*Victor Dornas (Agradecimento a Raphael
Lima do canal Ideias Radicais)
Ao invés de menosprezar os efeitos
negativos de uma pandemia no cenário econômico, o mais sensato é buscar
alternativas de contenção a partir da resolução imediata de problemas já
existentes. Problemas antigos que impregnam as bases mais profundas da máquina
estatal brasileira e se arrastam consumindo a energia vital de sua população
impedida de produzir.
Além da conhecida inépcia de gestão de
nossos políticos, inúmeros são os problemas que agravaram o setor da saúde em
nosso país. A população envelheceu, a tecnologia impôs custos mais severos e a
complexidade do atendimento é cada vez maior. Aproximadamente 9% do nosso PIB
decorre de gastos e investimentos neste setor, sendo certo que, embora aqui
seja oferecido ao cidadão um sistema subsidiado, o mesmo encontra-se sempre
precarizado. Menos da metade das mais de quarenta mil unidades de terapia
intensiva pertence ao SUS e a pandemia, que já deprimiu sistemas mais
sofisticados, não encontrará um rival aqui. Não nos preparamos para um problema
dessa gravidade, este é o fato. No entanto não podemos chorar o leite derramado
e correlaciono aqui algumas ideias propositivas que estão sendo debatidas no
cenário político como possíveis formas de auxiliar a amortização do dano que se
apresenta.
Em meio à pandemia existe um consenso de
que não há ambiente para reformas mais robustas, contudo, em virtude de uma
provável falência plurissetorial, talvez essa emergência seja uma catalizadora
na resolução de questões arraigadas em ideologias que se mostram destoantes da
realidade atual. Um exemplo disso é a famosa medida provisória 905 que tinha
como escopo a facilitação de contratação de mão de obra barata que prometia
gerar 4 milhões de empregos. A medida deve ser votada até 20 de abril para não
sofrer caducidade.
O problema é que qualquer forma de
discussão acerca de reformas trabalhistas esbarra num atavismo patrimonialista
repleto de nobres intenções e na vaidade de admitir que não há justificativa
para a imposição de um custo emprego exorbitante diante de um quadro brutal de
ociosos. Pelo fato de a medida desonerar uma série de gastos públicos orçados
em algo em torno de 37 bilhões num prazo de 5 anos.
Outra medida polêmica é a chamada PEC dos
gatilhos que basicamente intende suprimir o ônus da máquina pública obstando
novas contratações, estabelecendo reajustes de jornadas e remunerações de
servidores públicos. A medida estabelece um teto de gastos em funcionalismo
considerado um dos mais onerosos do mundo, não tanto pela quantidade de
pessoas, mas pelo alto salário descomunal em relação à iniciativa privada, além
de benesses de remuneração vitalícia que sustenta muitas vezes o indivíduo
improdutivo e empobrece o país. Estima-se que um corte de 10 % no funcionalismo
renderia uma economia de 15 bilhões por ano, contudo a complexidade da questão
está na diferenciação entre o servidor produtivo do super valorizado, que seria
a meta de corte mais efetiva num momento de transição para um modelo mais justo.
Uma economia deficitária funciona na
aquisição de crédito por parte do Estado, sendo o privado o credor. Cada
recurso adquirido como dívida estatal é um recurso a menos que poderia ser
aplicado no empreendedorismo. Então outra medida interessante seria a PEC dos
fundos que representaria a transferência de recursos estimados na esfera de 32
bilhões retidos para uso de políticos e que agora poderiam ser usados para
subsidiar linhas de crédito de folhas de pessoal de pequenos e médios
empresários, programa realizado em parecia entre o Bacen e Ministério da
Economia. A questão é que essas propostas, assim como outras propostas de cunho
efetivo de reajustes econômicos já esbarram num sistema protetivo arcaico em
situações normais.
Num cenário onde o Congresso deveria agir
com emergência, talvez o que se veja na prática é a costumeira mania de
distanciamento dos congressistas em relação aos seus representados, ou seja,
uma morosidade sob pretexto de que o momento dificulta o debate necessário. A
situação de uma economia em frangalhos talvez tire essas pessoas de sua
situação de conforto, porém seria crucial, neste momento, a figura de um
presidente da República como líder de gestão de crise que soubesse conduzir a
pressão social na medida certa para a aprovação eficaz de medidas como essas.
Um presidente com jogo de cintura, ciente da gravidade do problema e desejoso
de transformar alguns dos males inevitáveis em oportunidades de resolver
antigas pendências.
O Congresso quer agir, mas não sabe como
agir. Pois é confortavelmente improdutivo.
(*) Victor Dornas – Colunista do Blog do Chiquinho Dornas –
Foto/Ilustração: Blog-Google
"O Congresso quer agir, mas não sabe como agir. Pois é confortavelmente improdutivo."
ResponderExcluirSensacional. É isso mesmo. O deles já está garantido. Então porque a pressa para resolver um problema que demorará para atingí-los????
Obrigado pelo feedback, cara leitora.
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