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O SAMBA ECONÔMICO DO PAULO GUEDES (Coluna Victor Dornas)

Por Victor Dornas 

Diante da pandemia, não há outro caminho ao Brasil além de uma reforma acelerada de cunho liberal. O governo federal, que usa essa bandeira liberalista na gestão Guedes, conseguiu quebrar os juros e infernizar um pouco o rentismo, além de frear o inchaço estatal adotando medidas como, por exemplo, a de frear as benesses do funcionalismo público, aprovando também uma previdência menos desumana e finalmente desafogando o saneamento. 

Não privatizaram estatais, entretanto, pois a legislação brasileira é feita para praticamente proibir a venda desses elefantes e garantir os monopólios de setores estratégicos, tamanha burocracia exigida, bem como a morosidade de um congresso um tanto esquizofrênico.

No momento atual, entretanto, se vê por parte dessa gestão que se diz liberal uma série de medidas que se assemelham bastante ao modo de entender a economia pela gestão petista. A primeira delas é a tal Renda Brasil que nada mais é do que o próprio programa Bolsa Família mais modernizado que usaria, inclusive, os dados obtidos pelo subsídio dado pelo governo na pandemia. Guedes diz que a ideia não é manter currais eleitorais cativos como fez o PT e sim estimular a transição do ocioso para o mercado de trabalho por meio de denominados impostos de rendas “negativos” ao passo que também se faria uma carteira azul desonerando o empregador. Outra conversinha de Guedes que parece um tanto com a do PT é a tal edição de um novo imposto que tributa pagamentos e incidiria também em transações bancárias, mas, que, segundo o ministro, não é uma CPMF e sim um imposto sobre pagamento! Tudo isso faz da gestão Guedes estatista? Ou talvez uma vez gestão mista? Afinal de contas, o quê está acontecendo com a pasta econômica do governo Bolsonaro?

Num país onde a riqueza é ideologicamente demonizada com fulcro na distorção da própria realidade, já que nosso IDH é o mais perverso do planeta, é difícil acreditar, por isso, que a primeira diferença entre Guedes e o PT é que o ministro milionário banqueiro está bem intencionado. Por mais que se diga que a ideia de Guedes de ressuscitar um imposto que nunca deu certo pesará, por empiria pregressa, nas classes baixas e setores produtivos, faz-se necessário ressalvar que Guedes quer um pacote tributário e não simplesmente um acréscimo. 

A questão é que toda essa boa intenção esbarra num congresso que reflete a polarização rasa da nossa sociedade e um gestor do Executivo não consegue dar muitos passos sozinhos. O drama de Guedes é distinguir um país de uma mega empresa, pois seus funcionários do alto escalão, no caso na figura de senadores e deputados, não são escolhidos por ele e sim por nós.

Então a grande imprensa se ofende quando ele diz que o novo imposto desonerará a folha da pagamento num país onde a contratação é uma das mais pesadas do mundo, uma vez que a postura do brasileiro calejado por governos autoritários é de total incredibilidade tributária. Essa má vontade de Guedes o nivela com seus predecessores e seu liberalismo acaba sendo pautado como frágil da medida em que ele propõe medidas com cheiro de socialismo.

A maior dificuldade de analisar o Brasil são as tais comparações econômicas com os estrangeiros. É verdade que a CPMF não é usada em nenhum país membro da OCDE e também é verdade que esse tipo de tributação é mais comum em países miseráveis. Ocorre que esses analistas se esquecem de dizer que a taxa de sonegação desses países não deve ser analisada da mesma forma que a nossa realidade. Além disso, a CPMF tem a característica de ser um imposto fácil de ser cobrado. Isso não legitima qualquer ação de Guedes, que vem fazendo jogadas ousadas e acertadas, na maior parte dos casos, como o recente programa de incentivo para pequenos e médios no importe de cinco bilhões que deu certo.

Não podemos seguir todos os modelos de países avançados pois existem posturas compatíveis com a melhoria gradual de um país engessado e outras tantas que só fazem sentido num país que já está modernizado, a despeito do que idealizam os anarquistas. A função do Estado é medir o grau de incidência, se a ideia for de fato construir uma social democracia equilibrada.

Há razão na crítica que muitas das coisas que Guedes faz se parecem mesmo com programas geridos ou intencionados da gestão petista, porém quase não se vê na grande mídia qualquer indício de confiabilidade na boa intenção do ministro. Essa boa intenção se materializará na hora que o projeto for consolidado e enviado ao plenário. Ali os analistas poderão de fato concluir quais setores seriam ou não prejudicados, ou seja, na análise da proposta de fato.

Como venho dizendo nesta coluna, o liberalismo, ao contrário do que imagina o brasileiro médio, não um sinônimo de frustração estatal, ou de diminuição irrestrita. O nome  disso seria anarquia. O liberalismo é uma reflexão sobre o limite do estado reconhecendo a importância primordial do próprio estado. No nosso caso, por óbvio, significaria, também um “desinchaço” compulsório da máquina burocrática em muitos aspectos e a manutenção de outros. Um país que está bastante desorganizado mas que, entretanto, ainda acredita na democracia, ser liberal não significa acabar com as instituições e sim botá-las para funcionar.

Não se sabe ainda se as medidas de Guedes darão bons resultados, porém já se julga na grande mídia os possíveis efeitos negativos por parte delas por pura politização. Não se sabe direito como seria esse tal imposto, porém por parte deste modesto articulista há a crença de que Guedes é sincero quando diz que quer facilitar um emaranhado burocrático tão prolixo que impõe na prática a oneração desumana do cidadão que trabalha meio ano para doar seu dinheiro ao estado como resquício ideológico da repartição socialista e obrigatória de bens que na prática somente ajudou a criar monstros ainda piores do que o monopólio empresarial.

Se tiver sucesso, Guedes significaria o nosso sucesso e não só dele próprio. Diziam que Guedes, o “privatizador” seria rock n roll. Mas na verdade Guedes é samba! Uma mistura de ritmos que tem como principal maestro um sujeito que dá seus tropeços mas parece estar, acima de tudo, bem intencionado. 



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google

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