentos no texto do projeto.
“Não existe um planejamento de implementação do novo modelo ou estimativa de
dotação orçamentária. Não se sabe como será a relação com servidores.
Precisamos que as lacunas sejam preenchidas com dados e informações. Há uma
intuição no governo de que este é o formato adequado? Tudo bem. Mas precisamos
trabalhar com evidências e comparativos”, afirmou Leandro Grass (Rede), que se
declara independente.
Na oposição, Chico Vigilante (PT) indicou a instabilidade do governo.
Isso porque o texto original da proposição chegou à Casa na última semana e a
exposição de motivos, somente ontem. Também durante a reunião, o governo
apresentou uma nova minuta da iniciativa. “Pedimos que o projeto seja retirado
de tramitação e que o governo convoque as categorias para discutir. Os deputados
estão dispostos a ajudar, desde que a discussão não seja feita de forma
atabalhoada”, alertou.
Vice-presidente do Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico), Carlos
Fernando declarou que nenhum trecho do texto enviado à Casa pode ser
aproveitado. “O governador está fazendo o contrário do que prometeu na
campanha. Ele disse que não mexeria com a carreira do servidor e que
conversaria com os sindicatos”, criticou. Para o sindicalista, o novo modelo
significa a privatização da saúde.
Defesa
Após o encontro, o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, alegou que o
governo está aberto ao diálogo. Esclareceu, ainda, um dos pontos mais polêmicos
da matéria, ao assegurar que carreiras de servidores não serão extintas.
“Haverá apenas uma realocação. As pessoas poderão fazer a opção de trabalhar
dentro da Organização Hospitalar ou em outra localidade da Secretaria de
Saúde”, explicou. E completou: “Temos de receber as propostas dos deputados
para que possamos analisá-las. Em relação às perguntas feitas, logicamente, vamos
sentar com a equipe para viabilizar um texto melhor. Depois disso tudo,
verificaremos como consolidar todas as informações e necessidades, oferecendo o
melhor para a população”.
Na exposição de motivos do projeto — trecho da matéria que deve elencar
justificativas para a aprovação —, Osnei afirma que o formato de gestão
implementado em janeiro de 2018 gerou “resultados significativos, motivados por
modelo de gestão responsável e estruturado, acompanhamento de resultados
frequente e agilidade de compras e contratações, regidas por regulamento
próprio”.
No texto, há um quadro com demonstrativos de valores poupados na compra
de 21 itens pelo IHBDF, em relação aos preços anteriormente praticados pela
Secretaria de Saúde. Na aquisição de órteses, próteses e materiais especiais
(OPMEs) de trauma e ortopedia, por exemplo, o Instituto pagou R$ 8,2 milhões,
em vez dos R$ 16,1 milhões desembolsados pela pasta, gerando uma economia de
49%.
A autoconvocação da Casa precisa ser publicada no Diário da Câmara Legislativa
com 24 horas de antecedência. Caso a sessão extraordinária não ocorra nesta
semana, a expectativa é de que os projetos sejam analisados apenas após o fim
do recesso parlamentar. O Legislativo local retoma as atividades em 1º de
fevereiro.
R$ 584.345.416,01: Repasses da Secretaria de Saúde ao
IHBDF em 2018 -R$ 424.675.486,41: Custo da folha
de pagamento de servidores e celetistas - R$ 119.775.420,60: Montante
gasto pelo instituto com insumos e despesas gerais - R$ 3.709.042: Valor recebido pelo IHBDF referente a
emendas parlamentares
Memória - Debate e resistência
Há dois anos, o então governador Rodrigo Rollemberg (PSB) enfrentou uma
série de embates para conseguir a aprovação, em plenário, do projeto que criou
o serviço social autônomo Instituto Hospital de Base do Distrito Federal
(IHBDF), responsável pela gestão da maior unidade hospitalar da capital, com
autonomia para realizar compras sem licitação e contratações pelo regime
celetista. As discussões duraram três meses, nos quais sindicalistas
peregrinaram pelos gabinetes parlamentares em investidas contrárias à medida.
Protocolada em março de 2017, a proposta foi tema de audiência pública na Câmara
Legislativa em abril, sob críticas. No mês seguinte, 40 pessoas chegaram
a ocupar a sala da direção-geral do centro de saúde. A votação da matéria
adentrou a madrugada de 22 de junho, sob os olhares atentos de cerca de 300
manifestantes, e terminou em um placar apertado: 13 x 9. Mesmo após o sinal
verde dos deputados, houve percalços. PT e MDB ajuizaram uma ação direta de
inconstitucionalidade (ADI) contra a legislação, mas, em novembro daquele ano,
o Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) a
considerou válida. O modelo funciona na capital desde janeiro de 2018, último
ano da gestão socialista.
(*) Ana Viriato – Cézar Feitoza – Fotos: Luis Nova/CB/D.A.Press –
Correio Braziliense