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BOLSONARO É UM POODLE (Coluna Victor Dornas)



“Tem gente que nasceu quarenta anos depois do que eu vivi e quer dizer como devo governar o Brasil. Estou fazendo exatamente o que deve ser feito. Não serei o primeiro a chutar o pau da barraca. Eles estão abusando. O ocorrido no dia de ontem, no dia de hoje, quebrando o sigilo de parlamentares não tem história nenhuma vista numa democracia.” Bolsonaro, hoje pela manhã. Filipe G. Martins, assessor-chefe de assuntos internacionais no Planalto vai ao Twitter dizer que “Chegou a hora”. A turma bolsonarista vibra, pois imagina que chegou a hora dos tanques ou das forças armadas prenderem um ministro do Supremo. Não, não. A hora do festim.

Por Victor Dornas

A madrugada foi movimentada no Planalto, de fato, porém não no sentido de confabulação de uma intervenção militar e sim de debate político sobre como Bolsonaro, que tem como meta tentar restabelecer o diálogo institucional, manterá seus lobos virtuais saciados após as barbaridades promovidas pelo advogado supremo Alexandre de Moraes, que chegou ao STF por indicação do presidente Temer que, recorda-se, teve prisão decretada e foi grampeado trocando figurinhas com Joesley Batista, o sujeito que, sozinho, conseguiu manipular a B3. O problema é bastante simples.

Os lobos virtuais, com razão, querem sangue. Ocorre que, numa democracia sadia, o poder responsável por falar mais alto é o parlamento, não o Executivo. No Brasil, sabe-se que este parlamento é uma agremiação mafiosa, porquanto, na visão do apoiador mais ferrenho do bolsonarismo, caberia ao presidente interferir no Legislativo par coibir uma interferência que sofre do Judiciário. 

Na prática, teríamos uma máquina estatal ainda mais incendiada e só, uma vez que o presidente não conseguiria exercer as duas funções, vide o desastre econômico promovido pós AI-5 com os milicos promovendo obras atrás de obras que nos deixaram também um espólio deficitário de alguns trilhões. Não havia harmonia e sim autoritarismo.

Paulo Guedes ontem disse que está otimista para o final do ano, sopesando o pessimismo decorrente da deterioração da máquina pelo fechamento compulsório da economia. Ou seja, o governo não está pensando em Alexandre de Moraes nem nada disso. Bolsonaro, agora com apoio do centrão, quer buscar formas que suplantar a mera gestão de crise. Ao contrário, que diz a grande mídia, que vende jornais prenunciando golpes e difamando o presidente como um nazista ou coisas do tipo, Bolsonaro só quer promover números positivos, pensando em 2022.

Um Supremo politizado viu na pandemia uma oportunidade para tentar impedir Bolsonaro de indicar seus ministros, insuflando seus apoiadores que agora pedem a intervenção. Ou seja, o Supremo fez exatamente aquilo que acusa Bolsonaro de ter feito. O Supremo, promovendo batidas e quebras de sigilos inconstitucionais, em conluio com uma grande mídia detentora das narrativas, atiçou muito mais do que qualquer bravata de Bolsonaro, o discurso golpista, uma vez que, diante de tantas decisões monocráticas aberrantes, não há para quem recorrer senão ao plenário do próprio Supremo, isto é, a possibilidade de manutenção corporativista.

O impasse tirou o sono do presidente.

Ele não quer fazer aquilo que seus apoiadores deliram. Começou fritando o ministro da educação, Abraham Weintraub, por ter feito muito menos do que ele próprio, Bolsonaro, já fez ao alcunhar a maior pandemia da geração como “resfriadinho” em rede nacional.

Resta saber como ficará essa base de apoio tão ideologicamente concisa quando notar que o Rottweiler que enxergam na figura de seu presidente na verdade é apenas um Poodle que pesca narrativas, adora latir, mas nunca de fato foi um homem de combate. É um político. Gosta da bravata, da ofensa e subiu em popularidade promovendo uma rixa infernal iniciada pelo PT onde ele apenas indica a direção para que eventuais Saras Winters sejam presas.

Este colunista já se enganou uma vez quando supôs que Sérgio Moro havia saído do governo por princípio e não por oportunismo político. Sendo assim, abro a possibilidade de Bolsonaro estar de fato preparando alguma arma secreta para causa impacto nessa zona que se tornou a relação entre as nossas instituições, ostensivamente politizadas, cínicas e poupadas de críticas por jornalistas que, por algum motivo não sabido, direcionam seus porretes apenas para o presidente. Pode ser que, dessa vez, Bolsonaro faça mais do que apenas latir.

De toda forma, sendo um Poodle ou um Rottweiler, em ambos os casos, nós perderemos. Somente nós, aqui no Brasil, os poucos que tentamos enxergar uma lógica além da polarização é que sabemos o barco furado que nos metemos. Lá fora... nem imaginam os verdadeiros contornos da encrenca que mantemos aqui. 

Na nossa briga de lar injustificável.



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google


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