MAROON 5 É GENTE COMO A GENTE
No último dia 3
de março, em plena terça-feira, o grupo musical Maroon 5 finalmente aportou em
Brasília. Em única apresentação, com público de 35 mil pagantes, os
californianos demonstraram como se tornaram consagrados internacionalmente e
particularmente me deixaram uma impressão um tanto curiosa, tanto no aspecto
profissional como na questão humana. Adam Levine, o vocalista, como de praxe,
insurgiu-se no palco contido numa aparente informalidade de um moletom do Bob
Marley, uma camiseta branca rabiscada e tênis Nike daqueles modelos clássicos
dos anos 80. Tudo casual, despretensioso aos olhos mais incautos, bastante distintos
dos meus. A grife que parece singela, saibam que é das mais caras! Porém não são
estes os detalhes que me interessaram. O valor oculto ali era outro.
Contrastando com
o amadorismo da produção local que irritou o público numa aglomeração indevida
do lado de fora do estádio, a banda estadunidense não estava para brincadeira. “Eles
nunca atrasam!” avisou-me uma amiga, surpresa pelo atraso de vinte minutos. É
que a banda aguardou até que todos entrassem e se acomodassem devidamente. Durante
o show, Levine reiteradamente se dirigiu ao público com algumas questões
curiosas. Primeiro nos indagou acerca da acústica, se estava apropriada aos nossos
ouvidos. Depois ele quis saber se havia mais homens ou mulheres na plateia. A
reposta, um agudo óbvio. Avisou, também, que um dos hits fazia mais
sucesso aqui no Brasil do que no exterior. Muitos interpretaram como meros gestos
cordiais, sem maiores conotações. Para mim, entretanto, tais gestos tem nome e
se chamam “profissionalismo”. Existe o personagem, o artista, que encanta e nos
faz sublimar. E também o ser humano, o Levine que, tal como nós, meros mortais,
quer saber a opinião do seu cliente. Quer valorizar o serviço que entrega.
Poderia, aliás, até aposentar-se, caso assim desejasse, já glorioso. Afinal,
descontando os hiatos, a banda é de 1994. Mas o gosto pelo ofício condiciona a
busca por perfectibilidade.
O que mais me
cativou, entretanto, sopesando a qualidade altíssima da execução das músicas, a
voz tenaz do vocalista que parecia estar em estúdio, foi, na verdade, o momento
em que Levine apareceu no palco com uma guitarra da Hello Kitty. Os fãs mais
ardosos, que se acostumaram à esteira da banda, não se surpreenderam. Em um
primeiro momento, entretanto, achei que fosse gozação, por destoar do figurino.
Foi então que me avisaram que ele fazia isso para agradar uma das filhas, de
quatro anos de idade. Ual... isso me emociona. O ídolo é por definição o
inalcançável. É a teatralidade que potencializa o máximo daquilo que se poderia
ser. O admirável em si próprio. Tudo isso, entretanto, é só uma glamourizada brincadeira.
Uma exaltação da arte.
Já a arte
visceral, que norteia a verdade das coisas, no entanto, é só mesmo um pai que
ali, num vestir mítico, empunhou a guitarra para agradar sua filha.
As nuances sociais
são inúmeras, por óbvio. Alguns acumulam muito, muitos não acumulam nada.
Parecem universos distintos, como não? O ídolo então! Sempre intocável! Mas a
verdade... é só a verdade. E ali eu confesso que vi um ser humano dotado de um
talento incomum, sim, é verdade, porém um alguém que quer ser visto pela filha.
E aí, nessa confluência é que nós nos encontramos. Essa talvez seja a ideia da
arte não é mesmo? Cada um vê o que pode ver. E, para mim,
Maroon 5 com uma guitarra da Hello Kittty é gente como a gente.
Victor Dornas
Colunista
Victor Dornas
Colunista
Muito bom!!! Fui ao show e também percebi esse profissionalismo da banda. Essa preocupação e esse cuidado com o público!!!
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