Tag, Taguá, Taguatinga e as histórias de
personagens inesquecíveis
Crônicas urbanas, crônicas de afeto e do viver (Conceição Freitas)
Alguém do grupo Pioneiros de
Taguatinga perguntou “quem era a pessoa ou celebridade muito conhecida na sua
quadra?”. Até quando contei, havia mais de 500 comentários. Uma crônica pronta e reveladora de quão rica é a fauna
humana, de como alguns de nós marcam sua presença no mundo com uma
singularidade inesquecível. Um suceder de lembranças e saudades de personagens
da infância e da juventude de quem cresceu na cidade-satélite mais potente
de Brasília.
O mudo com um violão sem corda; os gêmeos
doidinhos; um rapaz que tocava música com latas de óleo; o flanelinha que usava
um óculos de arame e sem lente; o porteiro da escola que barrava os alunos que
estivessem com os congas sujos e a menina que levava palha de aço para limpar
os tênis e não perder aula; dona Dorica, que pedia papel velho nas casas e com
eles fazia uma bola imensa, o planeta Dorica.
Um criador de cobra; um travesti negro, alto e
forte chamado Jurema, que ficou na memória de muitos; um pedinte em cadeira de
rodas que ficava assustado quando alguém dizia que ia chover; as celebridades
efetivas: Joaquim Cruz, Jessé, Leila do Vôlei, Skema Seis, Waldick Soriano (não
o cantor de “Eu não sou cachorro não”, mas alguém que usava um chapéu que nem
ele). O Cine Rex.
Era um tempo e um lugar em que se conheciam os
donos dos comércios pelo nome: seu José e dona Maria, da Farmácia São
Francisco. Seu Zé Aparecido e dona Teresinha, da Farmácia Nacional. Seu Gustavo
e dona Laís da Sapataria Silva. Em que o Zé Vencedor abria caderneta para
fiados.
Manezinho, Marcha Lenta, Mafiza, Mancha, Xiboga e
Bidu, Zeca dos Matuskelas, dona Prejentina, Zé da Lata, Banana, Meio Quilo,
Escadinha, Véi Bigu do quebra-queixo, Véi Beléleu – mais que nomes,
identidades, gente que fez de si mesmo um patrimônio afetivo e urbano.
Seguem alguns comentários:
Na QNL, o Nego Jura. Fazia festas na casa dele,
gostava de soltar pipa, tinha bicicleta Monark, barra circular, depois comprou
moto e teve um Aero Willys preto…
O Rubão da QND 23 dançava demais! Era marrento
pacas! Meu quase irmão…
Dona Dorita, especialista em bolos e salgados. Fez
muitos casamentos e aniversários de taguatinguenses.
Bicalho e Zé Vencedor tinham mercado e anotavam em
cadernetas para pagamento no fim do mês. Ajudaram muita gente.
Meu vizinho e amigo Kinca, que vocês conhecem como
Joaquim Cruz, o único brasileiro que trouxe para o Brasil a medalha de ouro das
Olimpíadas de Los Angeles.
A Margarida… tinha muito medo dela. Já correu atrás
de mim e do meu filhote… Era uma figura bem conhecida em Taguatinga Norte.
A dona Prejentina, mãe do Antônio da Ivanir.
Magal (Bar do Velho), patrimônio de Taguatinga, tá
lá até hoje.
A Xuxa da QNC.
O Celso que andava pela rua fazendo retorno.
Tinha um rapaz que tocava música com latas de óleo.
Na QNJ 23, tinha Dona Orozina, uma simpatia. Mulher
incrível. Sabia de tudo e de todos rsrsrsrs. Uma lenda viva.
Na QNE 23 me lembro de uma família de cinco
pessoas, pai, mãe e três filhos. Chamavam ela de Dorica. Ela entrava em
qualquer casa para pegar papel, podia ser jornal, revista, saquinho de supermercado.
Naquele tempo, não tinha sacola de plástico. Ela fazia um bolão de papel e
ninguém conseguia tirar dela.
Chico Rey e Paraná, no início da carreira, tocavam
todos os domingos à tarde no Sesi.
A professora Holanda das unhas coloridas.
Quando Zé da Lata passava e soltava o seu vocal
internacional, não ficava um moleque na rua. Tinham medo dele.
Chico Escória.
Dona Altina era muito famosa. Fazia canjica para
vender aos domingos na Paróquia Nossa Senhora de Fátima. Também costurava e
lavava roupa para ajudar o pai que não tinha um bom salário e tinha muitos
filhos.
Na Shis Sul tinha a Tussaia e o Meio Quilo.
Tinha uma Isaura nas QSC. Ela passava do início ao
fim cantando e também cantando os homens. Era bem danadinha.
O Natinho era o rei das pipas na QNJ, na QNA e na
Praça do DI.
No centro de Taguatinga tinha um 4 x 4, negão,
chamado Jurema, que Deus o tenha.
Dona Paquita, da lanchonete perto das Americanas.
Sem esquecer do Pedro Canguçu, policial civil da
QNG.
Careca do Bar Kaixa d’Água.
Vital, aquele que imitava o James Brown.
O Cirilo, porteiro do Sesi, de Taguá Norte, só
deixava entrar quem estivesse com os congas limpinhos. Eu levava uns pedacinhos
de Bombril pra não ser barrada…
Rubão…Caio. Jorge Boca da QNA, Manel, Peteleco,
Nego Zito, Piscuila… tudo um bando de capetas.
O Agenaldo da QND 12 tocou o terror.
E, por fim, o Vavá, um doido casado com a Maria
Dentuça e o Pedro Doido, que se foi casado ninguém se lembrou. Doidos que
apontam para o que o real da vida tenta esconder de nós.
Por Conceição Freitas - Arte: Kacio Pacheco -
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