Por Victor Dornas
Não é de hoje que a
grande mídia não esconde seu incômodo em precisar dividir espaço com seres
humanos nas chamadas redes sociais. Em verdade, a palavra correta não é “dividir”,
uma vez que essas pessoas influentes, que muitas vezes não estão associadas a
qualquer pessoa jurídica, conseguem uma visibilidade absurdamente maior do que os
grandes veículos de jornalismo. Disso, adotou-se a narrativa de que apenas
indivíduos “credenciados” deteriam do monopólio da verdade, isto é, o debate
das tais “fake news”. Não sendo suficiente, pois a grande mídia continuou
preterida nas redes, impulsionou-se, por isso, uma “comissão parlamentar de
imprensa” que chancelou a divindade da suprema corte, Alexandre de Moraes, a
organizar batidas da Polícia Federal a seu bel prazer.
Novamente, entretanto, o intento restou-se sem sucesso.
A nova estratégia
desses grandes grupos é trazer para o seu lado grandes figuras influenciadoras
digitais, porém não qualquer uma dessas figuras, mas sim alguma que se encaixe melhor
com o cinismo de certas emissoras. O escolhido é um youtuber que passou muitos
anos exibindo material adulto nas redes e que, por perceber um público alvo com
potencial financeiro bilionário, mudou drasticamente sua linha de abordagem. O problema
é que o novo público são crianças com idade média de 8 a 10 anos. Isso lembra alguém da
grande mídia? Uma certa apresentadora infantil que chegou a filmar pornochanchada
com adolescente de treze anos? Pois bem. Casa perfeitamente com o estilo.
Ocorre o seguinte,
nobre leitor. Um dos maiores sintomas de uma democracia incipiente é a
legitimação de pessoas completamente despreparadas para comandarem os debates políticos
mais influentes. Nós não somos um país com uma esquerda imatura e sim de um
povo imaturo e frustrado dos meios de instrução mais básicos. A tal direita “Bob
Jeff”, em represália a tal emissora que levou o youtuber que mudou sua abordagem
para o público infantil, mas que não retirou de seu canal os vídeos com
material adulto, ao jornal nacional, resolve estacionar um carro de som na
frente da propriedade do rapaz para intimidá-lo, isto é, em flagrante cometimento de crime de ameaça.
Vendo o espetáculo
escatológico, o público desavisado imediatamente acolhe a narrativa de que todos
os seguidores do presidente Bolsonaro são trogloditas criminosos e o tal youtuber,
um coitadinho perseguido apenas por ter, supostamente, pensamento próprio.
Ocorre, leitor, que a insistência do Supremo
em silenciar pessoas nas redes, agora com alcance de bloqueio internacional de
contas numa revisão de decisão bizarra do ex- PSDB Alexandre de Moraes pode ter
um interesse um tanto mais sério do que meramente uma guerra por domínio
midiático nos meios digitais.
Um dos perseguidos, o
jornalista Allan dos Santos, pupilo do astrólogo e filósofo Olavo de Carvalho, alega ter
deixado o país por temer ameaça à sua integridade física, bem como de seus
familiares. Além disso, na véspera da madrugada de hoje, 31/07, o jornalista já em
situação de suposto refúgio, aduziu denuncias gravíssimas envolvendo o ministro
do Supremo Luis Roberto Barroso, que no mesmo dia fez uma Live com o tal “youtuber”
acima citado. Pasme, querido leitor, mas o jornalista diz que Barroso organiza
um golpe de estado envolvendo o aparelhamento do Tribunal Superior Eleitoral,
por meio da contratação de empresas criminosas e na produção de pelo menos três
aparelhos de gravação clandestina que teria gravado falas particulares do
presidente da república.
Onde estão esses aparelhos? Segundo o jornalista, nas
embaixadas da China, Coreia e na casa do famoso advogado de políticos Antônio Carlos de
Almeida Castro, o “Kakay”, que estranhamente ainda não foi nomeado ministro do
Supremo, porém costuma adentrar a sede trajando chinelas e bermuda, tamanha a “intimidade”.
UAL! Que história
mirabolante!!
Conforme venho tratando
nesta coluna, nossa Suprema corte é, por formação, uma vergonha. Embora sejam
pessoas mais bem pagas do que as cortes superiores europeias, não tem, em
grande maioria, sequer a formação de magistrado e são indicados por políticos
que em certos casos acabaram na prisão. Uma teia de corrupção desse nível não
surpreenderia em nada este humilde articulista, porém é necessário atentar que, conforme citei inicialmente acerca da incipiência técnica de nossos debates
democráticos, sendo o jornalista um seguidor ferrenho do astrólogo Olavo e suas exuberantes narrativas, julgo
sensato aguardar que o rapaz forneça as provas que alega dispor.
Amigo leitor, estamos
diante de uma situação muito grave, em ambos os desfechos possíveis. Caso o jornalista em
questão se revele um simples bravateiro, assim como os alucinados que colocaram
um carro de som na residência particular do tal “youtuber”, o jornalista Allan
dará ensejo para toda e qualquer medida autoritária e aberrante que o Supremo
tem tomado nos últimos meses. Seria, por isso, uma derrota terrível da nossa
democracia, e uma vitória do monopólio das virtudes dos tais credenciados dos grandes veículos corporativistas.
E caso Allan dos Santos esteja
dizendo a verdade e seja maduro o suficiente para dizê-la, apenas, munido de
provas cabais, isso significaria uma escândalo jurídico sem precedentes,
envolvendo escândalos diplomáticos, a segurança nacional e a nossa suprema
corte. Não seria apenas uma bomba jornalística e sim uma ogiva nuclear em nossa
combalida democracia.
E assim terminamos a
semana... Uma cartada pesada que prenuncia um mal. De minha parte, ao som reparador de Frank Sinatra.
Seja qual desfecho tenhamos, nossa democracia perde. E assim é a política brasileira.