Lute antes;
comemore depois
*Por Ana Dubeux
Hoje é daqueles
dias para levantar de cabeça erguida e punhos cerrados. O Dia Internacional da
Mulher só existe para nos lembrar, mais uma vez, de que nós, mulheres, somos um
coletivo de histórias de opressão, insegurança, sofrimento e morte, a despeito
das alegrias cotidianas da vida comum e dos incontáveis avanços ao longo dos
anos. Somos uma maioria fragilizada pela cultura machista, que ainda impera.
Portanto, é fundamental saber que a estrada pela frente está cheia de buracos
profundos, o que faz nossa trajetória ser árdua e difícil.
Já podemos vestir calças, podemos votar, trabalhar, nos divorciar, mas ainda não podemos dizer que somos livres e que temos isonomia em relação aos homens. Acorrentadas pelo machismo, seguimos vítimas daqueles que se acham donos do nosso corpo e da nossa vontade. Violência, abuso, assédio, estupro, xingamentos, ciúme doentio, desigualdade no trabalho. São tantas e tão reais as adversidades e animosidades contra as mulheres que, muitas vezes, nos pegamos pensando se vale a pena a batalha. Não desanimemos. Tudo é processo. E chegaremos lá.
Temos o privilégio, aqui no Correio, de poder partilhar histórias maravilhosas e inspiradoras do protagonismo feminino, seja na academia, seja nos espaços públicos de poder, seja nas ruas. Na série Elas vão à luta, contamos a trajetória de três mulheres que têm ou tiveram como casa as ruas, Meire, Fabiana e Raysa, expulsas de casa por companheiros agressores. Elas sobreviveram às agressões, aos abusos, às drogas. Tiveram forças para estudar, trabalhar, reerguer-se e estão pavimentando seu caminho de volta a uma vida mais digna.
Entrevistamos ainda mulheres que são hoje reconhecidas como referências na luta contra o machismo, como Guacira de Oliveira, uma das fundadoras do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), e a professora Gina Vieira Ponte, idealizadora do projeto Mulheres Inspiradoras, ativista na luta contra o racismo e o machismo. São fundamentais para manter vivo o espírito combativo contra todas as formas de opressão, que, é certo, ainda existe.
Em longa entrevista publicada hoje, a ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, sentencia: “Somos uma sociedade machista e preconceituosa”. Ela avalia que o 8 de março, com todas as suas manifestações, é um espaço de reflexão para entendermos porque ainda estamos nessa situação de extrema violência e o que fazer para, cada vez mais, desconstruir essa realidade. Ela reconhece a necessidade de avanços nos tópicos da Lei Maria da Penha, lembra que homens públicos devem dar exemplo e não, em nenhuma hipótese, estimular o preconceito.
Confessa que nem ela, que ocupa importante espaço de poder institucionalizado, está liberta do machismo. “É preciso que a gente também não permita que na sociedade se repitam os modelos de violência contra a mulher”, diz a ministra. De fato. Que hoje (e sempre) todas nós estejamos vigilantes para agir e reagir à altura de nossos algozes!
(*) Ana Dubeux
– Editora-Chefe do Correio Braziliense – Fotos: Ilustração: Blog-Google
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JUSTIÇA