Entrevista Rafael Parente – Secretário de Educação do DF »
Militarização necessária de escolas
Em meio à onda de militarização de escolas, o secretário de Educação,
Rafael Parente, argumentou que a implementação do projeto em 40 dos 693
colégios do Distrito Federal tornou-se necessária devido ao aumento dos índices
de violência nos centros de ensino. “Não adianta a gente chegar com ações de
mediação de conflito, meditação… Em alguns lugares, o remédio precisa ser mais
forte, pelo menos de forma temporária”, pontuou, ontem, em entrevista ao
CB.Poder, uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília.
O senhor acha que a troca do comando do Ministério da Educação afeta o
DF de alguma forma?
A gente sabe que o MEC está com uma série de atrasos e isso estava
afetando o DF. Tenho sido muito demandado pelas mães em redes sociais. Elas
dizem: “Minha filha está até hoje sem os livros”. Tento explicar que é um
programa federal. Isso tem acontecido com várias políticas importantes da
União. É uma pena, porque nossa educação está muito atrasada.
Na semana passada, o senhor se envolveu em uma polêmica com o secretário
de Fazenda, André Clemente, a respeito da compra de computadores para
professores e alunos. Foi resolvido?
A gente lançou um plano estratégico chamado Educa DF, com cinco
bandeiras. Numa delas, que fala sobre inovação, garantimos computadores a todos
os professores da rede distrital, o que, inclusive, é uma promessa de campanha
do governador Ibaneis Rocha. Também dissemos que daremos computadores aos
alunos do Ensino Médio. É um plano para quatro anos e, não, seis meses ou um
ano. Vamos migrar, principalmente no ensino médio, dos livros físicos para os
digitais. É uma estratégia para manter os jovens no Ensino Médio. Se eles o
concluírem, poderão levar os laptops.
A reação de André Clemente deixa claro que alguns compromissos de
campanha de Ibaneis vão esbarrar na falta de recursos?
Temos que entender que existem momentos e papéis. O governador Ibaneis
fez um planejamento e promessas de campanha alinhadas a essa proposta. Ele
pretende cumpri-las. O secretário de Fazenda tem uma expectativa de que todos
do governo estejam atentos às questões orçamentárias. Todos tinham uma
expectativa de que o Brasil sairia dessa crise econômica no início do ano e de
que deslancharíamos muito mais rapidamente. Acho que o colega está aflito e tem
razão. Mas resolvemos a questão.
Em relação às escolas militarizadas, a crítica de educadores é que você
acaba, pelas regras, podando a criatividade dos alunos. O senhor discorda
disso?
O que falo, inclusive para as mais progressistas na educação que têm
ficado com raiva de mim por eu ter defendido essa causa, é que precisamos sair
do lugar de onde estamos e ir até o lugar de fala. Vários colégios têm pedido
para se transformar em escolas de gestão compartilhada. Por que isso? Porque
temos uma realidade lá, da qual as pessoas estão muito cansadas, de violência e
agressividade. Não adianta a gente chegar com ações de mediação de conflito,
meditação… Em alguns lugares, o remédio precisa ser mais forte, mesmo que seja
de forma temporária.
Quantas escolas precisam desse padrão militarizado no DF?
São cerca de 40 centros de ensino. Uma das bandeiras do Educa DF é sobre
as escolas que queremos. Mapeamos os locais que mais precisam da nossa ajuda.
São 190. Desses, cerca de 40 têm problemas sérios quanto à violência. Uma
escola de Samambaia que havia trocado os portões há um mês já tinha marcas de
cinco tiros. As pessoas precisam entender que a realidade que vivemos na
universidade, nas nossas casas, no Plano Piloto, não é a realidade de vários
lugares do Distrito Federal.
Por Ana Viriato - Foto: Ana
Rayssa /CB/D.A.Press – CB.Poder – Correio Braziliense