"Se for para ter despesa com um povo carente, pode ter certeza de
que a aumentarei. Quero dar aqui o desenvolvimento que todas regiões do DF
merecem" Ibaneis Rocha, governador
*Por Alexandre de Paula
Distrito Federal chega a 32 regiões administrativas. Com a criação do
Sol Nascente e do Pôr do Sol, o governador Ibaneis Rocha anuncia a retomada de
obras de infraestrutura em uma das regiões mais carentes da capital.
Arniqueiras deve ser a próxima a ser regularizada
Para a doméstica Valdete Fernandes, a nova localidade precisa de
investimentos em segurança, transporte, emprego e educação
Umas das regiões mais carentes da capital e local de moradia de 85 mil
pessoas, o Sol Nascente e o Pôr do Sol se transformarão na 32ª região
administrativa do Distrito Federal. O governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou,
ontem, a sanção da lei que autoriza a mudança. Em meio a dificuldades de
infraestrutura e precariedade, a separação de Ceilândia alimenta esperança nos
moradores. Para eles, haverá mais atenção do poder público.
O projeto de lei que cria a região administrativa foi enviado pelo
Executivo em abril à Câmara Legislativa, e ganhou sinal verde dos distritais na
última terça-feira. Em sessão realizada no Sol Nascente, 21 distritais
aprovaram o projeto e deram o primeiro passo para que a reivindicação dos
moradores saísse do papel.
Ontem, a assinatura da sanção da norma foi realizada na segunda sessão
do programa Câmara Mais Perto de Você, no Sol Nascente. A proposta era uma
promessa de campanha do governador Ibaneis Rocha, que chegou a publicar um
decreto, no início do ano, com a criação das regiões administrativas, mas teve
de voltar atrás, porque o assunto precisava receber o aval dos distritais.
Para o chefe do Palácio do Buriti, a criação da RA é fundamental para
que os problemas do Pôr do Sol e do Sol Nascente sejam resolvidos com mais celeridade,
mas a lei tem de vir acompanhada de ações práticas. “Papel nunca resolveu
problema de local nenhum. Eu acho que a gente dá passos: primeiro, criamos a
RA”, disse. “Estamos dando dignidade à população, mas isso vem junto de uma
sequência de investimentos que precisam ser feitos em saúde, educação,
infraestrutura e, principalmente, regularização para acabar com as invasões que
estão quase chegando a Santo Antônio do Descoberto”, alertou. O governador
confirmou também que Goudim Carneiro será o administrador da nova localidade.
Ibaneis destacou também que o primeiro passo será o retorno das obras de
infraestrutura na região. Ele destacou a importância de investir em uma área
com todas as dificuldades. “Se for para ter despesa com um povo carente, pode
ter certeza de que a aumentarei. Quero dar aqui o desenvolvimento que todas
regiões do DF merecem”, assegurou.
A mudança, segundo o GDF, mostra-se necessária também com base na
análise de dados socioeconômicos e demográficos. “Destaca-se o caráter de maior
vulnerabilidade — menor frequência escolar, renda e piores condições de
esgotamento sanitário, coleta de lixo e saneamento urbano — de Pôr do Sol/Sol
Nascente, que as diferem de Ceilândia”, destaca nota técnica da Companhia de
Planejamento do DF (Codeplan) anexada à proposição do Executivo.
Apesar de ter recebido obras de saneamento e pavimentação nos últimos anos,
Sol Nascente e Pôr do Sol permanecem como alguns dos locais mais sensíveis do
DF, sobretudo pela grande quantidade de moradores. De acordo com os dados da
Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad-2018), realizada pela
Codeplan, dos mais de 85 mil moradores, apenas 9% têm curso superior completo e
90% não contam com plano de saúde particular.
Gestão urbana: O governo pretende encaminhar em
breve à Câmara Legislativa outra proposta de criação de região administrativa.
Desta vez, voltada para o setor Arniqueiras, hoje anexado a Águas Claras. A
intenção dos distritais é analisar a proposta, assim como se fez no caso do Pôr
do Sol e do Sol Nascente, em sessão do Câmara Mais Perto, na própria área.
O professor de urbanismo e planejamento urbano da Universidade de
Brasília (UnB) Benny Schvarsberg, no entanto, tem um posicionamento crítico em
relação às criações de regiões administrativas no DF. “Do ponto de vista da
capacidade de gestão urbana, duvido da eficiência dessa fragmentação. O ideal
seria trabalhar com integração e menos divisão para ajudar na nossa capacidade
de planejamento, que é muito frágil. É artificial, por exemplo, a ideia de que
o Pôr do Sol e o Sol Nascente são separados de Ceilândia”, justifica o
especialista.
Moradores esperançosos: Os moradores que sofrem com os
problemas do Sol Nascente e do Pôr do Sol têm esperança de que a criação da
região administrativa trará melhorias. A proposta era um pedido antigo da
população local, que agora começa a se concretizar. “A nossa comunidade está
esperando a criação da região administrativa há quase 20 anos. Isso é muito
importante para o nosso povo, estamos realizando um sonho”, disse o motorista
Marcos Antônio Rodrigues, 38 anos. Morador do Sol Nascente há 16 anos, ele
acredita que, agora, a localidade conseguirá “andar com as próprias pernas”.
“Aqui precisamos de tudo, de creches, de saúde, precisamos muito de melhorias”,
defendeu.
A melhora na segurança é uma das principais cobranças dos moradores.
“Aqui o tráfico é muito forte, e nós precisamos de reforço nessa área”,
explicou o entregador Mauro Sergio Meirelles, 39 anos. Na visão dele, a nova
região administrativa aproximará o governo do povo. “Será muito melhor para
fazermos as nossas reivindicações, apresentar os problemas que temos sem
precisar ir à administração de Ceilândia”, avaliou.
Necessidade: A doméstica Valdete Fernandes, 57,
também reclamou da insegurança, mas citou o transporte, o emprego e o acesso à
educação como necessidades da população local. “Não temos transporte bom, não
temos facilidade para locomoção. Estou sem emprego agora, e isso fez com que a
minha filha saísse da faculdade”, lamentou. A esperança de Valdete é de que a
região receba mais apoio e políticas públicas.
Para a dona de casa Maria Aparecida Gomes da Mota, 50, a saúde é o
principal problema da região. “Nós precisamos ter mais acesso, locais em que
possamos ir em caso de necessidade”, cobrou. Ela também acredita que a nova
região administrativa facilitará a chegada de benefícios para o Pôr do Sol e o
Sol Nascente. “Estava na hora de termos uma estrutura para levarmos os nossos
problemas diretamente ao GDF para que cheguem mais rápido ao governador”.
ressaltou.
Memória - Origem e expansão: O Sol
Nascente surgiu pela busca da população do Distrito Federal por moradia barata.
O oportunismo de grileiros e a falta de fiscalização de governos passados
fizeram com que, a partir do início dos anos 1990, a região se expandisse,
mesmo irregularmente, e ainda receba milhares de novos moradores. De acordo com
dados de 2018 da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), a região do Sol
Nascente e do Pôr do Sol soma mais de 22 mil residências. Apenas em 2008, a
ocupação passou a ser reconhecida como setor habitacional pela Lei Complementar
n° 785, de 14 de novembro.
(*) Alexandre de Paula – Fotos: Vinicius
Cardoso Vieira/Esp. CB/D.A Press - Jhonatan Vieira/CB/D.A.Press –
Correio Braziliense