ELEIÇÕES DE 2020
»Hora de buscar aliados e montar estratégias. Mesmo distante, as disputas
municipais começam a se desenhar no cenário político do Distrito Federal e da
região do Entorno. O governador do DF, Ibaneis Rocha, por exemplo, pretende
consolidar parcerias e projetos com cidades como Águas Lindas
*Por Agatha Gonzaga
Encontro entre o governador do
DF, Ibaneis Rocha, e o de Goiás, Ronaldo Caiado: integração em regiões vizinhas
à capital federal
A menos de um 11 meses das
definições partidárias para os próximos representantes municipais — o
calendário eleitoral determina que as convenções das legendas ocorram entre 20
de julho e 5 de agosto de 2020 —, apesar de ainda não se ter nomes indicados
para a disputa, a movimentação política começa a aparecer não só dentro das
sedes goianas e mineiras vizinhas ao Distrito Federal, como também no meio de
políticos do DF.
A eleição de 4 de outubro de 2020
pode não ser no quadrado brasiliense, mas, ainda assim, está diretamente
conectada aos interesses políticos e econômicos da Região Integrada de
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride). Área que engloba 29
municípios goianos, o DF e quatro municípios mineiros. Só no Entorno, são 12
cidades que somam mais de 600 mil eleitores e dividem com a capital
infraestrutura, transporte, saúde, educação, segurança pública, entre outros.
A título nacional,
tradicionalmente, os partidos veem nesta relação uma oportunidade para alinhar
os interesses políticos entre as regiões. Por esse motivo, mesmo faltando pouco
mais de um ano para o pleito de outubro de 2020, é hora de sentar e ajustar
nomes. De acordo com o deputado distrital Chico Vigilante (PT), a sigla está
próxima deste momento. “O Entorno é dependente do DF, portanto é preciso que a
gente tenha prefeitos e vereadores que estejam sintonizados com as ideias e com
as políticas da capital do país. Sempre estamos atuando em conjunto, e tão logo
seja feita a eleição da diretoria do PT, agora na primeira quinzena de outubro,
vamos pôr em pauta as eleições municipais”.
Chico Vigilante: "É preciso
que a gente tenha prefeitos e vereadores sintonizados com o DF
Projetos
O MDB também tem data marcada para
o assunto. De acordo com o deputado distrital Rafael Prudente, presidente
regional do partido, a conversa inicial ocorre na primeira semana de outubro.
“Com certeza está dentro da nossa área de atuação, mas só vamos ter qualquer
direcionamento após a primeira executiva do nosso partido que está marcada para
6 de outubro”.
No caso do MDB, o interesse nas
eleições municipais devem ser ainda maior, visto que governador do DF, Ibaneis
Rocha, possui vários projetos em conjunto com o Entorno e precisa de governos
municipais aliados para dar sequência ao andamento dos mesmos.
No último mês, Ibaneis se reuniu
com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), para firmar parceria nas áreas
de saúde, segurança pública e mobilidade urbana em Águas Lindas de Goiás. Entre
as propostas mais avançadas ficou o projeto de inclusão do ônibus do Entorno ao
sistema de integração da capital. “Os nossos secretários de Segurança estão
reunidos para criar uma política de troca de informações, além de operações
conjuntas para garantir a segurança da população que reside aqui”, acrescentou
Ibaneis à época.
Izalci Lucas: "Ligações com
as regiões do Entorno mais próximas"
Seminário
Em Goiás quem deve correr para
recuperar o poder nessas eleições municipais é o PSDB. Os tucanos deram a
largada para as articulações da legenda com uma série de 25 encontros
regionais. De acordo com o senador e presidente do PSDB-DF, Izalci Lucas, uma
reunião executiva de nível nacional vem debatendo a organização de um grande
seminário para alinhar o posicionamento da legenda ante algumas propostas do
presidente Jair Bolsonaro, visando às eleições.
“A ideia é ajustar os detalhes
deste seminário, que deve ocorrer em 3 de março do ano que vem. Mas vamos
também debater o posicionamento que tomaremos frente a várias questões do
governo, além de debater melhores estratégias para as eleições que estão por
vir. Como membros aqui da Ride, vamos direcionar os diretórios para fazer
ligações com as regiões do Entorno mais próximas, como a sede de Planaltina com
Planaltina de Goiás e assim por diante”, completou.
Outro partido que deve vir em peso
na corrida pelas prefeituras é o Partido Social Liberal (PSL), de Jair
Bolsonaro. Segundo a presidente regional da legenda e deputada federal, Bia
Kicis, o PSL tem se organizado de várias maneiras para se fortalecer. A última
ação foi a campanha de filiação, iniciada em 17 de agosto, que incorporou mais
de 188 mil associados. Um crescimento de 70%, atingindo 459 mil filiados. Dados
disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral. “Para nós é realmente
importante trabalhar esse fortalecimento partidário e essa relação do DF com o
Entorno. Em breve devemos nos reunir para discutir de qual forma agir nestas
eleições de 2020”, destacou.
Só em Goiás, o PSL conquistou, no
dia 17, 8.524 filiados. Em Minas Gerais, quase o dobro: 16.483. A intenção dos
dirigentes é chegar a 1 milhão de até as eleições de 2020.
Bia Kicis: "É realmente
importante trabalhar essa relação do DF com o Entorno"
Alinhados
Em entrevista a um canal do
YouTube, o presidente Bolsonaro chegou a declarar que pretende ajustar as ações
do partido para conseguir o comando de mais prefeituras nas eleições municipais
do ano que vem. “Estou acertando com o partido para ver se eu consigo ter a
maioria das ações. Se eu tiver, quero me empenhar por algumas prefeituras e
quem vai escolher, democraticamente, vai ser eu. O partido local vai ter sua
participação, mas a palavra final vai ser nossa. Se não quiser, não tem
problema nenhum. Não entro na campanha daquele município. O que eu quero é uma
pessoa que tenha o coração verde e amarelo igual ao nosso”, disse.
Mas as definições de candidatura
só devem ficar mais claras a partir de abril, período que antecede seis meses
da eleição, e quando os partidos devem fazer as filiações políticas de acordo
com os prazos eleitorais do TSE.
Para o cientista político Murilo
Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), o interesse do DF nas eleições
municipais do Entorno tem objetivo a longo prazo. Segundo ele, a influência de
políticos da capital serve para deixar o nome na praça, para mais tarde, nas
eleições de 2022 no DF, serem lembrados.
“Lideranças políticas locais
costumam aproveitar as eleições do Entorno para medir forças, fortalecer
estruturas partidárias e impulsionar a formação de lideranças partidárias ou,
então, apadrinhar prefeitos de cidades importantes podem acelerar a montagem de
grupos políticos e de base de apoiadores para as eleições futuras, até porque
todo prefeito acaba influenciando direta ou indiretamente os seus eleitores, e
vale destacar que segundo o TRE, só em 2018 mais de 40 mil eleitores
transferiram seus títulos para o DF, ou seja, são 40 mil votos a mais em 2022”,
explicou Medeiros.
E não é só a política do DF que é
beneficiada por esse apoio. De acordo com o cientista, os futuros prefeitos dos
municípios também têm interesse nesta troca. “Eu enxergo como um apoio mútuo.
Para os prefeitos é interessante ter uma aproximação política com os
representantes políticos de Brasília, para ter acesso a recursos, a
infraestrutura, além de uma penetração melhor no Executivo Federal”, concluiu.
(*) Agatha Gonzaga –
Fotos: Minervino Júnioir/CB/D.A.Press – CB.Poder – Correio Braziliense