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BRASÍLIA SEXAGENÁRIA » Hotéis que fazem história


As obras do Brasília Palace Hotel começaram em 1957: reerguido após incêndio em 1978

*Por Alan Rios - Juliana Andrade 

Hotéis que fazem história. Na 11ª matéria da série Brasília Sexagenária, o Correio relembra a trajetória dos primeiros empreendimentos do setor hoteleiro na cidade: o Brasília Palace, inaugurado em 1958, e o Hotel Nacional, aberto em 1961

As linhas de Oscar Niemeyer, uma Rural Willys na entrada, pavões e galinhas-da-angola no jardim e a arte de Athos Bulcão em diversos espaços. Não há dúvidas de que o Brasília Palace é um hotel diferente. O local abriu as portas em 1958, sendo o primeiro empreendimento do setor na cidade. Quatro anos depois, o Hotel 

Nacional também surgia como opção de hospedagem. Além da importância para o turismo, os dois empreendimentos tornaram-se pontos de entretenimento. Na 11ª reportagem da série Brasília sexagenária, o Correio recorda a trajetória dos dois hotéis, que se misturam à história da capital.

Brasília palace: glamour e sofisticação: Com a proposta de ser o hotel do turismo na cidade, as obras do Brasília Palace começaram em 1957. Foram cerca de oito meses de construção. “Eles precisavam de um local para colocar as pessoas que acreditavam na transferência da capital, que vinham visitar a construção, pois o Catetinho era muito distante e não tinha acomodações suficientes”, explica a gerente Marianna Ramalho. Projetado por Oscar Niemeyer, o hotel tem a cara da capital e é agraciado com a arte de Athos Bulcão.

Além de abrigo para autoridades, o hotel virou espaço de lazer e diversão para os próprios moradores. “Brasília não oferecia tanta variedade de atividades; então, muita gente vinha para cá. As pessoas se encontravam, havia bailes, festas, shows. Nas noites de sábado, tinham os bailes e, no domingo de manhã, missa”, comenta a gerente. De acordo com Marianna, a música Água de Beber, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, foi tocada pela primeira vez ao público no bar do hotel.

A gerente Marianna (E), com a governanta Rosimaria e, ao fundo, painel de Athos Bulcão: orgulho do Palace
RevitalizaçãoEm 1978, um acidente abalou o funcionamento do hotel. Um curto-circuito em uma cafeteira provocou um incêndio que destruiu o terceiro andar do prédio. Os hóspedes precisaram ser retirados às pressas. Ninguém ficou ferido, mas o incidente trouxe prejuízos à empresa responsável pela gerência — Prudência de Grandes Hotéis —, obrigando o empreendimento fechar as portas. O período foi marcado por brigas judiciais, abandono e destruição. O hotel só voltou a funcionar 28 anos depois, quando foi reinaugurado sob a gerência das organizações PaulOOctavio.

A governanta Rosimaria Rodrigues, 41 anos, trabalha no Brasília Palace há 14. Ela foi uma das funcionárias que integrou a equipe de reinauguração do espaço. “Eu cheguei para fazer a limpeza de todos os apartamentos. Eu seria supervisora de andar e, depois de um ano, fui promovida a governanta. Foi um grande desafio”, diz. Para Rosimaria, o hotel é uma casa. Ali, ela viveu momentos importantes da história profissional e do próprio Palace. Entre elas a visita de Oscar Niemeyer. “Recebemos o Oscar aqui dentro do hotel. Ficou todo mundo muito emocionado”, destaca.

A gerente Marianna também não deixa de comentar o episódio: “Ele estava bem e fez alguns comentários. A rampa da recepção era uma escada no projeto original. Para ter a licença de funcionamento, precisamos colocar umas barras de apoio. Ele veio descendo, segurando na barra e perguntando por que aquilo estava ali, que isso não tinha nada a ver com o projeto”, lembra.

Atualmente, o hotel é um dos mais famosos da capital. A clientela é composta, na maioria, por hóspedes corporativos (executivos e políticos) e por estrangeiros — cerca de 50 por semana. Segundo a gerência, muitos turistas procuram o Palace devido à fama de Oscar Niemeyer e em busca de conhecer a história de Brasília. Além dos turistas, o espaço é procurado por moradores da capital, que se hospedam no fim de semana com o objetivo de sair da rotina.

Visitas ilustres: Che Guevara; Príncipe Mikasa, do Japão; Príncipe Bernhard, da Holanda; Roberto Carlos; Chico Buarque; Ney Matogrosso Gisele Bündchen; Seleção Brasileira
O Hotel Nacional se destacava na área central pela imponência do edifício: inauguração em 1961

Hotel Nacional, antigo point de BrasíliaA poucos metros da Esplanada dos Ministérios, outro edifício histórico é o Hotel Nacional, inaugurado em 1961. O empreendimento se aproxima de virar sexagenário, sendo palco de lembranças da população que viu de perto os anos de glória do prédio. Antônio Luiz Wright, 70, é exemplo disso. O comerciante aposentado chegou à capital em 1957, quando a família saiu do Rio de Janeiro, e se instalou na Cidade Livre. “Ele marcou várias gerações de moradores, porque não havia muito o que fazer por aqui, e lá era o point de Brasília. Quem vinha de fora, inclusive autoridades e famosos, se hospedavam no Hotel Nacional. Lembro de quando o presidente dos Estados Unidos, o Eisenhower, ficou lá. Foi uma festa. Todo mundo foi receber ele, e eu lá com uma bandeirinha americana em uma mão e a do Brasil em outra”, relembra.

A atriz Leila Diniz foi uma das estrelas a frequentar a piscina do Hotel Nacional

O hotel como um lugar luxuoso, símbolo de requinte e poder na capital. As atividades no espaço previam até negociações administrativas importantes. “A sauna era muito famosa, não tinha igual. Quem ia, sempre falava daquele ambiente. No fim da tarde, também era comum as pessoas se reunirem na borda da piscina, a nata da sociedade estava ali. O que mais era aguardado era o Festival de Cinema. Era lotado. Artistas de todo canto vinham para Brasília, e a garotada se divertia, porque ficava em volta e pegava autógrafos”, diz Antônio Luiz.

O Correio entrou em contato com o Hotel Nacional para comentar a relevância histórica do local e as perspectivas futuras, mas a empresa responsável pela administração não disponibilizou entrevistados.

Turismo: De extrema relevância para o turismo da capital no século passado, o Hotel Nacional hoje não tem mais os status de antes. Porém, a Secretária de Turismo ressalta que a rede hoteleira da capital, como um todo, se destaca. “De acordo com a mais recente Pesquisa de Serviços de Hospedagem, de 2016, a cidade ficou em 6º lugar no número de locais para hospedagem (279) e hotéis (182). Para este ano, a estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) é de que a ocupação média da rede hoteleira seja 8% maior, comparada aos dois anos anteriores. A receita com as diárias de hotel movimentou mais de R$ 272 milhões em 2019”, enumerou a titular da pasta, Vanessa Mendonça.

Visitas ilustres: Rainha Elizabeth II e príncipe Philip, da Inglaterra ;Presidente francês Charles De Gaulle; Presidentes dos Estados Unidos Jimmy Carter e Ronald Reagan; Primeiro-ministro de Portugal Cavaco Silva; Astros do cinema, como Catherine Deneuve, John Travolta e Roman Polanski. 

(*) Alan Rios - Juliana Andrade - Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press - Postal Colombo - Arquivo CB/D.A.Press - Correio Braziliemse



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