Em crise, UnB volta às aulas - Os cerca de 47 mil alunos da Universidade de Brasília começam o
primeiro semestre letivo do ano hoje. Orçamento enxuto restringe ação da
Reitoria. A instituição deve registrar deficit de até R$ 25 milhões
"A insegurança, de fato, é o que nos deixa mais preocupados. A
partir do momento em que a universidade tenta proteger o seu aluno, o benefício
é mútuo" - (Mariana Leite, aluna de audiovisual)
Começam hoje as aulas para os cerca de 47 mil alunos da Universidade de
Brasília (UnB) e, assim como em anos anteriores, 2019 será marcado pelo desafio
da instituição de manter as portas abertas com um orçamento enxugado. A
estimativa de orçamento para o ano é de R$ 1,798 bilhão. A UnB ainda alega que
os recursos disponibilizados pelo Ministério da Educação (MEC) não sofreram
reajustes. A instituição estima que fechará o ano com deficit entre R$ 20
milhões e R$ 25 milhões.
“Com muito esforço, vamos funcionar adequadamente. Estamos pagando
nossas despesas de forma integral e iniciaremos as aulas sem dívidas
pretéritas; 2019 será um ano difícil, mas a universidade permanece vigilante
com o controle de suas contas”, afirmou a decana de Planejamento, Orçamento e
Avaliação Institucional, Denise Imbroisi.
No entanto, o ano para a universidade já começou com pendências. Dos R$
154,6 milhões que deveriam ser repassados do governo federal — R$ 146,4 milhões
para a manutenção de serviços como limpeza, segurança, luz, água e refeições no
Restaurante Universitário e R$ 8,2 milhões para investimentos —, Denise disse
que apenas 30% está à disposição da UnB.
“Esse contingenciamento nos preocupa. Ainda não recebemos autorização
para fazer investimentos, como adquirir novos equipamentos. A universidade
trabalha de forma limitada. Restringindo e adequando gastos para que as
atividades acadêmicas fluam normalmente”, contou. “A expectativa é de que
liberem os recursos para que nós possamos usar 100%. Aguardamos ansiosamente a
autorização”, completou Denise.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação do MEC,
mas até o fechamento desta edição, não recebeu nenhum posicionamento da pasta
sobre o assunto.
Professores
A UnB teme uma greve de professores da instituição caso deixe de pagar
aos docentes a URP (Unidade de Referência de Preços) — benefício que equivale a
26,05% do vencimento dos professores, concedido desde 1987 (leia Entenda o
caso). “Ainda não sabemos muito bem como a situação vai se desenrolar, mas a
falta de profissionais pode ser um dos problemas mais importantes deste ano.
Mesmo assim, temos tentado trabalhar com a perspectiva de perda de pessoal. A
missão da universidade é uma missão de ensino. Temos feito todos os esforços
para continuar junto aos alunos”, comentou o decano de Ensino de Graduação,
Sérgio Freitas.
O assunto mobilizou a Associação dos Docentes da UnB (ADUnB), que
protocolou uma ação judicial pela manutenção do adicional. O sindicato
considera a URP uma conquista histórica. “Temos que atuar pela defesa dos nossos
direitos. Uma redução do salário dos professores traria impactos para toda a
universidade. Por mais que tenhamos um corpo docente qualificado e preocupado
em preservar a reputação da UnB, o fim da URP seria uma catástrofe”, alertou o
presidente da ADUnB, Luís Antônio Pasquetti.
Apesar de não falar em greve, Luís Antônio garante que a polêmica deve
mexer no calendário da instituição de ensino. “Nas próximas semanas, devem
acontecer manifestações e mobilizações para que o benefício se mantenha.
Atualmente, as condições de trabalho já são difíceis, e entendemos que elas
podem piorar caso haja alguma alteração”, explicou.
"A universidade tem de ser acolhedora, e não um espaço hostil que
não dá abertura às opiniões dos universitários. O senso de comunidade precisa
ser cultivado com mais força"- (Hélio Barreto, aluno de teoria crítica e
história da arte)
Conforto aos alunos
Enquanto o imbróglio judicial não se resolve, a UnB espera uma boa
acolhida aos alunos. Durante as férias, a instituição projetou mudanças para se
tornar mais confortável aos universitários. “Temos adotado alternativas para
ficar mais próximos aos alunos. O nosso objetivo maior é formar profissionais
qualificados, portanto, temos que entender as diferenças e respeitar as
diversidades. Administrar as ideologias de vida de cada um dos alunos é
fundamental”, garantiu o decano Sérgio Freitas.
Estudante do câmpus Darcy Ribeiro desde 2015, Hélio Barreto, 23 anos,
fica na expectativa de que as mudanças realmente tenham efeito. “A UnB exige
uma dedicação quase exclusiva dos alunos. Muitos passam quase o dia inteiro
aqui, como eu. Por isso, a universidade tem de ser acolhedora, e não um espaço
hostil que não dá abertura às opiniões dos universitários. O senso de
comunidade precisa ser cultivado com mais força”, opinou o estudante de teoria
crítica e história da arte.
