Aumenta procura por matrículas em escolas militarizadas do DF No CED 1
da Estrutural, diretoria disse que “turmas estão lotadas e professores se
sentem mais seguros”. Modelo funciona em quatro unidades
Após votações conturbadas, com direito a bate-boca entre policiais
militares e integrantes do Sindicato dos Professores (Sinpro), quatro
escolas públicas do Distrito Federal vivem dias de transição e tentam se
adequar ao modelo de gestão compartilhada com a Polícia Militar. O regimento
traz consigo novidades que, gradualmente, são inseridas no cotidiano dos
colégios. Embora ainda seja cedo para se avaliar o impacto em questões como
desempenho escolar, alguns efeitos já são sentidos. Em todas as unidades, aumentou
a procura por matrículas.
No Centro Educacional 1 (CED 1), na Estrutual, a capacidade máxima já
foi atingida, de 1,4 mil estudantes. Com aumento da procura por uma
oportunidade no centro de ensino, os que desejam entrar aguardam por uma vaga
de alguém que deixar a escola.
Nas outras unidades onde o novo modelo foi implantado, o número de
alunos matriculados cresceu de forma acentuada. No Recanto das Emas, no CED
308, pais e alunos dormiram na fila em busca de vagas remanescentes. Segundo
dados da Secretaria de Educação, após o período aberto para preencher as vagas
ainda existentes, o número de alunos aumentou de 880 para 950.
O maior crescimento, contudo, foi em Ceilândia, no CED 7. A quantidade
de estudantes aumentou de 1,6 mil para 2 mil. Não há mais vagas. Estão abertas
oportunidades apenas no CED 3 de Sobradinho: são 5 oportunidades restantes para
quem ainda deseja se inscrever. No local, foram abertas mais duas turmas para
comportar a demanda. Eram 1,6 mil estudantes. Hoje, são atendidos 1.680.
No CED 1, a diretora Estela Accioly conta que a lista de espera de
matrícula “aumentou muito” desde a chegada dos militares. “Ainda é a
segunda semana de aula, mas já é possível observar muita diferença. São poucos
pais insatisfeitos com a gestão compartilhada. As turmas estão lotadas, os
professores se sentem mais seguros. Os próprios alunos veem os policiais como
companheiros agora e estão muito mais calmos”, afirma Estela.
O primeiro-tenente Araújo é o responsável pela formação disciplinar dos
alunos no turno da tarde. Ele explica que o papel dos policiais não interfere
na questão pedagógica. “Trata-se de uma gestão compartilhada, não militarizada.
Estamos aqui para dar mais segurança e facilitar o trabalho da educação”,
disse.
Na formação de entrada, os policiais ficam responsáveis por organizar os
alunos. Além disso, conforme conta o tenente Araújo, os PMs colaboram
reforçando conceitos de cidadania, ética e postura. Algumas regras podem ser
observadas: todos devem utilizar calças – nunca short ou saia; as meninas
devem usar coque no cabelo e os meninos precisam apresentar um corte padrão.
São cerca de 700 estudantes, em três turnos, para sete policiais. O
projeto, no entanto, segundo a PM, é que fiquem de 20 a 25 militares em cada
escola, a princípio, voluntários. “Esperamos uma verdadeira transformação tanto
da educação quanto da comunidade em que eles vivem, em questão de convivência e
valores”, resume o tenente.
“Xerife”
Uma das novidades mais curiosas nos colégios é a criação de uma espécie
de “xerife” em cada sala de aula. Com funções e responsabilidades semelhantes
às de um representante de turma, o aluno escolhido irá desempenhar papel
fundamental em questões disciplinares, incluindo o controle de presença dos
colegas de classe.
“Ele que irá fazer uma relação informando aos professores se determinado
colega faltou ou foi embora mais cedo, sem ser notado”, explicou o major Lobato
Marques, um dos PMs responsáveis pela parte disciplinar do CED 1 da Estrutural.
Conforme Lobato explica, por enquanto os “xerifes” têm recebido todo
auxílio dos militares e professores, mas ele estima que em até três meses
estejam aptos para desempenharem as funções sozinhos. “Queremos adotar o modelo
da autogestão, e a ideia é ter a máquina andando por si só dentro deste prazo.
Nosso objetivo essencial é permitir que o professor consiga dar aula e não
perca tempo com questões disciplinares”, completou.
As punições aos alunos faltosos ainda não foram definidas, mas devem
seguir o modelo adotado anteriormente, no qual o estudante
inicialmente receberá uma advertência. Se mantiver o comportamento, os pais
serão comunicados e, caso continue faltando, o Conselho Tutelar também será
informado. O aluno que não comparece à escola em 31 dias é desligado da
unidade.
Veja vídeos:
Secretário de Educação do DF, Rafael Parente vê com bons olhos os dias
de adaptação dos colégios. “O processo está andando muito bem e estamos
prevendo uma fase de transição que dure até dois meses. O projeto de lei está
com a parte jurídica e passa por análise interna ainda”, disse ao Metrópoles.
Pontualidade
Outra novidade é a rigidez quanto à pontualidade dos alunos. No CED
1 da Estrutural, por exemplo, as aulas do turno vespertino têm início às 13h, e
a tolerância é de 50 minutos. Excedido o limite de tempo, os atrasados não
poderão entrar na unidade.
De acordo com Lobato, a rigidez faz parte do regimento disciplinar
militar e evita que se prejudique o andamento das aulas e atividades previstas
para o horário, incluindo o momento quando os alunos são postos “em
forma”. O procedimento militar tradicional consiste em enfileirar os estudantes
antes do início das aulas.
A previsão é que o procedimento seja repetido de segunda a sexta-feira,
pelo menos três vezes ao dia: entrada, intervalo e saída. Os estudantes, por
enquanto, não usam farda e ainda não aderiram à uniformização dos cortes de
cabelo, mas as medidas estão previstas no novo regimento, conforme informou o
major.
Outras unidades
Além do CED 1 da Estrutural, os centros educacionais 3, de Sobradinho, e
308, do Recanto das Emas, já funcionam com o esquema de gestão compartilhada
com a PM. Nos próximos dias, o governo promete encaminhar à Câmara
Legislativa o projeto que formaliza o modelo por meio de lei. O
objetivo é ampliar a iniciativa para 20 instituições ainda neste
primeiro semestre e terminar o ano com 40 sob essa nova forma de
gestão.
O modelo é inédito na capital. As escolas passaram a ser denominadas de
Colégio da Polícia Militar do Distrito Federal (CPMDF). Os
PMs e bombeiros que vão atuar nos centros de ensino são
responsáveis pelas atividades burocráticas e de segurança, como controle
de entrada e saída, horários, filas, além de darem aulas de musicalização,
ética e cidadania no contraturno. Orientadores, coordenadores e
professores permanecerão encarregados do conteúdo pedagógico das classes.
Metodologia
Segundo o secretário de Segurança do Distrito Federal, inicialmente
deve ser elaborada uma metodologia de seleção para levar a
militarização às outras unidades. “Fomos muito procurados por pais e
alunos sedentos pelo projeto. Estamos fazendo estudos para ampliar”, ressaltou
Anderson Torres.
Luísa Guimarães – Manoela Guimarães – Victor Fuzeira : Foto: Michael Melo – Metrópoles