Foco na gestão para melhorar Saúde -Presidente da
Comissão de Educação, Saúde e Cultura da Câmara Legislativa, Jorge Vianna diz
ao CB.Poder que problemas da rede hospitalar não se resumem às condições
financeiras do governo. Para ele, o servidor não pode ser culpado pelo mau
atendimento
O deputado distrital Jorge Vianna (Podemos)
concedeu entrevista ontem ao programa CB.Poder — parceria do Correio
Braziliense com a TV Brasília — e falou sobre os desafios para se melhorar a
saúde pública do Distrito Federal. De acordo com o parlamentar, uma das
primeiras atitudes deve ser o ajuste da atenção primária. “A porta de entrada e
o futuro da saúde é fazer a parte preventiva. Na gestão passada do GDF, a ideia
de melhorar a saúde básica ficou só no papel”, criticou.
Para
o deputado, que trabalhou nos hospitais regionais do Paranoá e de Samambaia, e
no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), os servidores não podem ser
culpados pela atual situação do sistema. “Temos hospitais sem condições de
atendimento, com estrutura colapsada, e tudo isso recai no trabalhador da
saúde, causando transtornos e desconfortos emocionais que atingem o serviço. A
população acha que somos máquinas e que temos que trabalhar independentemente
de qualquer coisa. Mas, quando não temos recursos, não conseguimos dar o melhor
e isso prejudica”, afirmou.
Por que o senhor votou contra a ampliação
do Instituto Hospital de Base?
Eu não votei contra o instituto, eu deixei de votar
em um projeto que não tinha conhecimento de como seria. Com o passar de um ano
do Instituto Hospital de Base, nós não tivemos a confirmação de que ele deu
certo. Então, quando chegou o novo projeto para o Instituto de Gestão
Estratégica do Distrito Federal (IGESDF), parecido com o do instituto, eu quis
fazer o processo de forma legal. Tramitar na Casa, fazendo audiências públicas
para que nós pudéssemos ouvir os envolvidos para emitir o meu voto. Naquele
momento, por não ter tido tempo de fazer um parecer e avaliar, eu fui contra.
Se a votação fosse hoje, o senhor ainda seria
contra?
Com certeza. Porque ainda não mostrou resultado. O
fato de você mudar o regime, a forma de contratação e de compras não vai
garantir uma melhora na saúde.
Mas não acha pouco o período de um ano
para que o modelo desse resultado?
Se fosse para esse modelo dar resultado, com
certeza teria dado. Os embates acontecem porque estamos fazendo o nosso papel
enquanto parlamentares, quando percebemos que pode acontecer algo de ilícito.
Quando questionamos uma forma de contratação, queremos preservar princípios da
administração pública, como o da ampla concorrência, que não foi respeitado.
Mas se esse modelo se mostrar
viável, acha possível expansão para outros hospitais ou
eventualmente para boa parte da rede?
Sim. O grande motivo de o atendimento não ser tão
eficiente é por conta da celeridade de compras de materiais. A Lei de Licitação
é ampla e não tem uma diferenciação para a saúde. Esse engessamento prejudica o
serviço. Nesse sentido, o IGESDF traz uma flexibilidade, pois não é necessário
seguir as regras. Mas se nós mudássemos a lei, e tirássemos a Saúde do escopo
dela, teríamos celeridade em todos os processos, e, por consequência, uma
melhora na Saúde.
Como deputado, o que o senhor pode
fazer, efetivamente, para melhorar a saúde do DF?
Cobrar e deixar sempre em evidência. Se você não
for na ferida e ficar cobrando e cutucando, nada avança.
É um problema financeiro a questão da
saúde pública? Ou de gestão?
Parte é financeiro, parte é de gestão e parte é
força de vontade. Temos, por exemplo, um projeto para a construção de um
Hospital do Câncer no DF, com orçamento dado pela bancada federal, mas parece
que não há vontade do governo para fazê-lo. Enquanto isso, mortes evitáveis
continuarão acontecendo. No governo passado, o Rollemberg disse que foi
sabotado por servidores da Saúde.
O senhor acha que isso de fato
aconteceu?
O embate foi porque temos uma lei, feita em 2013,
que era para ser contemplada em 2015. Ele tinha dito que ia fazer o pagamento
(reajuste para o servidores) e não fez. Passou quatro anos sem fazer. Isso
causou um mal-estar na relação.
O senhor tem confiança de que esse aumento
saia nos próximos meses?
O governador Ibaneis sinalizou que está garantida a
primeira parcela do reajuste no segundo semestre deste ano. Pelo histórico do
Ibaneis, acredito nele. Mas, enquanto não tivermos uma coisa concreta, a gente
não vai começar o ano. O ano para a saúde ainda não começou, porque é ruim
trabalhar na expectativa e não ter a garantia de nada. A partir do momento em
que ele definir quando a parcela será dada, as coisas vão começar a melhorar.
CB.Poder - Correio Braziliense - Foto: Vinicius Cardoso/CB/D.A.Press