A atual gestão também afirmou que tem priorizado melhorias na segurança.
Reforçou a vigilância, estabeleceu parcerias com a Polícia Militar e investiu
na instalação de mais câmeras de monitoramento. Mariana Leite, 19, que cursa
audiovisual desde o ano passado, espera que as medidas funcionem. “A
insegurança, de fato, é o que nos deixa mais preocupados. A partir do momento
em que a universidade tenta proteger o seu aluno, o benefício é mútuo. Quando
nos sentimos mais seguros, ficamos motivados a explorar melhor as nossas
habilidades”, destacou.
A aula inaugural #InspiraUnB, tema do semestre, está marcada para as 10h
de hoje. Voltada para os cursos diurnos, tratará sobre ciência e cidadania, com
a convidada Natalia Pasternak, pesquisadora colaboradora na Universidade de São
Paulo (USP) e uma das difusoras, no Brasil, da iniciativa Pint of Science, que
busca levar a bares e restaurantes do país debates sobre ciência, em uma
linguagem acessível.
No dia seguinte, às 19h30, a instituição promove a aula inaugural para
os cursos noturnos, com o tema “Humanismo contra a barbárie”. O palestrante
será Milton Hatoum, escritor e ganhador do prêmio Juca Pato de Intelectual do
Ano pelo seu romance mais recente, A noite da espera. Uma novidade deste
semestre é que a aula inaugural da pós-graduação entrou no projeto e será na
próxima segunda-feira, às 14h, no auditório da ADUnB, ministrada pelo professor
Stuart E. Bunn, diretor do Australian Rivers Institute (da Griffith University,
da Austrália). O tema abordado será “Protegendo e restaurando ecossistemas de
água doce na Décadas Internacional para Ação, Água para o Desenvolvimento
Sustentável, da ONU”
Entenda o caso: Aumento de salários
A URP não foi criada como um adicional salarial. Ela surgiu como índice
econômico, em 1987, para reajustar preços e salários — o que, naquela época,
fazia sentido, frente à alta inflação. O índice de 26,05% continua sendo pago
desde então e foi motivo de muitas contestações judiciais, com sindicatos de
professores e funcionários lutando pela incorporação aos salários. A decisão de
interromper o pagamento da URP é fruto de acórdão do Tribunal Regional Federal
da 1ª Região (TRF1), de 22 de maio de 2018, que, no entanto, só foi comunicada
à chefia da universidade em 18 de fevereiro, por meio de notificação da
Procuradoria Federal junto à Fundação Universidade de Brasília, órgão da
Advocacia-Geral da União (AGU) no âmbito da instituição. Reitora da UnB, Márcia
Abrahão cobrou explicações à AGU, mas ainda não recebeu retorno. Ela garantiu
que só tomará providências depois do posicionamento do órgão.
Guia > Confira as cinco coisas que todo calouro deve
saber: Transporte InterCampi »Para quem tem aulas em câmpus
diferentes, a universidade disponibiliza um transporte que faz os itinerários
entre as unidades. O transporte é gratuito e disponível para alunos,
professores e funcionários da UnB de segunda a sexta. Entre no site http://www.unb.br/ , para saber mais sobre as rotas e horários. Transporte IntraCampus »
Para os alunos do Darcy Ribeiro, a UnB disponibiliza um transporte que circula
dentro do câmpus. O ônibus passa por todos os departamentos e circula com saída
do Centro Olímpico de 30 em 30 minutos. O transporte é gratuito e funciona de
segunda a sexta das 7h até as 23h30. Linhas de ônibus »
No site DF No Ponto, https://goo.gl/hXt6Cn , é possível fazer a rota que o estudante precisa para chegar
até a universidade. O site ainda mostra quais são as linhas disponíveis para
chegar ao destino final, o horário de cada uma e o valor da passagem.
Alimentação » O Restaurante Universitário (RU) é uma opção de
alimentação dentro da universidade. Para ter acesso às refeições, é necessário
apresentar a carteirinha de identidade estudantil ou documento de identidade
com foto com o comprovante de matrícula. Os estudantes participantes de
programas de assistência estudantil e indígenas são beneficiados com refeições
gratuitas. Os demais estudantes de graduação e pós-graduação têm acesso às
refeições pelo custo de R$ 2,35 no café da manhã; R$ 5,20 no almoço; e R$ 5,20
o jantar.
Mapas » Quem é calouro geralmente tem dificuldade de se localizar dentro dos
câmpus. Por isso, a UnB fez mapas de localização que ficam no site. O www.boasvindas.unb.br , foi criado para auxiliar os novos alunos.
Contingente: 38.032 Alunos de graduação > 8.822 Alunos
de pós-graduação 2.785 > Professores 3.167
> Servidores técnicos-administrativos - Fonte: Decanato de
Ensino de Graduação da UnB
(*) Caroline Cintra, Augusto Fernandes, Paula Beatriz* .* Estagiária sob supervisão de Ana Paula Lisboa - Fotos:Breno Fortes/CB/D.A.Press - Ana Rayssa/CB/D.A.Press - Correio Braziliense