E as chuvas chegaram!!!
*Por Jane Godoy
“Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer
novos erros” (Confúcio)
Na quarta-feira última, ao anoitecer, Brasília me
pareceu se transformar num verdadeiro parque de diversões. Durante todo o dia,
com aquele tempo nublado, que não nos deixava contemplar o “céu de brigadeiro”
tão constante em todo o quadradinho há 113 dias, todos olhavam para o céu
fazendo cálculos do chove-não-chove, vai-não-vai.
Até que, no meu caso, por exemplo, ao acompanhar
meus filhos e netos até a saída deles pela garagem, depois do habitual
adeuzinho e a recomendação para que Deus os acompanhe, incontinente, nossos
olhos buscaram aquele céu encoberto e, com muita fé e esperança, concluímos:
“Hoje vai chover”.
Isso acompanhado do gesto mais comum nessa época:
braços e mãos estendidos, palmas para cima, como se esperássemos um milagre. E
ele veio. Antes mesmo de retornamos à varanda de entrada de nossa casa, eis que
um pingo típico caiu sobre a cabeça de meu marido, o que o levou a exclamar
como se tivesse sido premiado: “Pingou aqui!”. Depois na palma de minhas mãos,
outros “prêmios” vieram. E mais outros e outros mais.
Dentro de casa, celular nas mãos, vimos que não
parava de piscar e acusar o recebimento de mensagens e mensagens, vindas de
todos os lados e grupos: “SQS 206, chovendo aqui!”; “Aqui, na 108 Norte,
também!”. E por aí foi, o tempo todo, olhando para a chuva, como se nunca a
tivéssemos visto. Alegria total e irrestrita.
Entre uma mensagem e outra, comecei a pensar nas
chuvas fortes de verão que, fatalmente e graças a Deus, virão daqui para a
frente.
Me veio à cabeça, então, um fato que muito nos
preocupa nessa época, com o que, nem sempre ou nunca, se preocupam: a
preparação dos bueiros de Brasília, para receber tamanho volume de água,
chegando ao mesmo tempo e vindo de todos os lugares.
O resultado da falta de manutenção e descaso com o
trabalho preventivo dão no que dão. Enchentes, alagamentos, água aos borbotões
invadindo gramados, lojas e seus subsolos, hospitais até, como já vimos tantas
vezes em verões passados. Até pessoas e carros “carregados” pelas águas que,
impedidas por tanto tempo de se despejarem sobre a cidade, resolvem ir com
tudo.
Tragédia, prejuízo, pessoas e crianças também
levadas pela fúria das águas. Tudo passa, as chuvas escasseiam, o verão chega
ao fim, a seca vem e… os bueiros continuam lá, sujos, entupidos, cheios dos
dejetos que uma população mal-educada deixa, em total desconhecimento de que
não se joga lixo nas ruas e que lixeiras existem para isso.
Além do fruto da má educação da população e da
falta de prevenção e cuidados, fica aquela lama do verão anterior, que com o
calor e o sol, se petrifica e obstrui, ainda mais, aqueles escassos bueiros,
que, para vias tão longas e largas como as nossas, são em quantidade pífia.
Vivo em Brasília há 50 anos, e isso sempre me intrigou. Poucos bueiros, poucas
ou inexistentes bocas de lobo.
Agora, então, quando as nossas maravilhosas e
fartas mangueiras começam a florir e produzir aqueles frutos em abundância, é
um caos! A população, no afã de aproveitar, chupar, colher e levar para casa,
mas principalmente jogar fora as que estão verdes ou estragadas, as jogam fora,
sem o menor cuidado, sem pensar no perigo a que submetem quem passa por ali, de
carro ou a pé.
O resultado, mostramos aqui, com fotos de pistas
imundas, revestidas de mangas estouradas pelos carros, com caroços espalhados
por todo lado que, infelizmente, com uma chuva mais forte, são levadas para os
bueiros precários e entupidos.
Por uma questão de justiça, cito aqui uma matéria
que vi na tevê, quando funcionários do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) limpavam
um bueiro, não me lembro onde. Com certeza, esse fazia parte do programa de
limpeza de tantos outros que estavam recebendo os cuidados preventivos. Soube
que milhares deles, espalhados pela cidade receberam os cuidados necessários de
limpeza e desentupimento. Um trabalho tão importante quanto necessário.
Coisa boa! Que venham as benfazejas chuvas!
(*) Jane
Godoy – Coluna 360 Graus – Fotos: Ed Alves/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
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CRÔNICA