Arte ao alcance do
celular. Iniciativa da família do artista e ex-professor da Universidade de
Brasília (UnB) pretende reunir toda a obra de Glênio Bianchetti no Instagram (*Por Thays Martins)
Glênio Bianchetti faz parte de um
seleto grupo de artistas que se identificaram com Brasília e deixaram um legado
marcante
Reunir cerca de 3 mil obras de um
artista em um só lugar. Ousado? Talvez, mas o projeto Casa Ateliê Glênio
Bianchetti pretende exatamente isso. Como? Com a colaboração de todos que têm
acesso a algum quadro do artista, que passou boa parte da vida em Brasília.
Idealizado pela família, a ideia do projeto é reunir o máximo da obra de Glênio
Bianchetti, que morreu em 2014, aos 86 anos. Para isso, é pedido para que
qualquer pessoa que tenha algum contato com alguma obra do artista a fotografe
e poste nas redes sociais usando #posteseuquadro e marcando o perfil @casaateliêglêniobianchetti.
Por enquanto, o foco é só nos
quadros do artista. Uma segunda parte do projeto pretende catalogar as
gravuras, painéis e tapeçarias. Isso porque boa parte das obras dele não
chegaram a ser registradas. “O objetivo é catalogar os quadros. Meu avô pintou
milhares de quadros ao longo da vida e ele foi dando e vendendo, então não
sabemos onde eles estão”, explica a neta do artista Julia Bianchetti.
De acordo com ela, além de
catalogar, a ideia é tornar acessível as obras. “Existem quadros que não temos
registrado nem em foto. Minha família já está com o projeto de fazer uma
galeria fixa, mas demanda de auxílio do governo. Então, primeiro faremos o
digital, no Instagram, futuramente colocaremos em um site”, explica.
São tantos quadros, que a família
não tem noção de quantos. “É difícil ter uma dimensão. Para se ter uma noção,
temos registrados mais de 2 mil quadros. Mas meu avô fazia exposições todos os
anos com a média de 40 quadros desde a década de 1930”, ressalta Julia.
Para a família, formada por seis
filhos, 16 netos e dois bisnetos, o avô é só orgulho. “É muito privilégio. Ele
faz parte do nascimento de Brasília. Ele entrou junto com a UnB”, ressalta a
publicitária e consultora de imagem.
A família Bianchetti - O legado em Brasília: O artista nasceu em Bagé (RS),
município que faz divisa com o Uruguai, em 1928. De lá, foi estudar no
Instituto de Belas Artes de Porto Alegre e, em 1951, fundou, ao lado de Glauco
Rodrigues e Danúbio Gonçalves, o Clube de Gravura de Bagé, posteriormente
incorporado ao Clube de Gravura de Porto Alegre, que realiza uma produção
artística de caráter social.
Glênio foi professor de desenho e
de pintura na Universidade de Brasília (UnB) assim que ela é inaugurada. Em
1965, foi afastado pelo regime militar e só retornou em 1988. “Ele é um dos
artistas mais importantes de Brasília. Tinha toda uma postura voltada para a
arte de origem popular. Ele veio para a UnB para fazer parte do núcleo de artes
da universidade. Em solidariedade com os colegas que estavam sofrendo na
ditadura, ele sai da instituição”, conta o professor do Departamento de Artes
Visuais da UnB Sérgio Rizo Dutra.
De acordo com ele, a obra do
artista é de uma importância sem tamanhos para o Brasil. Ele também foi um dos
principais criadores do Museu de Arte de Brasília (MAB). “Na capital do país,
ele desenvolveu um trabalho excepcional como pintor, com uma linguagem própria,
assim como Athos Bulcão”, compara.
De acordo com o professor, reunir
a obra de Bianchetti é um favor que a família está fazendo para as artes
visuais. “Acho que é uma necessidade. É uma iniciativa brilhante. Aqui em
Brasília tem muitas obras dele, tem em vários órgãos públicos, como o Itamaraty
e o Congresso e várias coleções particulares”, explica. Conheça algumas das obras de Bianchetti -
O museu: Inaugurado em 1985, ocupa uma área de 4.800 m² e está situado às margens do Lago Paranoá,
no Setor de Hotéis e Turismo Norte, entre a Concha Acústica e o Palácio da
Alvorada. O MAB está fechado há mais de 10 anos e passa por uma reforma desde
2017.
(*) Thays Martins - Fotos: Arquivo/Família - Títulos das obras: "Dois Meninos Sem Pássaros" - "Olaria"- "Casa de Praia"- "Fazendo Marmelada" - "Ciranda" - Correio Braziliense