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MORO NÃO NEGA MAIS (Coluna Victor Dornas)


Em entrevista aos antagonistas, jornalistas que acham normal um ministro do Supremo orquestrar inquérito da PF usando manobra regimentar para arrombar a casa de inocentes sem mandato apropriado e tirando o Ministério Público da jogada por não ter nenhum conteúdo indiciário, o político Sérgio Moro, aquele que lá atrás concedeu clemência a Lorenzoni e que adula o presidente num dia e o dinamita no outro já tem seu  discurso pronto. Sim, o Moro político, volátil... Ele não nega mais uma possível candidatura à presidência em 2022.

Por Victor Dornas

A primeira parte da fala do ex-ministro Sérgio Moro já evidencia uma mudança de postura. Aquele que antes dizia que não se candidataria agora diz que “pensar nisso é um negócio absolutamente inapropriado no momento”, ou ainda que a ideia nem passa em sua mente, “no momento”. Para bom entendedor, a política se move na penumbra das falas.

Moro é o único político na história recente que, na gestão das políticas de segurança, teve concessão para tocar, ao mesmo tempo, dois ministérios integrados. Justiça e Segurança Pública. A tal carta branca foi dada, portanto, muito mais do que de costume. Bolsonaro deu a ele, também, total autonomia para elaborar a tática legislativa do governo no tocante às reformas estruturais da área, de modo que entendeu razoável enviar ao congresso um calhamaço de medidas contendo, por exemplo, a chancela pra assassinato policial, isto é, com zero chances de passar. 

Moro talvez não precisasse agradecer o presidente, mas o mínimo que se esperava dele, por parte do mesmo, certamente era o reconhecimento de que carta branca, teve de sobra. Uma cumplicidade que jamais veio. Uma subordinação impossível pelo fato do ex-ministro evidenciar apetite voraz para a política.

Moro também apoia Alexandre de Moraes em suas 29 batidas com arrombamento sem a anuência do Ministério Público para produzir provas de uma CPI que parece um circo dos horrores, pois se diz vítima também de "Fake News", a arma usada pelo Supremo em conluio com parte da mídia e partidos opositores para tentar depor junto ao TSE um presidente que, gostando-se ou não, lidera um governo com zero escândalos de corrupção. A reunião foi feita numa madrugada na casa do ministro, não juiz, Luiz Roberto Barroso.

Moro diz ainda que somente revelou aquilo que podia provar. Há um vício de linguagem astuto nessa narrativa. Moro nega, mas sua postura foi de delação. Ao ser interpelado pelo veículo de comunicação que convenientemente o acolheu, a Globo, ele disse que nunca teve intenção de prejudicar o governo. Uma espécie de Marina Silva quase togado. Um vaselina político. 

Então a única coisa que ele provou ao estimular a divulgação de um vídeo sigiloso ministerial que quase colocou o país num escândalo diplomático com nosso principal importador, isto é, a China, é que Bolsonaro de fato quer indicar politicamente a direção da PF, fato este permitido por lei. Eleitoralmente, pode ser um erro. Juridicamente, não. Ocorre que parte da mídia endossa a narrativa sem atentar ao seguinte: Moro, que loteou um superministério, tem carta branca midiática para nomear quem ele quiser, sem precisar se justificar. O presidente, não. Ele sim. Qual o motivo? Um juízo a priori?

Na matéria intitulada “Moro ataca”, o Moro político termina seu ensaio a 2022 dizendo que Bolsonaro quis a soltura de Lula, porém, para não ser desmentido, o ex-juiz sagaz como sempre em suas manobras políticas de oratória, diz que lá no Planalto, um grupo de pessoas não identificadas, achavam que a soltura de Lula seria boa para o presidente. Este articulista que sobrescreve o presente artigo também acha isso.  Qualquer analista político, aliás, também acha isso. Qual é o problema? Agora destacar o fato na matéria, dessa forma, com título chamativo, ligando o próprio presidente a um suposto desejo de ver Lula solto é o tipo de ilação que alguém comprometido com a técnica jamais faria. 

É coisa de político, agindo em cooperação com o jornal digital em questão que quer vender. Curioso, também, como Moro consegue imprimir na sociedade a visão de que ainda é muito "técnico" em suas deliberações arbitrárias. 

De que entrou no governo para ser técnico. Saiu do governo, daquela forma, sem apresentar provas contundentes e coerentes com suas ilações, isto é, de que o presidente, criminosamente quer aparelhar a PF, também de modo muito técnico. Num país que não compreende que a carreira política deveria ser melhor instituída e compreendida, por ser dos ofícios mais importantes e sempre atual, a palavra “técnico” soa muito bonita.

Quando Moro divulgou um grampo da presidenta que, de fato, cometia crime de obstrução de justiça (embora nunca tenha sido acusada disso ou de qualquer outra coisa juridicamente, por motivos obscuros, aliás, e ainda com assentimento parlamentar), sem autorização judiciária competente, ele também estava sendo muito técnico. Quando diz que a PF, usada politicamente o tempo inteiro, é um órgão que goza da autonomia devida, está sendo, novamente, muito técnico.

Moro foi um baita juiz penal. Nunca me canso de frisar isso pois é necessário pontuar aquilo que é digno de elogio daquilo que é simplesmente politicagem barata, isto é, a incoerência retórica que conhecemos tão bem neste combalido país. “Aqueles rompantes autoritários precisavam ser expostos.”

Diz o ex-juiz, com carta branca pra tocar dois ministérios, que enviou ao congresso um pacote com autorização pra matar. Soa incoerente nobre leitor? Um pouco? Ou bastante? Cada um que faça o seu juízo sobre essa entrevista. 

O meu é claro. Moro, o político e candidato virtual em 2022, realmente atacou, politicamente. Seu maior problema nessa empreitada? Escolher qual será o seu partido. Certamente, um partido bem “técnico”...

A disputa eleitoreira na pandemia parece ter tentáculos cada vez maiores.





(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas , fotos ilustração: Blog-Google 

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