O banco
central estadunidense anunciou nos últimos dias uma série de alterações nas
regras de operação de dólares por bancos centrais estrangeiros no escopo de
permitir o controle mais eficaz do “vírus chinês”, a forma como o Trump tem se
referido ao “covid”, conforme previ em meu artigo intitulado “Retaliação pós
vírus”.
Em termos
de mercado financeiro, a medida é chamada de “swap”, e tem potencial para
propiciar 300 bilhões de reais ao governo brasileiro. Trump adotou o estilo
cético debochado no início do contágio que, embora pandêmico, ainda não havia
atingido os Estados Unidos.
Hoje, 20
de março, os Estados Unidos registram 7 mil e oitenta e sete casos e 100 óbitos
decorrentes do mesmo. A mudança de entonação do chefe de Estado dos EUA foi
inevitável. Trump agora define a pandemia como a pior catástrofe experimentada
desde a segunda guerra mundial. Em parte, isso decorre do fato da democracia
presidencialista estadunidense ser mais sadia do que a nossa.
O sistema
de freios e contrapesos lá realmente funciona e, apesar de falastrão, Trump é
modelado a seguir um certo nível de sincronia com o entendimento legislativo.
Nos Estados Unidos, ao contrário daqui, a política é uma carreira como outra
qualquer, devidamente regulamentada.
O maior
inimigo do “vírus chinês” é a sua aleatoriedade, ou seja, aquilo que ele tem de
pior é também a razão de sua destruição, embora tecnicamente um vírus, a
antítese da vida, por não ter vida, seja indestrutível. Se essa forma de covid
ficasse restrita em áreas mais pobres e fosse contida, não se veria tanto
esforço geopolítico para contê-lo.
O
“corona” pegou celebridades, autoridades das mais importantes. Se uma doença
como essa resistisse por muito tempo seria fatalmente o sinal do fim dos
tempos, haja vista que aquilo que atinge assim os mais favorecidos, desperta
todo o nosso potencial. Ouso brincar que se o vírus tivesse infectado o Trump,
a cura sairia em dias!
Óbvio que
estou apenas brincando, mas em momentos como este, onde uma simples manobra do
banco central mais importante do planeta significa numa simples canetada o
importe de 300 bilhões de reais para a nossa economia, indaga-se a respeito de
como funciona essa economia global.
Quero
dizer, será que se o caso não fosse ameaçador aos Estados Unidos, em hipóteses
mais sutis de pedido de socorro, a chamada FED – Federal Reserve seria tão
solidária? Melhor parar por aqui, do contrário soaria como o tal mal
agradecido, ou ainda, como aquelas teorias mirabolantes difundidas por partidos
políticos que dizem ajudar o proletariado, mas costumam delegar nossos
fracassos ou incompetências ao inimigo imaginário estrangeiro.
Além do
Brasil, oito países também serão beneficiados. Austrália, Coreia do Sul,
Dinamarca, México, Noruega, Nova Zelândia, Singapura, Suécia. A medida
basicamente permite que a FED aceite moedas estrangeiras como forma de
garantia. Parece algo singelo, mas os impactos são bastante profundos.
Por se
tratar de uma medida emergencial, não estou dizendo que isso seria possível em
muitos outros contextos sem prejudicar a economia estadunidense, porém sabe-se
que o cenário geopolítico é uma selva onde ninguém é amigo de ninguém.
Quando
muito, parceiros oportunos. Não sei dizer se seria uma utopia, mas num cenário
onde as nações fossem mais afáveis umas com as outras, num possível futuro,
medidas como essa tomada pelo banco central estadunidense talvez fossem mais
comuns e não apenas na iminência de uma pandemia.
O fato é
que o presidente Trump, a despeito da vilania contumaz lhe atribuída, toma
medidas assertivas condizentes com suas aspirações eleitorais onde seus
adversários buscam a imputação de um vilão internacional como forma de
derrota-lo. Prestando tantos auxílios como este, além de ser o correto a ser
feito, é também cômodo para a sua imagem neste momento.
Por fim,
deixo a reflexão. Como diria John Lennon em sua utopia particular, “No need
for greed or hunger, a brotherhood of man. Imagine all the people sharing all
the world.”
(*) Victor
Dornas – Colunista do Blog do Chiquinho Dornas – Foto/Ilustração: Blog-Google