Por Victor Dornas
Há apenas um lugar onde Sérgio Moro poderia tecer suas críticas com o impacto almejado, porém trata-se de um lugar atualmente quase inalcançável ao ex-juiz, ou seja, na toga. Quando desistiu da magistratura sob o augúrio de que alçaria ares maiores, Moro não percebeu que no jogo político as coisas raramente funcionam como deveriam, isto é, não se tem mais o controle acerca daquilo que se imagina como sendo o bom senso. Moro então diminuiu e inclusive se tornou um alvo mais vulnerável de maneira que a própria família suplica para que deixem de vez o país.
Parte
disso tudo é culpa dele próprio, vale notar, pois não é todo dia que um
ex-deputado de baixo clero aliado a Ciro Nogueira e Davil Alcolumbre como Jair
Bolsonaro unifica dois ministério e dá de bandeja para um juiz que goza de
tanto prestígio social. Moro queria mais do que
dois ministérios integrados.
Moro queria a decência.
Na política, raramente
há decência. Vejam por exemplo o caso dos indicados mais recentes por Jair
Bolsonaro. Um deles, indicado ao Tribunal de Contas da União, num cargo dos
mais técnicos que se pode imaginar, onde pessoas para integrarem até mesmo os
cargos mais baixos como de auxiliares ou maiores como analistas empregam anos
de esforço tremendo, foi indicado por Bolsonaro por ser amigo da família. O
sujeito é filho de um delegado aposentado e amigo de Bolsonaro, prestou exame
para Ordem recentemente não sabe sequer o regimento do órgão.
Não duvidem,
aliás, da alta probabilidade de ser o segundo indicado ao Supremo por preencher
dois dos requisitos que Bolsonaro, o alucinado, acha necessários. Ser amigo da
família e ser terrivelmente evangélico. A religião não é prostituída na
política por acaso, aliás. Moro não sabia de nada
disso e não soube também como dar sua cartada final.
Se o ex-ministro
tivesse saído em discrição, como fez, por exemplo, o Teich, sua imagem apenas
teria crescido. Se tivesse dito: “Estou saindo pois estou abismado com as
declarações do presidente sobre a COVID e também não entendo a indicação da
diretoria da PF”, seria perfeito. Moro se preservaria muito mais do fardo
futuro de ter que criticar um governo do qual fez parte. Ao contrário, sugeriu
um conluio provável e permitiu que Bolsonaro tripudiasse na cara do decano
fazendo comício em reunião sigilosa transmitida em rede nacional.
Não por acaso
as pesquisas corroboram com tudo isso, pois o povo não quer decência e sim um
mito. A ideia de Moro agora,
diminuído como um comentador de notícias no Twitter, é se juntar com o decano
Celso de Mello para exigirem o depoimento pessoal de Jair Bolsonaro, agora um
tanto desgastado por assumir à luz do dia que é um presidente do centrão e dos
miseráveis, no estilo PP de fazer política, ou seja, um Lula aperfeiçoado na
arte de construir um projeto de poder ancorado no populismo e na política baixa
de subsídio estatal que aliena as massas.
O resultado? Não se
sabe, porém possivelmente mais um comício de Bolsonaro, para delírio de seus
entusiastas que depositam sua frustração existencial na figura do mito. Moro então erra, erra
novamente e continua errando. Talvez a família tenha razão e o melhor seja sair
de vez do país, ou quem sabe, caso ainda haja no ministro o devido brio, ainda
que seja por orgulho ferido, talvez o ex-juiz queira ir para o tudo ou nada,
adentrando de vez na celeuma política.
Se for o caso, registro desde já o meu
humilde e insignificante apoio, pois apesar das críticas que não ouso me
furtar, entre Moro e o centrão, certamente opto por Moro. Porém para entrar na
política Moro precisaria antes de tudo reconhecer que é um universo estranho onde
as leis da física não operam da forma como nos ensinam na escola. As leis da física na
política operam como ensinado na escola Decotelli!
Ou seja, aqui a pipa
empina do menino e a banana descasca o macaco.
Se Sérgio Moro reconhecer que o
sofisticado no Brasil não tem vez e decidir chutar a porta, deixo meus sinceros
votos de sucesso. Caso escolha deixar o país, também desejo ao eterno juiz tudo
de bom. O que talvez não seja tão eloquente é a opção pelo meio termo, ou seja,
numa figura tímida que se restringe ao esgoto da internet para opinar sobre o
antigo patrão. Não, não!
Deixo ressalvado desde
já que talvez Moro tenha ainda uma carta na manga e por isso insista tanto na
ideia de Celso de Mello de tentar constranger Bolsonaro na tal oitiva. Não se
sabe ainda o que Moro de fato sabe, embora nada tenha provado devidamente até então. A indicação do comando
da PF é prerrogativa legal. É tão indecente quanto a indicação ao TCU do
Jorginho amiguinho da família, ou de Kassio, pós-graduado em cara de pau, ao
Supremo. Gente muito poderosa manda nesse governo, mas sabem como ninguém
explorar a lei.
Os advogados mais conhecidos de Brasília estão por trás de Kassio
Nunes. Não se brinca com gente
assim. Avante, Sérgio Moro. É hora de lutar! É hora de mudar...