Desde que naja picou estudante, 33 serpentes foram resgatadas no DF.
Desde que Pedro Henrique foi picado por uma naja, autoridades recolheram 33
serpentes ilegais, no DF. Ontem, uma jiboia foi recebida pela 14ª DP (Gama)
*Por Tainá Seixas
O caso do jovem picado pela
naja, no início do mês, chamou a atenção do país e acendeu um alerta para
moradores do Distrito Federal. Desde o dia 7 de julho, quando o estudante de
veterinária Pedro Henrique Lemkuhl, 22 anos, foi atacado pela cobra que criava
ilegalmente, 33 serpentes mantidas sem autorização foram resgatadas. Ontem, o
dono de uma jiboia da espécie boa constrictor entregou o animal à 14ª Delegacia
de Polícia (Gama) — responsável pelas investigações acerca do caso da naja. O
homem não foi responsabilizado.
Apesar da comoção, a quantidade de
capturas de cobras que aparecem em residências no DF diminuiu no acumulado do
ano, em comparação com 2019. Desde janeiro, o Batalhão de Polícia Militar
Ambiental (BPMA) resgatou 239 cobras. No mesmo período do ano passado, foram
267 ofídios.
Na semana passada, Yara Ballarini,
30, avistou uma jararaca dentro do galinheiro de sua casa, no Córrego do Urubu,
no Varjão. De acordo com a empresária, é comum o surgimento de serpentes no
local, devido à região onde mora. Para evitar que cobras e outros bichos entrem
na residência, ela fez adaptações — colocou forro e rodapé nas portas. “Eu
tenho medo, mas prefiro deixá-las no canto delas, porque acho que a gente que
está invadindo o ambiente desses animais”, avalia Yara.
Bernardo Prieto, 35 anos, também
se deparou com cobras em casa, no Jardim Botânico. Ao chegar na residência, ele
encontrou uma serpente na piscina. “Eu peguei um gancho, retirei e soltei no
mato”, conta o empresário. Fazer capturas desses animais por conta própria, no
entanto, é altamente desaconselhável pela Polícia Militar Ambiental,
responsável por efetuar os resgates.
Ligue
190: A orientação da polícia é de que a pessoa, ao
avistar uma cobra ou outros animais silvestres e exóticos dentro de casa,
chame, imediatamente, o Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA) pelo
telefone 190.
Apesar de as cobras, normalmente, aparecerem em
residências no período chuvoso, buscando refúgio, a cabo Fernanda Echamende do
BPMA assegura que a corporação atende a muitas chamadas durante a seca. “Todo
dia recebemos ligações para captura de cobras. Geralmente, são cobras nativas
do Cerrado e que aparecem em locais onde tem campos próximos, como setores de
chácaras”, explica.
Após a captura das serpentes, o BPMA as devolvem à natureza, caso sejam de espécies nativas da região e estejam em boas condições de saúde. Se não estiverem sadias, as cobras são encaminhadas ao Centro de Triagem e Reabilitação de Animais (Cetas-DF), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Uma vez recuperadas, o instituto retorna o animal ao habitat deles.
No ano passado, foram 611 cobras resgatadas pelo BPMA. A espécie mais frequente é a jiboia, que não é peçonhenta. A cascavel, também, aparece bastante, no Distrito Federal, e possui um perigoso veneno, capaz de matar uma pessoa. Bernardo relata que perdeu um primo, há cinco anos, devido à picada de uma cascavel. O rapaz, à época com 28 anos, pedalava na QI 27 do Lago Sul quando foi picado pela obra. Voltou a pedalar, à procura de socorro, o que fez o veneno se espalhar pelo corpo. Ele faleceu dois dias depois.
Caso
de polícia: Se a cobra for exótica — de fora
do Brasil —, o caso pode ser investigado pela Polícia Civil, como ocorreu com
Pedro Henrique Lemkuhl. Em situações como essas, é feita uma apuração para
descobrir como o animal chegou ao país. O Ibama fiscaliza os locais de
cativeiro, aplica multas e presta os devidos cuidados veterinários. Parte das
serpentes resgatadas está, atualmente, em quarentena, no Zoológico de Brasília.
