Dor e esperança
*Por Ana Dubeux
Entender
que não temos o controle sobre nada talvez seja a lição mais importante desta
pandemia. A compreensão do quão pequenos somos diante do imponderável talvez
ajude a deixar menos latentes as dores diversas. A maior grandeza, agora, é
reconhecer as fragilidades, aceitar as condições adversas impostas, como o
distanciamento social, e lutar contra os sentimentos ruins. Reinventar as
próprias estruturas e buscar meios para superar tristezas, saudades e
dificuldades de todo tipo, como as financeiras, são as competências desta época
de crise. Todo dia é preciso acordar e dizer a si mesmo: “Saia do chão, bora,
levanta!”.
Como dizer a uma mãe de 102 anos, lúcida,
ativa e leitora assídua de jornal que a Covid-19 levou seu amado filho? Esperar
que as coisas cheguem até ela de forma mais segura, aconchegante e leve é o que
nos resta. De que forma dar a notícia para uma legião de fãs que o corona calou
a voz de um queridíssimo locutor? Como comunicar a morte para irmãos e amigos
de um homem saudável, de apenas 60 anos, tragado em apenas cinco dias?
Falar de finitude durante seis meses é uma
tarefa hercúlea e dolorosa mesmo para jornalistas acostumados a noticiar
tragédias. Por aqui, temos tentado contrapor tantas histórias tristes com a
trajetória de luta, abnegação e esforço pela vida. Levar e compartilhar todo
tipo de informação a respeito da pandemia da covid-19, inclusive boas práticas
e exemplos positivos de quem lida com a crise, tem sido uma forma bem-sucedida
de aliviar o sofrimento. Afinal, estamos narrando a história de nosso tempo. E
ela é complexa, capaz de mudar nossas estruturas, nossa forma de viver a vida
ou de encarar o mundo. Será preciso olhar para tudo, e sobretudo para o outro,
de maneira mais humana e empática.
Somos testemunhas e porta-vozes de um período
trágico da nossa história. Na série No front, falamos daqueles que estão na
linha de frente do combate ao coronavírus: médicos, enfermeiros, bombeiros,
terceirizados da limpeza, etc. Também contamos a iniciativa linda de um grupo
da Universidade de Brasília, em parceria com o Correio, para escrever cartas a
profissionais de saúde. Mostramos, numa série sobre mobilidade, os impactos que
o vírus traz para o transporte urbano. Em outra série (Força, Brasília!),
falamos de empreendedores que se reinventaram para sobreviver a uma guerra
sanitária sem precedentes.
Enquanto alguns tentam colocar os meios de
comunicação na berlinda para livrar a própria pele e ocultar a própria
irresponsabilidade e o descaso diante da vida de tantos, estamos aqui narrando
o dia a dia de um mundo assolado por um vírus voraz, capaz de destruir até
nossa capacidade de sonhar com dias melhores. Esperamos, em breve, dar as
melhores notícias dessa época: a descoberta de uma vacina eficaz e acessível a
todos. Até lá, viveremos com a incerteza e com alguma esperança.
(*) Ana Dubeux –
Editora-Chefe do Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog-Google