Minha
vitrine
*Por Irlam Rocha Lima
''Certamente, sou o autor das
primeiras reportagens publicadas na imprensa brasileira sobre artistas que
começaram a trajetória aqui e depois se consagraram nacionalmente, entre os
quais, Oswaldo Montenegro, Rosa Passos, Renato Russo, Dinho Ouro Preto, Cássia
Eller, Zélia Duncan, Natiruts e Hamilton de Holanda''
Às 10h do dia 24 de junho de 1975,
coloquei os pés pela primeira vez nas dependências do antigo prédio do Correio
Braziliense. Jovem repórter, cheio de sonhos, havia sido convidado por José
Natal, o editor de Esportes, para fazer parte de sua pequena equipe. Antes de
iniciar minhas atividades, estive na sala do exigente editor geral — cargo que
hoje corresponde ao de diretor de Redação — Ari Cunha, para ser sabatinado.
Minha estreia foi na cobertura dos
Jogos Estudantis Brasileiros, realizados aqui na cidade, quando entrevistei
Wlamir Marques, chefe da delegação de São Paulo, que, anos antes, havia se
tornado campeão mundial de basquetebol pela Seleção Brasileira.
Na mesma época, testemunhei, no Clube
Unidade de Vizinhança, da Asa Sul, o início da carreira de Oscar Schmidt, que
viria a ser um dos maiores astros desta modalidade esportiva no país e no
mundo; assim como a de Paulo Victor, goleiro do Ceub, que se destacou no
Fluminense e chegou à Seleção; e de Edmar, centroavante do Brasília, com
passagem como goleador pelo Cruzeiro, Corinthians, Palmeiras e Flamengo.
Paralelamente à cobertura esportiva, já
me mantinha ligado à música, manifestação artística pela qual sempre fui
apaixonado. De passagem pela capital com a turnê de Refazenda, Gilberto Gil foi
o primeiro grande nome da MPB a me conceder entrevista. Assim como ele, são
incontáveis os cantores, compositores e músicos que se transformaram em
personagens das minhas matérias — já como repórter de Cultura —, tendo por base
shows apresentados, discos lançados ou outros assuntos relativos ao ofício que
exercem. Além de Gil, tive o privilégio de ter me tornado próximo de Maria
Bethânia, Ivete Sangalo, Caetano Veloso, Roberto Menescal, João Donato e
Guinga; e de merecer a atenção de vários outros nomes importantes da MPB.
Profissionalmente, acompanhei
importantes eventos, como o Rock in Rio, o Hollywood Rock, o Free Jazz
Festival, o Festival de Parintins, o carnaval de Salvador e os concertos de
Madonna, Michael Jackson, Bob Dylan e Rolling Stones.
Fã dos Beatles, foi com grande emoção
que participei da coletiva concedida por Paul McCartney, no camarim do
Maracanã, antes de sua primeira apresentação no Brasil, em novembro de 1990.
Mas, ao longo da carreira, foi à música
de Brasília que mais me dediquei. Certamente, sou o autor das primeiras
reportagens publicadas na imprensa brasileira sobre artistas que começaram a
trajetória aqui e depois se consagraram nacionalmente, entre os quais, Oswaldo
Montenegro, Rosa Passos, Renato Russo, Dinho Ouro Preto, Cássia Eller, Zélia
Duncan, Natiruts e Hamilton de Holanda.
O Correio abriu espaço ainda para
matérias com personagens do underground do DF, ligados à música e ao universo
LGBT. Um deles foi Vitoria — codinome de Vitor —, que interpretava Billie
Holliday no musical Hello, Broadway!, na boate New Aquarius, no Conic. Uma
curiosidade: Vitor era maquiador de Dulce Figueiredo, mulher do então
presidente João Baptista Figueiredo, e costumava fazer parte da comitiva
presidencial nas viagens internacionais, assistindo a primeira-dama.
Orgulho-me de estar entre os sócios fundadores
do Clube do Choro, onde, em 2015, lancei o livro Minha Trilha Sonora — 40 Anos
de Jornalismo Cultural; e de possuir a comenda de Cidadão Honorário de
Brasília, concedida pelo deputado Chico Vigilante. Tudo isso me foi possível
conquistar, por ter o Correio Braziliense como vitrine.
(*) Irlam Rocha Lima – Colunista do Correio Braziliense –
Foto: Kleber Sales/CB/D.A.Press - Correio Braziliense
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PERSONALIDADES