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EDU FALASCHI: UM EXEMPLO DE VIDA (Coluna Victor Dornas)

Por Victor Dornas

Ainda me recordo e provavelmente não esquecerei jamais dos primeiros dias da eclosão da pandemia de COVID19, quando a maioria não conhecia ainda o potencial destrutivo do vírus em termos de velocidade de alastramento. O surto que acabou matando no Brasil mais de 3 vezes do que a gripe espanhola (sopesadas as diferenças brutais de demografia) ainda era indevidamente desprestigiado, mas tão logo recebi a notícia de que meu ingresso adquirido para o espetáculo do novo disco de Edu Falaschi, a alma da eterna banda Angra, havia sido cancelado e que o estorno seria feito.


Fiquei triste pois sei que o momento era especial para Edu.


Muitos não sabem da história do cantor, mas Edu sofreu daquilo que a maioria dos brasileiros mentalmente saudáveis sempre sofrem, isto é, de ansiedade com pitadas de depressão. Digo isso, pois, neste país, quem não conhece essas coisas certamente é por falta de empatia, ou por viver como um alienado noutra dimensão existencial. No Brasil, o sofrimento é um imperativo para quem tem mais de dois neurônios.


Um dos fenômenos mais intrigantes e de difícil assimilação científica na psicologia são os chamados efeitos psicossomáticos, ou seja, reações fisiológicas causadas por transtornos na mente. Isso aliás foi o que motivou Freud a dar seguimento aos estudos de outros médicos no estudo do inconsciente analisando um quadro bastante comum da época, a chamada histeria. A histeria, aliás, embora seja erroneamente associada `mulheres, também acometia homens, principalmente aqueles que voltavam das guerras. Nos quadros psicossomáticos, o medicamento acaba frustrado pois quem macula ou restringe o corpo é a própria mente.


Então Edu somatizou suas questões na forma de dermatites e no refluxo gástrico, de modo que a queimação maltratou as cordas vocais. Edu ainda tentou seguir como líder da banda, mas as críticas severas que identificavam a queda de rendimento acabaram piorando o problema. É justamente nisso que eu gostaria de entrar um pouco mais fundo.


Edu é uma estrela, não um fenômeno circunstancial. O talento faz com que a pessoa brilhe como uma estrela, ainda que ninguém a conheça. É inato, como uma força da natureza. A banda Angra certamente deixou saudade e marcou uma geração, porém não conseguiu o respeito devido, em termos de consagração inclusive, nos grandes veículos de mídia. Apesar de ser uma banda muito famosa, o talento sobretudo de Edu, que acabou deixando os palcos por conta dos problema referidos, são dignos dos maiores destaques.


O grande problema: Um país estúpido não cultua o Rock.


O problema não é o Edu, que é uma estrela independentemente de gosto. O problema é o baixo nível que chegamos nesse país. Assim como na economia há o famoso índice Big-mac, o sanduiche que é vendido em todo lugar e por isso serve de parâmetro para medir o potencial aquisitivo de povos dos mais diversos, na cultura existe também o índice Rock n’roll. Quanto menos de ouve rock, mais estúpido é o povo. Simples assim, sem melindre.


Semana passada, por exemplo, um marginal que talvez não tenha alcançado sequer a maioridade gravou uma “música” falando de drogas, de redes sociais, numa melodia praticamente inexistente, sem qualquer esmero e o resultado? Mais de 2 milhões de “views”. Nessas horas sempre aparece algum maestro ou músico de esquerda para enaltecer essa porcaria, afinal de contas, o coitadinho faz música com aquilo que ele tem. O autodidatismo de um Machado de Assis pelo visto não serviu para nada neste país.


Então é por isso que bandas como o Angra acabam restritas a nichos específicos enquanto gente que fala de bunda, drogas e sei lá mais o quê, tornam-se os epicentros dos holofotes e são, inclusive, chamados pela mídia progressista para darem pitacos sobre política. Uma dessas aí, que não merece nem a citação do nome mas que é dona do trono da bunda do Brasil outro dia estava debatento sobre Amazônia sem saber a diferença entre o Senado e a Câmara.


O vírus me frustrou da apresentação do Edu, porém já tive o prazer de vê-lo noutras ocasiões, inclusive numa canja num bar de qualidade do Sudoeste. Apresentação inesquecível.


Edu retorna com um novo disco para tentar levar seu som para mais gente, lembrando canções do Angra e também trazendo novas faixas autorais. Superou seus fantasmas existenciais, uma vez que médico nenhum conseguiu resolver os problemas de refluxo e asma com fármacos, e agora se diz feliz, pronto pra rodar por aí divulgando um Rock de primeira.


Um dia nosso país talvez cultue mais o Rock.  E estrelas como Edu sejam postas no topo, onde sempre mereceram estar.


 

(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.


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