A jiboia entregue, ontem, no Gama, está com o Ibama. O órgão busca instituições
habilitadas para a custódia da cobra
Memória:
Suspeita de tráfico - O estudante de medicina veterinária Pedro Henrique Lemkuhl foi
picado por uma cobra naja, em 7 de julho. O rapaz é investigado por
participação em esquema de tráfico de animais. Há, também, a suspeita de
promoção de pesquisas clandestinas com animais exóticos. Em 10 de julho, três
amigos do estudante prestaram depoimentos, incluindo o rapaz que soltou a naja
perto do Shopping Pier 21. Na última quinta-feira, a mãe e o padrasto do rapaz
compareceram à 14ª DP.
Pedro
deve prestar depoimentos quando receber liberação médica. Ele, atualmente, está
em casa, após seis dias de internação hospitalar devido ao veneno da naja. A
família e o jovem foram multados em R$ 78 mil, por maus-tratos e por manter
serpentes nativas e exóticas em cativeiro sem autorização.
Na
sexta-feira, o Ibama afastou um servidor do Centro de Triagem e Reabilitação de
Animais Silvestres (Cetas) do órgão por suposta participação no caso do jovem
picado por uma naja. Segundo o órgão, foi aberto um processo administrativo
disciplinar interno para apurar se o funcionário está envolvido.
Linha
do tempo: 8 de
julho A cobra naja, da espécie kaouthia, originária dos continentes asiático e
africano, foi capturada próxima ao Shopping Pier 21, após ser solta no local
por um amigo de Pedro, e encaminhada ao Zoológico.
Dia
9: O BPMA
resgatou 16 cobras em um haras, em Planaltina (DF), onde eram mantidas
inadequadamente. Dessas, 10 eram de origem norte-americana e seis nativas da
Amazônia e Cerrado. O dono do espaço foi multado, em R$ 68 mil, pelo Ibama por
maus-tratos, manter animais nativos e exóticos sem autorização e dificultar a
ação dos fiscais. Este caso tem ligação com Pedro Henrique, que, também, é
investigado pelas 16 cobras, assim como sua mãe, padrasto e amigo.
Dia
10: O
Ibama, em ação conjunta com a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF),
resgatou seis serpentes em Vicente Pires: duas jiboias arco-íris da Caatinga,
duas da espécie píton (Ásia) e duas jiboias de Madagascar (África). O
proprietário do local foi multado, por maus-tratos e por manter as serpentes
ilegalmente, em R$ 39 mil. No estabelecimento, também, foram encontrados três
tubarões bambu, originários da Oceania, um lagarto teiú e um peixe moreia. O
Ibama aguarda a documentação dos animais. No mesmo dia, o instituto recebeu,
voluntariamente, uma cobra jararacuçu, da Mata Atlântica, e uma víbora-verde-de-vogel
(Ásia), de um homem que as mantinha em casa. Todas as cobras foram encaminhadas
ao Zoológico.
Dia
11: Seguindo
pistas do caso da naja, o Ibama e a polícia foram à residência do pai do amigo
de Pedro Henrique, onde resgataram uma jiboia arco-íris. O homem foi multado em
R$ 33,5 mil. No mesmo dia, outra entrega voluntária de duas jiboias arco-íris,
duas cobras rat snakes (norte-americanas) e um lagarto gecko foi feita ao
Ibama. As jiboias serão devolvidas à natureza e os demais animais seguem em guarda
provisória do órgão.
Dia
14: Moradora
de Samambaia telefonou para o Ibama relatando criar uma jiboia em casa. O
instituto buscou o animal e a mulher não foi multada, por ter entregue o animal
voluntariamente. Em ação conjunta entre Ibama e Instituto do Meio Ambiente e
dos Recursos Hídricos do Distrito Federal (Ibram), foram resgatadas uma jiboia,
um jabuti e um tigre d’água, em Sobradinho. O responsável foi multado pelo
órgão.
Dia
19: Uma
jiboia de espécie boa constrictor foi entregue, voluntariamente, na 14ª
Delegacia de Polícia (Gama). O dono da serpente não foi responsabilizado e o
animal ficará sob guarda provisória do Ibama até ter um novo destino.
(*) Tainá Seixas - Foto: Ivan Mattos/Zoológico -
Correio Braziliense
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Polícia