Júlia Lucy (Novo) argumenta que
Refis anteriores foram aprovados por maioria simples
Seis dias após a votação que rejeitou o projeto de
lei complementar (PLC) que estabelece o novo Programa de Incentivo à
Regularização Fiscal do Distrito Federal (Refis-DF 2020), o assunto voltou à
tona, desta vez pela deputada distrital Júlia Lucy (Novo). Por meio de
requerimento, a parlamentar protocolou pedido para que a Mesa Diretora da
Câmara Legislativa retifique o resultado que reprovou o Refis — com 12 votos
contra, sete abstenções e cinco a favor —, em 23 de junho.
Segundo Júlia Lucy, programas de recuperação de
débitos fiscais anteriores foram aprovados por maioria simples, não sendo
necessária o aval da maioria absoluta da Casa. Com o pedido, a deputada deseja
que o projeto retorne ao Plenário, hoje, e seja avaliado em segundo turno.
No documento, a distrital justifica que houve
“lapso formal’, ou seja, erro no processamento da votação do Projeto de Lei
Complementar nº 40, de 2020. “A Lei Orgânica do Distrito Federal (LODF) não
pode estabelecer votação qualificada de dois terços para aprovação de lei
ordinária, contrariando o princípio jurídico-constitucional do processo
legislativo, que exige para essa espécie de lei, apenas, a maioria simples”,
consta no texto.
Descontos: O texto do Refis-DF 2020 estabelece descontos de
até 50% nos valores principais de dívidas tributárias ou não. A medida vale
para pessoas físicas ou jurídicas, e a proposta do Executivo local era permitir
que os pagamentos ocorressem em até 10 anos. Quem optasse por dividir o débito,
em até cinco parcelas, teria desconto de 95% sobre os juros e a multa. No caso
de mais parcelas, os abatimentos variavam de 90% a 50%. Caso fosse aprovado, a
Secretaria de Economia projetava uma economia de R$ 823,2 milhões para as
empresas neste ano, correspondente aos valores poupados com impostos, juros e
multas.
Para o distrital Delmasso (Republicanos) o Refis é
fundamental para superar a crise econômica provocada pelo novo coronavírus. “O
programa abre a possibilidade para o GDF aumentar arrecadação, porque há
previsões econômicas que o Distrito Federal deve perder de R$ 3 a R$ 5 bilhões
na sua arrecadação e isso é péssimo para a capital”, argumenta o deputado. Com
a adoção da maioria absoluta, Delmasso acredita que será possível aprovar a
proposta.
Para o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes,
Bares e Similares de Brasília (Sindhobar-DF), Jael Antônio da Silva, a
iniciativa da deputada Júlia Lucy é positiva e busca alternativas para auxiliar
o setor produtivo do DF. “O Refis, na verdade, é uma tábua de salvação. Todos
ou a maioria dos pequenos e médios empresários estão devendo as suas
contribuições tributárias. Com isso, eles estão negativados para efeito de
apresentação de certidão, quando vão se habilitar para algum tipo de
financiamento junto à rede bancária”, explica.
Em relação ao pedido de Júlia Lucy, a assessoria do
deputado distrital e presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente,
esclareceu que o pedido será negado devido à Lei Orgânica da Casa. “Assim que o
requerimento foi protocolado, automaticamente, a procuradoria da CLDF é
acionada para dar um parecer à Mesa Diretora para que seja tomada uma
decisão. A procuradoria deve emitir um parecer até amanhã (hoje), mas, de
acordo com o que diz o Artigo n° 131 da Lei Orgânica, para a alteração de
alíquota de imposto, criação de imposto e Refis é necessário um quórum
qualificado, ou seja, 16 votos. Então, a procuradoria, com base no que diz a
Lei Orgânica, recomenda que o pedido da deputada não pode ser aceito”, explicou
a assessoria. “A saída, nesse caso, seria o governo conseguir o apoio de 13
deputados e reapresentar o projeto. Isso é previsto na legislação”, completou
Rafael Prudente.
Duas perguntas para deputada distrital Júlia Lucy (Novo)
Duas perguntas para deputada distrital Júlia Lucy (Novo)
Qual a importância de retificar a votação do
projeto de lei do Executivo que autoriza o Programa de Regularização Fiscal do
Distrito Federal (Refis-DF 2020)? Há expectativa de que o programa seja
aprovado? Estamos em um estado de calamidade pública que já
apresenta efeitos nefastos na economia. A elevada carga tributária que recai
sobre o contribuinte, em especial sobre a atividade empresarial, somada à crise
econômica, contribui para o aumento do endividamento e falências. Os
empresários perdem capacidade de investimento e geração de empregos, e a
Fazenda Pública, também, é afetada com a frustração na arrecadação. O Refis é
uma forma de incentivar o pagamento dos tributos, trazendo um alento para os
empresários. Contempla, também, as pessoas físicas, ao incluir débitos
relativos ao ICM, ICMS, ISS, IPTU, IPVA, ITBI, ITCD, TLP e débitos não
tributários. Trabalhamos para criar o entendimento necessário junto ao
Legislativo e o Executivo e possibilitar a aprovação do Refis 2020.
Por que a senhora acha que deveria ser retificada?
Qual foi erro, e quem errou a avaliação na votação anterior? Como a rejeição da
medida impacta as empresas do DF? A exigência de quórum qualificado (maioria
absoluta) é prevista para um rol de matérias específicas, o que não é o caso do
Refis, que pode ser aprovado por lei ordinária. Todos os Refis aprovados foram
feitos dessa forma, ou seja, aprovados por maioria simples, conforme
entendimento do Tribunal de Justiça do DF e Territórios. Nesse sentido, a
Câmara Legislativa deve rever o processamento da votação para possibilitar a
reapreciação da matéria. O impacto financeiro projetado do Refis é enorme, na
ordem de R$ 500 milhões. É uma oportunidade para que pessoas físicas e
jurídicas possam quitar débitos com o governo local e, assim, voltarem a ter
acesso a crédito e certidões negativas, ajudando na recuperação da economia e
na geração de emprego e renda.
Por Tahis Umbelino – Foto: Marcelo
Ferreira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
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