A pandemia e o desemprego: preservar vidas é
essencial
*Por Aldo Paviani
Há quatro meses, em razão da crise provocada pela
covid-19, temiam-se as mudanças estruturais no mundo e no Brasil. Em nosso
país, sabe-se que ao menos em um setor da vida econômica haverá mudanças, que preocupam
os trabalhadores, o setor privado e as instituições públicas. As pessoas
receiam ser infectadas, perder o posto de trabalho ou morrer. As empresas, pela
queda do faturamento, tentam sobreviver demitindo funcionários ou fechando as
portas em razão da quarentena. O comércio pouco vende porque possíveis
compradores se mantêm em distanciamento social, em casa. No país, superou-se o
primeiro milhão de infectados — 1,36 milhão — e mais de 58 mil mortes, ontem,
29 de junho. No âmbito federal, houve má gestão da pandemia, com quadro da
crise viral muito grave. A tendência da curva será continuar se elevando.
Em Brasília, não foi diferente. A apressada
abertura de shoppings e alguns ramos comerciais e de esportes aumentou a
quantidade de infectados pela covid-19 e não restou ao GDF outra solução senão
decretar estado de calamidade pública. Todavia, já se perderam, no total, 550
vidas. Divulga-se que o DF havia sido a unidade da Federação com a maior taxa
de doentes recuperados — 71% ou 32 mil pessoas. Ao final de junho, o total de
infectados atingiu 45 mil pessoas, prevê-se que poderá chegar a 50 mil em
julho. A razoável recuperação significa bom atendimento médico, hospitalar e a
rapidez em que se iniciam os tratamentos. Há receio do avanço da epidemia, pois
o sistema hospitalar público tem 62% dos leitos de UTI ocupados e, nos
particulares, elevou-se a 92%.
A argumentação para medidas restritivas tem apoio
na lógica e na ética: a vida de seres humanos e a saúde pública são mais
importantes do que os negócios, que sofreram e terão ainda perdas com a
covid-19 por falta de faturamento e até falências. Isso ocorrerá até que surja
vacina eficaz ou a curva das infecções seja fortemente declinante para liberar
o funcionamento de comércio em Brasília. Por seu lado, a população deverá ser
mais disciplinada, sendo obediente ao lema “fique em casa”.
Quanto ao desemprego no DF: a PED
(Diesse/Codeplan/Setrab) de abril demonstrou que, na população economicamente
ativa (PEA), de 1,6 milhão de pessoas, havia 1,27 milhão de ocupados e 334 mil
sem emprego, ou 20,7% da PEA, uma das mais altas taxas de desemprego no Brasil,
atrás apenas de Salvador. A PED demonstra ainda que a população das regiões
administrativas (RAs) mais pobres possuem taxas superiores à média: o grupo de
mais baixa renda apresentou taxa de 30,1%. São as seguintes RAs desse grupo:
Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, Scia–Estrutural e Varjão.
O grupo de média-baixa renda, com 25,1%, é composto
pelas seguintes RAs: Brazlândia, Ceilândia, Planaltina, Riacho Fundo, Riacho
Fundo II, SIA, Samambaia, Santa Maria e São Sebastião. Nessas quinze RAs, as
taxas de desemprego superam a média do DF e, para melhorarem as respectivas
situações de falta de vagas de trabalho, merecem tratamento especial de
expansão das atividades econômicas para ocupar os respectivos contingentes de
desempregados.
No grupo de alta renda — Grupo 1 (Plano Piloto,
Jardim Botânico, Lago Norte, Lago Sul, Park Way e Sudoeste/Octogonal) —, a taxa
estava muito abaixo da média de todo o DF e diminuiu de 8,6% para 8,2% na
comparação entre o semestre de fevereiro de 2019 a julho de 2019 e o de
março de 2019 a agosto de 2019. À época, a média de desemprego do DF era de
18,3%. Esclareça-se que o Grupo 1 só é contabilizado semestralmente.
No Grupo 2 (média-alta renda), a taxa em abril foi
de 15,8%, quase a metade da taxa encontrada para o DF (30,1%). Compõem esse
grupo: Águas Claras, Candangolândia, Cruzeiro, Gama, Guará, Núcleo Bandeirante,
Sobradinho, Sobradinho II, Taguatinga e Vicente Pires.
A avaliação por grupos demonstra que as populações
das RAs mais pobres — Grupo 3 e 4 — têm menos possibilidade de manter
trabalhadores ocupados por falta de atividades econômicas para manter as
pessoas empregadas. Essas RAs são merecedoras de um olhar atento para o dado
socioeconômico importante, uma vez que, passada a onda da covid-19, as
atividades retornarão.
Pode-se imaginar que os efeitos da pandemia nos
empregos no DF e no Brasil deverão ser preocupantes, passada a crise pandêmica.
No balanço da situação atual, o mais desejável é que se preservem vidas com
empenho total. Mas, como estão as demais morbidades? Por exemplo, acidentes de
trânsito com mortes?
(*) Aldo Paviani Geógrafo,
professor emérito da UnB, membro do Núcleo do Futuro/Ceam/UnB
e da Associação Nacional de Escritores/ANE
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