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A LIÇÃO DE UM REI (Coluna Victor Dornas)


*Por Victor Dornas 

A politização do caso George Floyd, bem como os sucessivos incêndios e mortes provocadas pelo movimento “Black Lives Matter”, dentre elas o assassinato de uma criança de oito anos, transformaram a discussão racial num tema mais pesado ainda do que de costume. Todo caucasiano que opina sobre isso com criticismo automaticamente é posto como um algoz e a politização tem como principal intento de ensejo as eleições americanas em novembro.

Até a autópsia de Floyd virou motivo de controvérsia, já que o governo diz uma coisa e médicos particulares dizem outra, sendo que o policial em questão tinha na ficha mais de dezoito inquéritos disciplinares, ou seja, para o movimento, ainda que Floyd tivesse morrido infartado ou por complicações por uso de entorpecente, o agressor deve ser culpado, por ser racista.

Há quem enxergue que é necessário esse tipo de insurgência violenta, na velha fábula de que os fins justificam os meios. Nesta coluna, todavia, prega-se outro caminho, o do meio. Todo movimento de minorias deve ser superado a partir da reflexão sobre os estigmas sociais para destruir a generalização da perversão. 

No caso dos direitos civis das mulheres, identificou-se nos homens uma aliança para sedimentar como abjeta a diferenciação de certos privilégios, como, por exemplo, a ausência de mulheres na política, enquanto algumas compensações, como auxílio maternidade, foram mantidas. Em outras palavras, quebrou-se, com alguma primazia, o preconceito de que todo homem seria antipático à mudança para, assim, no debate, desenvolvermos laços de mútua cooperação e avançarmos.

A politização, hoje, faz o oposto e reforça o choque de estigmas sociais exaltados.

Nesse debate, sempre reforço a importância da cultura na formação de caráter das pessoas. Não que deva haver uma cota imposta ao roteiro, como se vê hoje nas séries da Netflix em que a presença de homossexuais e negros é claramente panfletária, feita de uma maneira estúpida onde se percebe a mão do produtor pesando demais no roteiro da obra. 

Mas é fundamental que grandes papéis, inspirados com inteligência, sejam dados a negros, com o devido protagonismo, inclusive reforçando conquistas da cultura de etnias negras e personalidades também. Quando isso acontece, o expectador não se sente manipulado na politização e passa a adorar essas "personas" interpretadas por atores negros de um modo natural ou autêntico.

Quem não se lembra, por exemplo, do presidente Palmer, da série 24 horas, uma série onde a maioria era formada por atores caucasianos, mas o presidente, uma figura imponente de 1 metro e 94, intelectualmente sedutora, roubava toda a cena? Uma baita representação da cultura negra, saudoso Dennis Haysbert. 

Mais recentemente, no universo de super heróis onde a maioria também é caucasiana, brilhou a figura do Pantera Negra, um personagem que já era muito querido nos quadrinhos da Marvel, mas que causou uma comoção mundial nas telonas ao protagonizar um filme arquitetado nos moldes do Rei Leão da Disney, onde a disputa pelo trono numa cultura incólume em relação aos modos do imperialismo exaltava as qualidades humanas. 

O protagonista, interpretado por Chadwick Boseman, encantou todas as plateias.

Pois bem, descobriu-se que o ator secretamente lutava contra um câncer maldito e teve sua vida abreviada aos 43 anos. Lutou em silêncio e na discrição fez mais ainda do que nas telas, ajudando pacientes da mesma doença, inspirando amor e esperança por onde passou. Chadwick interpretou muitos papéis que valorizavam as conquistas raciais, como o primeiro jogador de baseball negro ou vivendo até mesmo o gigante James Brown.

O ator tinha aspirações maiores como diretor, porém sua morte nos privou de testemunhar essas realizações. Ainda assim, Chadwick deixou uma obra tão bonita, de modo que nenhum movimento politizado seria capaz de promover. Todo expectador que viu e compreendeu o seu trabalho, seja no cinema ou em séries, não importando a etnia ou cultura, guardou no seu coração uma memória ou um vislumbre de um mundo verdadeiramente mais belo, onde as culturas não tivessem tanta dificuldade em coexistir e não se permitissem descer tão baixo.

Chadwick morreu como uma unanimidade, feito conquistado por raros heróis. Deixou mais um exemplo de como a questão racial deve ser vencida: Na inteligência.



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.

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