A obra de Claudio Santoro é revisitada
no centenário de seu nascimento: um dos mais importantes compositores
brasileiros
Homenagem a Claudio Santoro - Orquestra Sinfônica do
Teatro Nacional comemora o centenário do compositor em concerto com três obras
do mestre
*Por Irlam Rocha Lima
Um dos mais talentosos, inquietos e polivalentes
artistas da música brasileira, o amazonense Cláudio Franco de Sá Santoro tem
seu nome intrinsecamente ligado a Brasília. Aqui, com relevante passagem pela
Universidade de Brasília (UnB), foi o fundador da Orquestra Sinfônica do Teatro
Nacional, que, em 2019, comemora quatro décadas de existência.
Neste ano há a celebração do centenário do
compositor e maestro, morto em 27 de março de 1989. Hoje, às 20h, no Cine
Brasília, ele terá a memória reverenciada em concerto da OSTN, sob a regência
do maestro Cláudio Cohen. No programa estão incluídas três obras do mestre: 9ª
Sinfonia, Impressões de uma usina de aço e Frevo.
Cohen vê como fundamental a contribuição de Santoro
para a disseminação e o crescimento da música erudita na capital. “Como
professor e diretor do Departamento de Música da UnB de Brasília, fundador e
maestro da Orquestra Sinfônica, ele foi diretamente responsável pela formação
de diversos instrumentistas, compositores, arranjadores e até maestros. O
Sílvio Barbato, que o substituiu à frente do grupo, havia sido seu assistente”,
destaca.
O atual maestro da orquestra foi outro dos
discípulos de Santoro, a quem tinha como um regente preciso e consciente na
construção do discurso musical, “além de exigente ao extremo e temperamental”,
lembra. “Quando se aborrecia com alguma coisa, fechava a partitura, interrompia
o ensaio e ia embora. Isso fazia parte do seu estilo e personalidade. Mas tudo
era relevado, pois os músicos tinham muita admiração por ele”, acrescenta.
Segundo Cohen, Santoro tinha admiração pela obra de
Bach, Beethoven, Brahms e Tchaikovsky, mas valorizava bastante compositores
brasileiros. “No programa dos concertos, com alguma frequência, havia peças de
Camargo Guarnieri, Carlos Gomes, Francisco Mignone, Guerra Peixe e Heitor
Villa-Lobos, entre outros”, recorda-se. “Ele incluía também, mas com
parcimônia, composições dele. Por vezes, levava alguma peça que estava criando
para mostrar nos ensaios e testar com os músicos da orquestra”, complementa.
Na UnB
Integrante do naipe de madeiras da orquestra,
Vaclav Vinecka, que toca oboé, conheceu Santoro quando ele retornou a Brasília
em 1967, depois de participar do programa Artista Residente de Berlim
Ocidental. “Como professores, fomos colegas no Departamento de Música da UnB, o
qual ele viria a chefiar. Da formação da Orquestra Sinfônica do Teatro
Nacional, criada por ele, fiz parte logo no início, ao lado de outros
professores da universidade e da Escola de Música, e dos melhores alunos das
duas instituições”, ressalta.
Um dos seis remanescentes da formação original da
OSTN, Vinecka iniciou sua trajetória musical em 1966, aos 15 anos de idade,
como integrante da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Praga, na antiga
Tchecoslováquia, de onde é originário. “Vim para o Brasil cinco anos depois e
passei a fazer parte da Orquestra Filarmônica de São Paulo. Entre 1973 e parte
de 1975, fui da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA). Contratado pela
Universidade de Brasília, como professor, cheguei aqui no segundo semestre de
1975”, relata.
Para o oboísta, a Orquestra Sinfônica do Teatro
Nacional faz parte da vida dele. “Desde a aposentadoria na UnB, passei a me
dedicar totalmente à orquestra, à qual estou ligado de 1979. Tinha uma relação
de amizade com o Santoro, e também contribuiu para isso o fato de minha filha
Verônica ter sido aluna de balé de Gisele Santoro, mulher do maestro”, comenta.
Nascido em Manaus, em 23 de novembro de 1919,
Cláudio Santoro foi mais do que compositor, arranjador, professor e maestro.
Incansável pesquisador, exerceu ainda o ofício de administrador e representou o
Brasil em conferências internacionais, a convite de diversos governos e
instituições estrangeiros.
Além da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, ele
criou as orquestras da Rádio MEC e Rádio Clube do Brasil. Membro do Conselho
Diretor Interamericano de Música da Organização dos Estados Americanos, da
Academia Brasileira de Artes e da Academia de Música e Letras do Brasil,
dirigiu o Departamento de Músicos de Orquestra da Escola Estatal Superior de
Música Heidelberg Mannhein, na Alemanha Oriental.
Como maestro, regeu importantes orquestras do
mundo, entre elas Filarmônica de Lenigrado, Estatal de Moocou, RIAS Berlim,
Beethovenhalle Bonn, ORTF Paris, Sinfônica da Rádio e Praga, Filarmônica de
Bucarest, Filarmônica de Sofia, Filarmônica de Varsóvia, entre outras. Detentor
da Orem do Mérito Rio Branco e Ordem do Mérito de Brasília, recebeu
condecorações em países como Alemanha, Bulgária, França, Polônia Estados
Unidos, e também em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Em 2015, Santoro – O Homem e sua Música,
documentário dirigido por John Howard Szerman, e direção musical de Alesandro
Santoro, recebeu o troféu Câmara Legislativa, para melhor filme, melhor diretor
e melhor trilha sonora; e Prêmio Marco Antôniuo Guimarães, do Centro de
Pesquisas do Cinema Brasileiro para melhor pesquisa cinematográfica; e Prêmio
Exibição do Canal Brasil.
Orquestra Sinfônica
do teatro Nacional
Concerto comemorativo dos 40 anos em homenagem ao
centenário do maestro Cláudio Santoro, hoje, às 20h, no Cine Brasília
(entrequadra 106/107 Sul). Entada franca. Classificação indicativa livre.
(*) Irlam Rocha Lima –
Foto: Milla Petrillo/CB?D.A.Press – Correio Braziliense