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Covid-19: A cura está no respeito

A cura está no respeito


*Por Ana Dubeux


Testei positivo. Entrei para uma lista que soma mais de 32 milhões de pessoas com covid-19 no planeta. Ou seja, sozinha não me sinto. Estou bem. Também estou serena. E, acima de tudo, consciente de minhas responsabilidades, do meu compromisso com o próximo e da minha solidariedade, do meu respeito com todos os que, há sete meses, estão na linha de frente do combate à doença. E aos que, como eu, saíram e saem todos os dias para trabalhar, mesmo quando as medidas de isolamento eram mais severas.

 

Com todos os cuidados, distanciamento e uso de máscara, peguei o vírus. E estar à prova dele, com o corpo em combate, só me torna ainda mais firme na única posição possível neste momento. Estou num lugar de empatia com o mundo; com o outro. Não há casa mais confortável do que a partilhada. Sou parte de um todo, de um conjunto que alguns preferem chamar de infectados, de rebanho, de imunizados — ainda que sejam nomes figurativos para classificar quem tem ou teve covid.



Sou um número, sou uma palavra, mas sou, também, acima de tudo, uma pessoa que respeita. Desde o início, o compromisso com a informação não me permite ignorar a ciência. Respeito as medidas de proteção e prevenção. Respeito médicos, enfermeiros, auxiliares, policiais, bombeiros, motoristas... Tantos são essenciais... Respeito os doentes e os enlutados. Desde sempre, comungo de uma genuína irmandade, manifestada em prece e sentimento, com todos aqueles que perderam parentes próximos e lutaram contra a doença. Respeito o poder do vírus, que já marcou o ano de 2020 e todos os outros anos que virão daqui para frente. Ao menos, para mim, que nunca ignorei os riscos.



Hoje, tenho muitas reservas, em especial aos governantes e aos falsos cidadãos. As meias-verdades, as frases de efeito, a manipulação dos números, a submissão ao sistema que oprime, o roubo descarado do dinheiro público, a falta de direção do governo federal, a mesquinhez do mercado, o negacionismo, as fake news, o crime de omissão eterna contra o meio ambiente... São tantas as coisas que me causam hoje asco e repugnância.



O coronavírus não foi, não é e nunca terá sido uma “gripezinha”. A pandemia não passou, não é passado. É presente e será futuro. Podemos conseguir uma imunidade maior, podemos liberar leitos nos hospitais, podemos ver caindo as mortes, podemos voltar a ter carnaval e fogos no réveillon.



Mas, ainda assim, as consequências da pandemia já são um legado para o mundo. Saudades, falências, crises pessoais e profissionais, desemprego, depressão e tantas outras experiências difíceis. Uma nova ordem mundial se avizinha. A cura que eu espero e que eu avisto, para mim e para o mundo, passa por respeito. Conto, também, com suas preces.



(*) Ana Dubeux – Editora-Chefe do Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog-Google

 


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