A Estação de Pires do Rio, que
após ser restaurada foi transformada em um Museu Ferroviário, é uma das 14
incluídas no roteiro do trem de passageiros voltado ao turismo
*Por »
Adriana Bernardes » Renato Alves
Goiás aposta em trem turístico.
Governos municipais, estadual e federal pretendem retomar a viagem de
passageiros na antiga linha férrea que passa por 14 cidades goianas. Sete delas
têm estações restauradas
Enquanto o Governo do Distrito
Federal fala em retomar o transporte de passageiros no trecho da estrada de
ferro entre Brasília e Valparaíso (GO), por meio de um Veículo Leve sobre
Trilhos (VLT), o Governo de Goiás anuncia a volta das viagens na antiga Estrada
de Ferro Goiás, com trens turísticos. Diferentemente da ideia brasiliense, o
projeto goiano conta com estações e uma composição preservadas. Mas também
falta um estudo para apontar custos, benefícios e obstáculos.
O projeto do primeiro trem
turístico de Goiás prevê um ônibus aberto, com opção de city tour com passeios
por Goiânia até a estação de Senador Canedo, a 28 km da capital do estado. O
primeiro trecho do trem iria de Senador Canedo a Bonfinópolis. Os trechos
variam, em média, de 30km a 50 km. Sete das 14 estações (confira mapa) que
podem integrar o roteiro foram restauradas pelo Instituto de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Algumas servem como pontos de venda de
artesanato.
A Ferrovia Centro-Atlântica,
concessionária que administra a antiga Estrada de Ferro Centro-Oeste com
transporte de carga, ofereceu uma locomotiva para fins turísticos. O Ministério
do Turismo, o Governo de Goiás, o Iphan, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (Sebrae) e representantes de 14 municípios goianos discutem
o projeto. Os trechos que serão atendidos pelo trem turístico e a periodicidade
das viagens serão definidos pelo estudo de viabilidade técnica e econômica, que
deve ser concluído em novembro.
História
O apogeu e a decadência de
Ipameri, no sudoeste goiano, estão diretamente ligados à chegada e partida do
trem. A possibilidade de o município voltar a receber o serviço de transporte
de passageiros pela estrada de ferro mexe com a população. “A euforia das
pessoas é muito grande. Tem uma fatia da população muito saudosista. A outra é
aquela que ouviu as histórias dos pais, dos avós e que fica maluca para entrar
num trem”, conta Beth Costa, integrante do Consórcio Intermunicipal de Cultura
da Estrada de Ferro.
O projeto do trem turístico tem um
desafio a ser vencido em Ipameri. Os trilhos que levavam à estação do centro da
cidade foram arrancados pelo Batalhão Mauá, em 1976, quando o trem de
passageiros deixou de circular. A estrutura foi transferida para um local
distante cerca de 4km do centro da cidade, onde foi erguida outra estação. “O
acesso é bucólico, mas intransitável na época da chuva”, diz Beth Costa.
Os representantes de Ipameri no
projeto do trem de turismo trabalham com duas possibilidades: a construção de
uma mini-estação, mais próxima do centro urbano e pensada para receber
turistas, e a construção do anel viário e o asfaltamento da via que leva à
estação construída nos anos 1970. “Os estudos estão sendo feitos, estamos
participando de seminários. Ainda não temos um prazo de quando teremos essa
resposta. Mas acreditamos que o trem de turismo terá um impacto muito grande na
cidade”, comenta Beth Costa.
Uma das locomotivas que operavam
na Estrada de Ferro Centro-Oeste, exposta em Pires do Rio: concessionária vai
doar uma para as viagens
Levantamento
Na semana passada, equipes
lideradas pela Goiás Turismo começaram a levantar as informações sobre os
municípios envolvidos para o estudo de viabilidade do trem de passageiros.
“Paralelamente a isso, publicamos um edital para contratar a empresa que vai
fazer a viabilidade técnica, inspecionar o trilho, a bitola, definir o tipo de
vagão. Isso deve custar R$ 100 mil, que vamos custear”, conta Fabrício Amaral,
presidente da Goiás Turismo. Só após a conclusão dos estudos, o próximo passo
será conseguir a doação dos carros, prometida pela VLI.
Portanto, assim como o VLT entre
Brasília e Valparaíso, não há verba e nem um custo estimado do trem turístico
goiano. A atual administração do Distrito Federal prometera o VLT para março.
Em junho, recuou e disse não haver mais prazo. Já o Governo Federal e a Goiás
Turismo, a agência estadual criada para fomentar o setor, anunciou que o
serviço turístico sobre trilhos entraria em operação até o fim deste ano. Ontem,
Fabrício Amaral admitiu não ter como definir uma data.
O presidente da Goiás Turismo
disse que o serviço será prestado por meio de concessão. A escolha das empresas
tocarão o projeto só ocorrerá em 2020. “Baseado na experiência de
Curitiba-Morretes, acreditamos que o potencial é para transportar o mesmo
número de passageiros por dia, ou seja, 360 ou mais. Temos uma região
belíssima, com muita história, cultura e gastronomia. Além disso, é um projeto
que os municípios acreditam”, ressalta Amaral.
Dos 300km previstos, o Governo de
Goiás pretende inaugurar ao menos dois trajetos, que somam 50km, até o fim de
2020, mesmo sem saber se haverá empresa interessada em assumir o serviço.
Transformação
Pires do Rio
transformou a sua estação em um Museu Ferroviário. Em Ipameri, a estação
funciona como centro cultural, biblioteca e Arquivo Histórico da cidade.
Silvânia também restaurou a antiga estação ferroviária e prepara hotéis fazenda
e um Centro de Atendimento ao Turista (CAT), sonhando com o trem turístico.
Mudanças
Ipameri inaugura a sua
primeira estação ferroviária em 1913. Ela trouxe o desenvolvimento local, com
as primeiras fábricas, a energia elétrica, agências bancárias, entre outros.
Diante das modificações das linhas na região, a estação foi fechada e, em
1976, construída outra, que levou o trem para fora da cidade.
Para saber mais - Brasil tem 28 roteiros
O turismo ferroviário
brasileiro tem 28 roteiros de trens de passageiros, entre os que oferecem
viagens regulares e passeios. São oferecidas viagens das mais variadas formas.
Há Trem do Forró (do Recife a Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco), Trem do
Vinho (entre Bento Gonçalves e Garibaldi, no Rio Grande do Sul), Trem das Águas
(de São Lourenço a Soledade, em Minas Gerais), trem que liga cidades históricas
e os mais modernos, de longo curso, como os que ligam Belo Horizonte (MG) a
Vitória (ES), com 664km de distância; e Carajás (PA) a São Luís (MA), que
transporta cerca de 300 mil passageiros por ano ao longo de 892km de trilhos.
(*) Adriana Bernardes » Renato Alves – Fotos: Antonio Cunha/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
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